sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

#8 - Vintage

written by Larissa Rainey at 21:10 1 comentários.

     Escrever estas palavras requer um esforço tão grande, meu amor. Perdi a conta de quantas folhas já amassei e joguei fora. Perdi a conta de quantas lágrimas mancharam minhas frases. Perdi a conta de quantas vezes pensei que fosse enlouquecer. Mas, querido meu, não enlouqueci – ainda não! E estou certa de que quando o farei, mal perceberei.
     Minha imaginação te pinta das mais variadas cores. São vermelhos, azuis, verdes, púrpuras, amarelos. Tão vivos quanto tua alma. Entretanto, as cores não são o suficiente para o meu coração. Sempre que pinto uma imagem mental tua, meu coração se rebela. Nunca é o suficiente. Detalhes de teu corpo que não estão tão nítidos, uma nota na tua voz que parece distante demais. Minha pobre mente não consegue conjurar uma imagem que dê jus a tua existência. E então me perco em mais memórias, mais pequeninos fragmentos que deixem tua imagem mais forte. És um quebra cabeça... sempre com uma peça faltando.
     Penso na minha vida antes de ti. Penso na menina calada e subserviente que eu costumava ser. A menina tímida que esperou a vida inteira pela tua presença, mesmo sem te conhecer ainda. Sempre quieta, sempre com as palavras adequadas nos lábios. O brilho falso nos olhos, a estúpida modéstia, os movimentos vazios, a música sem vida.
     Lembro-me da primeira vez que te vi. Pensei, por um instante, estar morrendo. A menina morreu no mesmo instante que te vi. Mataras a menina... e não foi crime algum. 


(escrito em 21 de dezembro de 2011.)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

#7 - Lembretes

written by Larissa Rainey at 21:50 0 comentários.
(juro que tentei achar a fonte dessa imagem, mas só achei vários tumblrs e nenhum deles dizendo qual era o fotógrafo. se alguém souber, favor me avisar.)


Eu gosto de ser constantemente lembrada, antes de sair de casa, de todas as precauções que devo tomar. Deixar o celular pouco visível, a carteira bem guardada, a bolsa bem fechada e não deixar muita pele à mostra. Porque, é lógico, não se pode confiar em ninguém e tenho certeza que a mera visão das minhas belíssimas pernas transparentes desnudas são estonteantes. Essa visão é tão poderosamente excitante que qualquer pessoa deixaria sua racionalidade de lado e tentaria me violentar. Claro, esse é meu poder enquanto mulher. Ser  interpretada como sexual mesmo quando eu só esteja morrendo de calor, embaixo de um sol de quase quarenta graus num ônibus lotado. Talvez eu só queira um pouco mais de conforto. 
Eu gosto de ser constantemente lembrada que se a minha blusa está decotada demais, pouco importa o que eu estou falando - eu automaticamente sou desvalorizada. Seios são belos, ponto final. Mas eu também sei que o meu decote não desvaloriza a minha mente. O que eu leio, o que eu escrevo, o que eu penso, o faço com o cérebro - e não com os meus seios. É uma pena que você me lembre que o tamanho do meu busto tão ocasionalmente faça com que as pessoas pensem coisas equivocadas à meu respeito. Talvez aquela bela mulher que conseguiu uma posição de prestígio dentro de uma empresa seja fascinante e inteligente, e não apenas bonita. E se eu escolho mostrar o meu corpo, significa que eu o amo. Que apesar de todos os esforços para que eu o odeie, eu o amo. Eu o celebro em sua plenitude. Não tenho vergonha dele.
Eu gosto de ser constantemente lembrada que eu preciso estar impecável o tempo inteiro. Me maquiar e me vestir de acordo com o meu humor não é desculpa - e que se o meu parceiro me trair, a culpa é minha por não me vestir feito a Dita von Teese diariamente. Eu gosto de ser ensinada desde pequena a observar todos os pontos negativos do meu corpo, apenas para aprender a realçá-los na vã tentativa de conseguir um marido. Me vestir para me expressar? Para descobrir a minha personalidade através das roupas? Para mostrar que me identifico com alguma estética? Se estas coisas não envolvem atrair um homem, seus esforços serão inúteis.
Eu gosto de ser constantemente lembrada que é meu dever enquanto mulher saber limpar a casa com primor. Não por ser uma pessoa que eventualmente terá que fazer a limpeza, e sim por um dia ter que dividir esta casa com um homem e que ele cobrará de mim pisos limpos, louça bem lavada e lençóis cheirosos. Eu gosto quando minha mãe conta a história de "uma mulher prestes a se casar com um homem rico e que foi passar uns dias na casa da família deste homem. A mulher mal ajudou as outras mulheres com os afazeres da casa, e por isso o homem resolveu terminar o relacionamento". 
Eu gosto de ser constantemente lembrada que se eu resolver fazer sexo com vários homens, posso ser considerada uma vadia, e que meu valor como ser humano é diminuído por causa disso. Se eu decidir não fazer sexo, alguns desses homens poderão ficar absurdamente "inconformados" e até serem violentos comigo - fisica ou verbalmente. E se eu nunca fizer sexo com ninguém e nunca sentir desejo de fazer sexo, serei considerada uma frígida pudica. Não importa qual caminho eu deseje seguir, sempre haverá alguém que condene as minhas atitudes. 
Mas o que eu mais gosto é de ser constantemente lembrada que existe gente que pensa diferente e que luta para que as coisas não sejam mais assim. São esses os meus lembretes favoritos.


Top 10 - Leituras de 2012

written by Larissa Rainey at 12:45 3 comentários.
Essa é a prateleira de livros do meu quarto, em cima da minha cama. O resto dos livros estão no armário ao lado (bagunçado demais para ser exposto) e logo fico sem espaço pra eles hehehehe.

2012 está chegando ao fim, e com isso resolvi fazer algumas retrospectivas. E nesse post vou contar pra vocês os 10 livros que eu mais gostei de ler durante esse ano. Claro que eu só lembro dos livros que li porque mantenho a lista no listography, caso contrário eu teria sérias dificuldades. Minha memória não colabora tão fácil assim.
Enfim, vamos ao que interessa: livros!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

#6 - Passado e pretensão

written by Larissa Rainey at 20:34 4 comentários.

Compreender os fatos da vida não é uma leitura muito fácil, e nem muito indicada para qualquer humor. Alguns capítulos são extremamente problemáticos, cansativos, com imagens borradas e fora de foco. Mas eu gosto de relembrar. Gosto de rir dos meus antigos problemas, de reviver as risadas, abraços e beijos. Minha sensação favorita é a de sentir completo orgulho por continuar superando, dia após dia, esse obstáculo exaustivo a que chamamos de existência.
Em 2012, li mais do que li em outros anos. Acho que finalmente estou consciente da magnitude que é a experiência da leitura. Também foi o ano em que a minha escrita evoluiu, estou mais confiante  e ao mesmo tempo mais exigente. Pessoas entraram e saíram da minha vida, e posso dizer que isso me trouxe uma paz enorme. Alguns laços se desfizeram, outros estão recém-feitos, outros mais fortes. Descobri que sou capaz de amar, e essa habilidade está me surpreendendo. Me livrei de hábitos ruins. Dos pensamentos, nem tanto - mas posso dizer que estou cada vez melhor. Estou um pouco mais certa do caminho que quero trilhar profissionalmente - apesar dele não estar funcionando muito. Aprendi a me proteger e a falar o que penso - mas veja bem, estou ainda em desenvolvimento nisso. É difícil conversar sobre meus sentimentos, por mais que eu esteja acostumada a escrever sobre eles. Também estou me construindo enquanto mulher, enquanto amante e aprendendo a ouvir os meus instintos mais primitivos. Na verdade, eu sei ouvir, domar é que é um problema. Claro, estou me tornando cada vez melhor em lidar com respostas negativas. Sou quase a rainha das decepções. E viajei, depois de tanto tempo. Foi uma viagem curta que me ajudou a espairecer, tanto na mente quanto no coração. Vi em carne e osso pessoas que são mais do que queridas na minha vida, cujas  palavras me aqueceram tanto. Ouvi muita música, conheci cantores e bandas que se tornaram a trilha sonora perfeita para um ano tão turbulento. Também presenciei o completo afastamento de uma pessoa que causou uma quantidade absurda de mal a mim e a minha família - uma das vitórias deste ano. Consegui ter a paciência necessária para deixar meu cabelo comprido. Eu me envolvi com a minha própria vida e a vivi intensamente esse ano. Finalmente fiz jus ao fogo que sempre esteve ao meu redor.
Eu amo o número 13, então espero muitas coisas boas. Quero colocar meus lados de lado e aprender a dirgir - um pouco mais de liberdade não machuca ninguém. Eu vou arranjar um emprego e fazer o meu melhor nele, para crescer e aprender. Vou ler ainda mais e deixar minha mente cada vez mais afiada. Quero entregar um trabalho de conclusão de curso extremamente bom e que me deixe orgulhosa. Quero viver cada vez mais leve e livremente, sem as amarras que tanto me prendem. Quero ser mais paciente, mais dócil comigo mesma. Quero terminar de escrever The Wandering Children, ou pelo menos terminar o manuscrito para poder editá-lo e poli-lo em paz. Quero continuar amando - se são amigos ou amantes, pouco importa. Quero que minha intuição e sabedoria me apontem sempre para a direção que eu devo estar. Quero cuidar melhor do meu corpo para que a minha mente funcione ao máximo. Quero abraçar o desconhecido. Quero que o meu sorriso esteja cada vez mais presente. Não quero temer a tristeza e os tempos difíceis - eles virão, e virão com força. Quero aprender a falar uma nova língua, ou várias outras. E, por fim, quero continuar imaginando.


(adaptado do meme  de "15 coisas que fiz/15 coisas
 que quero fazer" que a Celle e a Aline fizeram. :3
E gostaria de dizer que li e vi O Hobbit, resenhas algum dia.)




terça-feira, 25 de dezembro de 2012

#5 - Azul

written by Larissa Rainey at 18:39 1 comentários.
(essa é a sua trilha sonora para ler esse texto)

A agitação que começa quieta e paciente logo se torna apressada, como uma injeção de adrenalina que demora para fazer efeito. Como se cada veia tivesse sua própria melodia, e quanto mais rápido o coração bombeia o meu sangue, mais rápida a melodia se torna. Violinos fazendo seus solos impressionantes dentro de um só corpo. 
Em algum dia da minha existência, eu era perfeitamente comum. O tempo era uma progressão linear que corria sem andar para trás. Durante esses dias, eu apenas olhava para o céu imaginando estrelas em constante explosão - mas meus devaneios nunca duravam muito. Eu não tinha tempo para isso.
Mas em um dia, tudo mudou. A injeção de adrenalina que finalmente faz efeito. Simplesmente pegaram a minha mão e me disseram que eu deveria correr. Enquanto eu observava os olhos daquele que dava as ordens, eu  vi o inexplicável. Olhos que eram tão  velhos com um brilho completamente novo. Como se fosse uma criança a desvendar um mundo totalmente novo.E eu corri. A música do violino ficava mais rápida e antecipava um desfecho que eu jamais esperaria. 
Depois desse dia, eu nunca mais parei de correr. O tempo não significava nada. Para aqueles olhos, o tempo era seu brinquedo favorito. E  como explicar todas as coisas que se passaram? Se eu contasse, quem iria acreditar?
O universo é grandioso, meu caro. Grandioso demais para nós, humanos, entendermos a preciosidade dele. Eu vi a amizade ser mais forte do que a ambição, vi impérios inteiros virarem as contas à menção de um único nome, vi histórias de amor resistirem aos contorcionismos do espaço, vi mundos inteiros serem salvos. Passeei entre as estrelas, meu cabelo brilhando em meio à escuridão. Eu presenciei o inexplicável desenrolando-se na minha frente. E eu nunca parei de correr em direção ao único tom de azul que eu realmente amo.
Somos todos doentes, meu caro. Por isso, todos nós precisamos de um Doutor.


