quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Jeudi

written by Larissa Rainey at 17:06 0 comentários.
O momento se perde, se fragmenta em mil pedaços pelo chão. O coração chora, estremece com a visão dos pedacinhos espalhados. Eles não deveriam estar espalhados - é contra a ordem. Aqueles gritos são contra a ordem do mundo. Do seu mundo. Aqueles gritos, aquelas palavras duras que saem daqueles lábios. As palavras poderiam ser um pouco mais suaves, mas não são. Nunca são. Se o coração pedir por delicadeza, por um momento de compreensão, recebe exatamente o contrário. Recebe gritos. Recebe falta de tato. E o coração não vive sem tato. Mas ele tem que continuar. Precisa continuar pulsando, caso contrário ela morre. A pessoa que tem o coração não pode morrer. Não que ela não queira, de vez em quando. Mas a necessidade é maior. Então, ela recolhe cada pedaço do momento que se perdeu. Aproveita a viagem e recolhe os pedaços do coração que se partiu com cada grito, invariavelmente. Consegue colar tudo de volta, no lugar certo. Sente-se orgulhosa. Ama a si própria, não precisa mais do amor daquela que lhe deu a vida. É livre, é poderosa, finalmente livre! Não precisa mais ser amada - o amor que sente por si mesma basta.

O dia termina, e outro começa. 

Com o outro dia, exibe seu bom humor. Seu amor próprio. Faz as coisas que lhe apraz, tendo apenas pensamentos leves. Pensa que alguém ficaria orgulhoso, ou ao menos, feliz com sua mais nova conquista. Mas não. Não ouve nada, além de gritos. A felicidade se perde, se transforma num mero momento, num mero segundo num dia de 24 horas. As coisas que ama são subjugadas pela outra, que crê ser melhor. E ela vê os fragmentos no chão... e se odeia. Maldito ciclo!
 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos