quarta-feira, 16 de novembro de 2011

O Palhaço

written by Larissa Rainey at 21:08 1 comentários.

Devo dizer que o filme "O Palhaço" me surpreendeu. Eu esperava uma comédia não muito engraçada - afinal de contas, foi dirigido pelo Selton Mello, ele é o personagem principal e oras, o filme é sobre um palhaço. O meu engano foi de proporções quase catastróficas.
Benjamin é um palhaço quase depressivo. Ele está sempre olhando para o nada, preso em sua própria cabeça, confuso e cansado. Percebendo a dificuldade do circo em se manter, ele é o responsável por manter tudo em ordem. Todos confiam nele - mas nem ele confia muito em si mesmo.
Com uma obsessão adorável por ventiladores e com nenhum documento além de sua certidão de nascimento, observamos a jornada de Benjamin e a vida dentro do circo Esperança. Cada um com suas particularidades, contadas de modo muito sutil. Muitas vezes, os principais acontecimentos se dão de maneira muda - fica a cargo do espectador entender o que está acontecendo. 
A diferença entre o palhaço Benjamin - apresentado como Pangaré - e o homem Benjamin é notável. Selton simplesmente brilha ao atuar a persona do palhaço, e a delicadeza com que ele construiu o Benjamin foi incrível. Outro ponto forte do filme são os coadjuvantes, prontos para injetar humor na hora certa - um humor simples, mas fino e nada escrachado. 
A relação de Benjamin com seu pai é complicada. Há uma cumplicidade inerente entre os dois; o pai passando a tocha - neste caso, o circo - para o filho... Mas será que é realmente isso que ele quer? Será que Benjamin realmente está disposto a passar seus dias viajando, criando risadas mas sem ninguém para fazê-lo rir?
Em geral, o filme tem uma simplicidade fantástica e é muito bem feito. E eu saí da sala de cinema com uma vontade louca de apertar as bochechas do Selton Mello, mas tudo bem. 


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Censura na Internet? WTF?

written by Larissa Rainey at 21:58 0 comentários.
Eu já tinha lido recentemente que os Estados Unidos estavam propondo uma lei para favorecer os direitos autorais, mas não sabia até que ponto essa proteção ia. Quando descobri, fiquei boquiaberta.
São dois projetos, na verdade: um no Senado, chamado Protect IP e outro na Câmara, a E-Parasites. Essas leis foram escritas se baseando apenas na indústria cultural sem pensar na indústria tecnológica e seus trâmites. E como ninguém é bobo, estão querendo aprovar essas leis o quanto antes.
O objetivo principal é: combater a pirataria online. Só que, com serviços como o Netflix e Spotify - streaming de áudio e vídeo de excelente qualidade por um bom preço - a pirataria diminuiu consideravelmente. Não seria mais vantajoso - para as indústrias e para o espectador - que novas alternativas continuem sendo criadas? Talvez não para quem está interessado em aprovar essas leis. Se elas forem aprovadas, o governo norte-americano terá o poder de:
  • Ordenar que servidores de internet bloqueiem sites que contenham quaisquer links que cometam infração, postados por qualquer usuário;
  • Prender e exigir fiança de qualquer pessoa que utilize esse material de maneira ilegal gratuitamente - ou seja, se você postar um vídeo seu cantando uma música, você corre esse risco.
Para mais informações, leia os seguintes links - que explicam de maneira muito mais correta a Protect IP:

 Ainda não sei qual é o problema das indústrias em simplesmente tentar cortar esses websites. Eu entendo as reclamações sobre direitos autorais e estou de pleno acordo que artistas merecem - e devem - ganhar dinheiro. Entendo que as indústrias se sentem cada vez mais ameaçadas pela internet, e que não sabem ainda lidar com ela. Só que bloquear websites e IPs passam longe de serem medidas protetoras de conteúdo, pelo contrário. Dá a impressão de que "se você não pode comprar, não pode ter acesso". E isso só vai fazer com que as pessoas tentem outras maneiras de burlar a lei, de disponibilizar esse conteúdo de graça. A internet, como muitos já disseram, é uma hidra: corte uma cabeça... e nascem outras três.
Com essa abordagem bruta, creio que pouquíssimas pessoas vão concordar a lei - e com razão. Ao invés de tentarem construir alternativas e dar espaço para os jovens programadores e empreendedores de criar novas soluções, não: estamos querendo censurar absolutamente tudo que não dá lucro para as grandes empresas. Ao invés de construir novos caminhos, estamos destruindo as poucas pontes existentes entre o modelo antigo de indústria cultural com o novo.
Também, não posso dizer que sou contra a pirataria. Não posso chegar a este nível de hipocrisia, mas posso dar vários exemplos de como a pirataria pode dar lucro a um artista. Se qualquer site que disponibilizasse músicas de Emilie Autumn, The Strokes, The Dresden Dolls, eu jamais conheceria e compraria seus discos. Exceção feita aos Strokes, que são mais mainstream. Se eu nunca tivesse baixado a trilogia de Hunger Games, eu não teria comprado os livros. Existem muitos filmes que, apesar de já terem sido baixados no meu computador, eu comprei o DVD original quando pude. E existe também aquele problema básico do dinheiro. Como por enquanto eu dependo dos meus pais para sobreviver - e acredite em mim, eu não gosto dessa situação - eu simplesmente não posso gastar rios de dinheiro com entretenimento. E eu ainda tenho a sorte de ter uma família com condição financeira confortável... e quem não tem? É obrigado a ver televisão o dia inteiro e só escutar rádio? A internet fez com que nossos horizontes se expandissem, e não é uma lei que vai fazer com que a indústria cultural tenha o poder soberano que um dia teve.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

E o final, Alice?

written by Larissa Rainey at 22:40 1 comentários.
E depois que tu procurares a inspiração em todos os cantos? Sabe, se tu maltratares a tua inspiração, ela vai embora. Ela vai procurar abrigo num navio qualquer e te abandonar, como todos os outros. Ou tu vais passar o resto da tua vida procurando-a? Que vida solitária, essa...
Alice, as soluções não são previsiveis. De nada basta olhar os prédios esperando que caia no teu colo todos os amores do mundo... Esquece tua timidez, esquece teu complexo de inferioridade. Pra algo tu serves, mesmo que não saiba para o que ainda.
Foco, Alice, foco! Não te perca dentro de teus pensamentos, pois o que tens na cabeça são caraminholas. Concentra-te nos pensamentos de verdade, concentra-te no que pode te fazer evoluir. Não percas tua juventude esperando, lamentando, chorando enquanto ninguém vê. Arrisca-te! Tira teu coração da gaiola, deixa-o passear livre por essa cidade selvagem. Seja a força que move o mundo, Alice...
És uma filha perdida, uma filha machucada, uma filha cercada de lágrimas e rosas. Mas isso não diz muito sobre ti, Alice. Se tu olhares em meus olhos e disseres que decidistes ser uma cigana, uma cigana serás. Dentro de ti permanece todo o amor e todo o ódio do mundo, e com eles tu podes ser o que bem quiser...
Alice, aprende a amar a única pessoa que realmente vale a pena: você mesma.

domingo, 13 de novembro de 2011

Top 10 - Musicais

written by Larissa Rainey at 22:32 2 comentários.
Todo mundo que me conhece sabe que meu gênero favorito de filme são os musicais. Simplesmente não resisto a eles desde que me conheço por gente. Então, resolvi compilar aqui os meus 10 musicais favoritos (por enquanto, porque vamos concordar que existe muito musical a ser visto ainda!).

Melinda e Melinda (2004)

written by Larissa Rainey at 17:56 0 comentários.