(só pra comemorar o episódio maravilhoso de hoje.)



segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

#4 - Fantasmas

written by Larissa Rainey at 18:07 0 comentários.
     circus team por ~Naimane

Acumulo fantasmas à medida que prossigo com a minha vida. Olho meu reflexo no espelho e sei que nunca estou sozinha. As olheiras que indicam longas noites com pouco sono, a pele pálida que não vê muito o sol, as bochechas mais preenchidas com quilos extras. Mas em algumas noites - aquelas que normalmente são acompanhadas de olhares úmidos, meus fantasmas tomam corpo e personalidade.
O primeiro deles - uma linda mulher de sotaque francês, senta-se na cadeira ao lado da minha cama. Toma um martini extrrremante seco, como ela diz, e me conta todos os seus segredos e sua vida nem tão maravilhosa assim. Já brigamos muito, eu e ela. Ela, quase sem rodeios e  timidez, conhece a minha ruindade e o meu egoísmo. Mas também conhece o meu amor, a minha esperança, e a minha criatividade que surge nos piores momentos. Ela é mais ausente, nesses últimos anos. Apenas passa para tomar um drinque e contar vantagem. Eu não ligo.
O segundo fantasma também é uma mulher, mas completamente diferente da anterior. Ela prefere deitar ao meu lado na cama, sussurrando baixinho letras de música. Costumo pensar que, se todas as músicas que eu amo se tornassem um ser humano, seriam ela. Eu gosto da maneira com que ela cantarola grandes solos de violino. Ela gosta do meu cabelo, e faz questão de mexer nele até que eu durma. 
O terceiro fantasma não é meu. Foi adquirido, em uma das vezes que me apaixonei. É um homem de olhos muito escuros e impenetráveis. Penso que ele não é um fantasma, e sim uma sombra. Mal se vê que ele entrou em meu quarto... só o vejo quando a chama do ódio inflama o meu corpo - e é o fogo que o ilumina. 
Sem os meus fantasmas, eu não sou ninguém. 

domingo, 23 de dezembro de 2012

#3 - Surpresas diárias

written by Larissa Rainey at 18:39 0 comentários.
Serendipity por nikki jane.

Ah - aí está você novamente. Com seus olhos passeando de um ponto a outro, o peito fazendo a coreografia da sua respiração. Eu peço, encarecidamente, que você esqueça o mundo ao seu redor e se concentre no que eu tenho a lhe dizer. Você não pode pegar na minha mão porque estamos muito longe, mas preste atenção em mim. Só tenho essas palavras no momento - confie nelas ou vá embora.
A cada momento, algo fantástico e surpreendente está acontecendo. Não necessariamente na sua vida, mas o universo é tão imenso... Maior que tudo. Você realmente acha que ele fica estagnado? Não. Essas surpresas não nos tocam, apesar de existirem. Enquanto estamos aqui - eu escrevendo, você lendo - algo incrível acontece. Algo incrível faz com que milhões de pessoas façam coisas extraordinárias. Seja estender a mão para alguém que precisa de ajuda, seja abraçar uma pessoa carente de amor, seja contar algo engraçado para fazer o outro rir. Em algum canto do planeta, alguns humanos provam que é possível sim ser importante e gentil. A vida não é perfeita, mas momentos bons são como diamantes que não podem ser comprados.
Qual foi a última vez que alguém disse algo que aqueceu o seu coração? Qual foi a última vez que você olhou as fotos que tirou com os seus amigos e pensou, "como eu amo essas pessoas"? Se faz tempo, que isso fique de lição de casa.
E nunca perca a esperança. Não seja uma daquelas pessoas que passam a vida inteira reclamando, resmungando, que não admitem receberem amor, que não sabem o significado  de um elogio verdadeiro. Também não se cerque de pessoas assim - elas são absolutamente insuportáveis e só servirão para te lembrar que a vida é ruim e pessoas são nojentas. Mas ninguém precisa de lembretes assim - basta olhar para o lado. 
Seja surpreendido diariamente. Construa pontes, e não castelos. A serendipicidade só beija aqueles que seguram sua mão.


sábado, 22 de dezembro de 2012

#2 - Páginas em branco

written by Larissa Rainey at 22:26 0 comentários.
Open book. por Carson Ting.