Um filme sobre pontos de vista - talvez essa seja a melhor maneira de definir "Melinda e Melinda". Woody Allen conta a história de duas Melindas, em dois núcleos diferentes. A Melinda do núcleo cômico é mais leve, divertida - e os personagens ao seu redor acompanham essa leveza. Já a Melinda do núcleo trágico é depressiva, e os personagens são um pouco mais densos e complicados. 
Radha Mitchell fez um excelente trabalho com as duas Melindas - o que é um desafio - e é fácil perceber qual Melinda é a trágica e qual é a cômica. As histórias são parecidas - Melinda está sempre cercada de amigos com problemas no casamento, e de alguma maneira ela é a "gota d'água" nos problemas destes casais. Chegando sem pedir licença, derrubando sua bagagem (emocional ou não) pela sala alheia, assim é Melinda - uma mulher problemática que só quer uma chance de consertar sua vida. 
Acredito que todo mundo tem um pouco de "Melinda" dentro de si - ou apenas seja só eu, que consegui me identificar em certos pontos com as duas. Também creio que é isso que deixa os filmes de Woody Allen tão interessantes - possuem críticas e reflexões sobre os relacionamentos humanos e todos os mecanismos que usamos para fazer com que isso funcione. 
Recomendo, foi uma surpresa agradável no meu dia.


Deconstruct the Debris - Through Waves

written by Larissa Rainey at 15:55 1 comentários.

Existem duas coisas que você precisa saber sobre o Through Waves antes de ler este post. A primeira, é que não é música fácil de ser digerida. Leva tempo para você entender a profundidade das letras e absorver toda a riqueza das melodias. A segunda, é que é um projeto brasileiro. Pois é.
"Deconstruct the Debris" é o segundo álbum do Through Waves, e ele tem uma mensagem muito interessante - e a forma com que essa mensagem é contada é o que me chama mais a atenção. É uma jornada de aprendizado, usando a dor que existe dentro de todos nós para evoluir e se tornar algo melhor. Mas não é cheio de mensagens clichês, existe uma história e uma mitologia dentro de cada música.
As letras são bem construídas, cheias de detalhes - não é a sua música pop com refrões fáceis de serem cantados. Isso, novamente, reforça a intenção de contar uma história da maneira mais original e fluída possível. São quase mini-contos ou mini-capítulos musicados. 
A melodia, como eu disse no primeiro parágrafo, é rica e influenciada por ritmos diversos - mas existe uma delicadeza que não abandona as músicas. Vale muito a pena ouvir com muita atenção o segundo disco do Deconstruct the Debris, que tem a versão instrumental de cada uma das músicas. Detalhes que passam despercebidos são reforçados e destacados.
O álbum me surpreendeu - de uma maneira muito boa. Principalmente com as melodias, que são muito bem feitas, e só de pensar que foram compostas e produzidas por uma só pessoa faz com que qualquer um erga uma sobrancelha. Ou as duas ao mesmo tempo.
Para quem gosta e se interessa por música que foge do convencional, ou procura um álbum inspirador, Deconstruct the Debris é uma excelente sugestão. 

Mais sobre Through Waves:

PS: eu oficialmente não sei escrever sobre música.

sábado, 12 de novembro de 2011

Mansfield Park (2007)

written by Larissa Rainey at 20:53 0 comentários.

Não sabia exatamente por onde começar a escrever sobre a adaptação para a TV de Mansfield Park. Eu quis assistir este filme por dois motivos: o primeiro, é porque eu já li o livro a um tempinho atrás e gosto bastante da Jane Austen. O segundo, é porque tem a Billie Piper como Fanny Price. Pra quem não conhece a Billie, ela foi a Rose Tyler em Doctor Who. Mesmo após ler reviews péssimas sobre o filme, decidi assisti-lo e tirar minhas próprias conclusões.
Se você quer assistir Mansfield Park - a versão de 2007, pois tem outra mais antiga de 1999 - esperando que seja uma adaptação fiel ao espírito dos livros, sugiro que você releia o livro e não se incomode em ver o filme.
Para quem nunca assistiu, ele pode suprir a necessidade do espectador de ver um filme leve sobre desencontros amorosos no século 18. Fanny Price foi morar com seus tios, Sir Bertram e Lady Norris. Sempre fizeram questão de lembrá-la que ela era a "prima pobre", e ela nunca foi muito feliz - e seu único amigo é o primo Edmund. Mas durante a ausência de seu tio em uma viagem de negócios, Fanny sente-se mais livre e passa a divertir-se um pouco mais - até que Henry e Mary Crawford, dois irmãos que amam a vida em sociedade, aparecem em suas vidas. Edmund - que pretendia se tornar padre - apaixona-se por Mary. Mas é claro que Fanny é apaixonada por Edmund, e se vê numa situação complicada quando recebe a atenção de Henry.
Não achei que a escolha de Billie para o papel tenha sido muito sensata - ela passa a impressão de ser uma mulher forte e questionadora, e atuar como uma moça amável e sensível não é seu forte. Hayley Atwell estava perfeita como Mary - interesseira, materialista e muitas vezes manipuladora. Outro ponto fraco do filme é a pouca versatilidade de cenários - talvez causada por baixo orçamento, mas um filme todo que se passa nos mesmos lugares dá a impressão de ser chato ou mal feito. Claro, se o roteiro for sensacional, o que não é o caso - mesmo sendo baseado num livro da Jane Austen.
Com suas falhas e com alguns acertos, não posso dizer que não gostei do filme - mas definitivamente não entrou nos meus favoritos.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Mais uma lenha na fogueira

written by Larissa Rainey at 16:35 0 comentários.
Eu tinha começado um texto sobre esse assunto, mas deixei de lado. Mas após ver uma imagem revoltante no facebook, sou obrigada a escrever sobre isso. É o assunto do momento, o babado da hora, a confusão do mês: o "confronto" entre PM e USP.
Não vou começar falando quem está certo e nem quem está errado, por eu estar bem de fora da situação e até porque eu estou longe de ser dona da razão. Mas existem duas coisas que estão me irritando muito nessa história toda: é a maneira com que a mídia está tratando os estudantes e a maneira com que a maioria da população está reagindo.
Sobre manipulação: para mim, nem é esse o problema. Numa sociedade utópica, a mídia é imparcial e transparente, e mostra vários lados da história. Mas não vivemos numa utopia, e a informação que chega até nós através dos meios de comunicação é cortada, distorcida e unidimensional. Isto é esperado de qualquer tipo de comunicação, não apenas da grande mídia. A partir do momento que eu conto sobre algo que eu vivi, eu estou dando a minha versão da história - eu conto o que eu vi e ouvi, com os meus olhos, com as minhas experiências.
De acordo com a mídia, os estudantes que protestam na USP são um bando de maconheiros, que desrespeitam a lei a qualquer custo e só não querem a Polícia Militar lá para poderem fumar um baseado em paz. Ocuparam a reitoria, destruíram tudo. Mas alguém parou para perguntar aos estudantes - envolvidos ou não - o que realmente estava acontecendo? Claro que não.
Tenho duas amigas que estudam na USP - estudam muito, batalham muito pelo que querem, e de acordo com elas (e com textos de outros estudantes que eu li), a coisa não é bem assim. O ponto de partida para a ocupação não foi a maconha - e foi o estopim para uma revolta contra a PM. Lembrando que, nem todos os estudantes que estão insatisfeitos com a PM fumam maconha e são a favor da legalização da mesma. Existem várias coisas em discussão dentro da USP, e a legalização da maconha não é uma delas.
Esse texto que está circulando pelo Facebook é bem explicativo, com pontos importantes sobre o que está sendo reivindicado pelos estudantes - e são coisas que ultrapassam o âmbito da legalização. 
Não sou a favor da ocupação. Não acho que um combate corpo a corpo com as autoridades seja o melhor jeito de se lidar com as coisas. Mas o que eu sou a favor é da informação do povo, de procurar vários lados da história, e mesmo que ainda discordem da opinião dos estudantes, tenha argumentos para tal. E não simplesmente compartilhar uma foto falando que você é a favor da polícia "descer o cacete" nos estudantes da USP, porque é ridículo e faz