Escrever é respirar. Para mim, é impossível suportar uma existência inteira sem me expor a uma página em branco. A cada vez que a encaro, também encaro a completa escuridão. Mesmo que a luz esteja ao meu lado, iluminando a ponta dos meus dedos, sempre há a escuridão. Não existe pureza nenhuma em minha luz - esta é sempre esfumaçada com nuances mais escuras. Estou acostumada a essa gentil troca de energias que pertencem apenas a mim. Dos cantos do meu coração saem diversas tonalidades, todas minhas. 
Mas de vez em quando eu gostaria de ler palavras que não pertencem a mim, apenas para variar um pouco. Uma suave troca de sílabas e sinais de pontuação. Prefiro a gramática mais agressiva para atingir um clímax fictício.
Então escreva-me uma linha, talvez duas, talvez um parágrafo inteiro. Me dê um beijo de despedida entre as linhas do seu caderno. Conjugue-me da maneira que achar melhor. Troque meus tempos, use os pronomes errados. Sempre quis andar de mãos dadas com o imperativo. Escreva-me um romance inteiro sobre como você prefere o seu chá, ou escreva-me três palavras num  guardanapo sujo. E caso você se canse de  tinta e papel, escreva um poema na minha pele. Que a sua língua seja a tinta e, por favor, me faça rimar. 
Não me importo com o seu estilo - prosa, poesia, crônica, monografia, letras de música, filosofia de boteco, crítica literária, romance ou peça de teatro. Mas nunca deixe-me sozinha com as suas páginas em branco. Pois se você o fizer, sentirei o impulso pungente de te escrever, com as minhas palavras, nos meus termos. Serei obrigada a pintar um retrato seu com os pigmentos que a minha imaginação produz. Portanto, qualquer coisa que escreverei será apenas devaneio meio - e de devaneio em devaneio, queimei cadernos inteiros com as chamas que dançam dentro de mim.
A ti peço pouca coisa: escreva. Escreva sobre mim, escreva sobre você mesmo, escreva sobre ela ou ele. Mas preencha as suas páginas e me dê um pouco de descanso, por favor.

(adaptado do texto "blank pages")


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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

#1 - Atrasos

written by Larissa Rainey at 20:29 1 comentários.


Tão terrível quanto poderia ser, terrivelmente vil , terrível! Jamais pensei que me veria em tal situação, meu querido. Devo esquecer meus pés e meu cansaço se quero remendar este terrível acontecimento! 
A cada respiração, o relógio dá um tic, depois um tac; tic-tac, tic-tac. Meu coração faz tic, minha mente faz tac. Se fôssemos ponteiros ao invés de humanos - e que coisa maravilhosa seria - eu seria o ponteiro das horas, e tu o dos minutos. Sempre correndo,  nunca parando no mesmo lugar. Sou mais lenta, mais perdida. Espero os minutos correrem por mim. Sou terrível, amado. 
Mas de que adianta conversarmos? O tic-tac nunca pára, e eu estou aqui, irremediavelmente parada. Acredite em mim,  já tentei pegar carona com cometas e anjos, mas eles corriam tão rápido que mal me enxergavam. Coloquei meus pequenos pés para funcionar, e por mais que eles corram, continuo atrasada. Que terrível!
Pois quando finalmente consigo correr e mal enxergar o caminho, perco-me. A paisagem desfocada é desconhecida e inexplorada. Para explorar o desconhecido, deve-se parar e prosseguir com cautela. Parar! Designação de uma ação que eu detesto. Parar é terrivelmente necessário, pois a vida não é um país das Maravilhas e se bem me lembro, me chamo Larissa e não Alice. 
Parada estou. Parada tal qual boneca de porcelana. Absolutamente parada. Mal movo minhas pálpebras. Quando finalmente me integro ao ambiente, o ponteiro dos minutos toca-me sem cerimônia. Recomeçm os movimentos do tic-tac, a dança dos ponteiros que são diferentes mas completam-se a cada 60 minutos. Um segundo de amor absoluto, apenas um segundo. Segundo esse passa despercebido pela imensidão da vida... mas me machuca tal qual punhal envenenado em  minhas costas insignificantes. 
Estou terrivelmente atrasada, meu amado! Atrasada, absurdamente atrasada, para uma data muito importante! A vida clama por mim e não tenho mais tempo para acertar estes ponteiros. 

(peço desculpas por  não ter começado as 30 crônicas no dia 7.   
algum dia consigo ser uma escritora mais produtiva. 
e não se esqueça de curtir a página do blog no facebook
 e colocá-la na sua lista de interesses!
e bla bla bla bla.)


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Acidentes Extraordinários pt.2

written by Larissa Rainey at 00:12 1 comentários.
Ainda não leu a primeira parte? Vem aqui.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Acidentes Extraordinários pt. 1

written by Larissa Rainey at 00:39 1 comentários.
por ~AikaXx
Eu trabalho de segunda a sexta, das oito da manhã até as oito da noite. O contrato diz que eu deveria sair às seis, mas nunca consigo sair antes das sete. Não sei bem ao certo o que faço, pra ser sincero. Meus dias são preenchidos com uma tela de computador suplicando por comandos meus. Digite isso, anexe aquilo, mande e-mails importantes, crie a próxima nova revolução, refaça tudo, salve, imprima, pesquise, colete dados essenciais, faça uma tabela  com esses dados, faça parte de reuniões infindáveis nas quais se discutem todo o seu trabalho, apenas para concluir que tudo o que foi feito não é o suficiente. Fazer tudo o mais rápido possível para fazer a próxima tarefa. Creio que um andróide executa suas tarefas com mais paixão e ardor do que eu.
Se sou alguém importante? Não. Tenho crises de riso apenas em pensar que alguém possa me achar importante. Não passo de um consumidor desesperado, uma boca a ser alimentada, um homem que precisa assegurar ao mundo de que ele é másculo, bem informado, culto e refinado. Toda a minha imagem é construída a partir da necessidade de dizer a todos que sou único. Preciso dos vinhos mais caros, dos queijos mais refinados, do aparato tecnológico mais moderno. Levanto a minha bandeira com orgulho no peito, sorriso no rosto e óculos escuros para esconder o vazio dos meus olhos. Mas não tem problema.  Sou desimportante, entretanto ocupado demais para exasperar-me com a minha condição. Meu Deus é o relógio e o Tempo é minha religião. 
Não percebo as pessoas ao meu redor. Caminho a passos rápidos, segurando minha maleta de couro. Imagino o que pensam de mim enquanto ando pela rua. Provavelmente também não me percebem - sou qualquer um com um terno. Não levanto a cabeça para observar um casal de namorados entretidos em suas carícias, nem para sentir pena da garota sem atrativos físicos que parece chorar ao escrever qualquer porcaria em seu caderno barato. Essas pessoas não significam nada para mim.
Entretanto, não sou de todo um ser antisocial. Tenho uma relação amigável com a minha familia, tenho alguns amigos casuais - para os quais eu me exibo e me escondo. Eu namoro uma garota. Talvez eu tenha dado a ela um anel, mas ele não passa de uma joia. Eu mal toco a pobre mulher. Mas sei que ela é bonita - é o que disseram para mim. Eu sei que ela curte sapatos e bolsas e faço questão de agradá-la com presentes. Mas não é que eu repare no que ela use, e sim porque sei quais marcas ela curte no Facebook. Dois cliques, descubro os novos lançamentos e pronto. É fácil ser um namorado parcialmente atensioso. Não sei dizer que a amo - não sei nem se a amo e não sei o que é o amor. Mas caso ela precise que eu declare esse sentimento, busco frases que outros poetas escreveram para suas amadas. Cruzo os dedos, esperando que ela aceite essas declarações copiadas. Ela aceita. Respiro fundo e sorrio, pois sei que fiz um bom trabalho. E se algum dia nada disso for o suficiente, seremos livres um do outro e fim de história. 
Estava lá eu, atravessando uma rua qualquer -  smartphone em mãos, respondendo algum email. Senti um peso enorme em cima do meu corpo, e caí no chão. Olhei para os lados e vi uma garota com cabelos da cor do arco-íris caída a meu lado. Levantei-me, procurei em minha roupa algum sinal de sujeira. Tudo estava limpo como deveria estar. Continuei  andando, até que a mesma garota berrou meu nome.
Ela era extremamente pálida, de olhos castanhos abertos e brilhantes. Alta e cheia de curvas, seu vestuário era todo preto e justo, salientando seu corpo. Mas seu real atrativo era justamente o cabelo longo, liso e brilhante, exibindo as sete cores do arco íris. Até aquele momento, jamais tinha visto aquela garota antes. Levantei uma  sobrancelha ao ouvir meu nome saindo de sua boca.
"Desculpe, não te conheço", eu disse.
"E você conhece alguém?", ela respondeu. Ela parecia extremamente furiosa - os pulsos fechados, a testa franzida. "Aposto que se seu coração parasse de bater, você não perceberia - como o grande imbecil que é."
Havia algo extremamente convidativo na voz dela - como se eu pudesse contar meus pensamentos mais secretos sem pensar duas vezes. E pela primeira vez, agi impulsivamente.
"Sim, eu sou um grande imbecil. Tão imbecil  que mal consigo me incomodar com a minha própria imbecilidade. E ninguém ao meu redor nota isso. Você foi a primeira."
"Eu sou a fada madrinha da sua imbecilidade. Mas me diga, como você vai resolver isso?"
"A fada madrinha aqui é você."
"Se eu resolver tudo para você e consertar cada estupidez que você já cometeu, o problema não sumiria. Apenas se acumularia. Não existem soluções rápidas - a vida não é como o seu emprego. Você não pode apenas coletar todos os dados que te incomodam, colocá-los numa tabela, analisá-los e simplesmente resolvê-los. A vida não é uma fórmula matemática, daquelas que você tanto ama."
"Não conheço outro jeito."
Ela colocou seus braços ao redor da minha cintura, e disse enquanto olhava nos meus olhos:
"Olá, eu sou o outro jeito. E você vai me conhecer. Como vai conhecer outros jeitos. É apenas uma questão de caminhar, meu caro."
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Tá, eu comecei esse texto faz tempo mas não cheguei a terminar. Vou postar o resto amanhã, e como o texto ficou mais um conto do que uma crônica, começarei o meu ~Intensivo de 30 crônicas~ dia 07/12. O que é esse intensivo? 30 crônicas, uma por dia. E é VOCÊ, leitor, que vai me ajudar a escolher os assuntos :) Quer enviar sua sugestão? Manda um alô no meu twitter ou no Facebook do blog. Se forem sugestões que me tirem da minha zona de conforto, vou te amar ainda mais. Aliás, estou fazendo isso justamente pra escrever sobre coisas que não sejam filmes, livros, música, meu livro ou a minha vida. Então ajudem a coleguinha aqui ;)
E vale destacar que se você gosta do blog e do que eu escrevo, ajudar a compartilhar o Inside the Secret Window sempre é bom. Se você tem coragem de compartilhar a Gina Indelicada, tenha coragem de compartilhar a Janelinha também, bjs no seu coração.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tédio Existencial

written by Larissa Rainey at 00:54 0 comentários.
por ~Nutthead
Você tem aquele mínimo de autoconhecimento. Não é mais uma adolescente que não desconhece a própria personalidade. Tem certeza do que você quer, a longo prazo - mas nem tão longo assim, você é jovem demais para isso. Cometeu alguns erros, se odiou, quis se jogar da ponte mais próxima. Já teve alguns acertos, por mais impopulares que eles sejam. Você sabe quais os tipos de pessoas que te interessam, quais os tipos que te enojam, e quais os tipos que você adoraria dar uma olhada mais de perto. Já se apegou a pessoas, já se desapegou. Talvez você conheça a diferença entre o amor sentimental e o físico - num deles você tem sorte, no outro não. Você se detesta um pouco por ter construído uma fortaleza  ao redor de si mesma, mesmo querendo tanto que outros povoem  esta terra deserta.
Você já percebeu que a vida passa rápido demais, e anda quase nada. Há alguma paciência e meiguice sendo instalados no seu sistema - finalmente. Passou tempo demais ficando excessivamente calada ou excessivamente histérica. Aprender a combinar os dois seria o ideal. 
Você já aprendeu que ninguém pode te salvar, que príncipes encantados são um lixo e princesas, no final do dia, tem todos os defeitos que uma mera mortal tem. Algumas das suas ilusões foram substituídas por outras, que parecem  mais realistas e sinceras. Mas são o que são: ilusões. Não passam de mentiras, de pequenos filmes que seu cérebro insiste em criar quando seus olhos se fecham. E quando o filme "Memória.avi" começa a rodar, tudo são flores e fantasias e sensações que vão além da realidade. Entretanto, no mesmo momento que os créditos começam a passar na tela, um gosto amargo e pútrido invade a sua boca. Talvez rodar o filme novamente seja perigoso demais - mas ei, todos gostamos de um pouco de perigo.
Você está no purgatório. Coisas já aconteceram e coisas acontecerão. No momento, nada acontece. Só nos resta esperar.



 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos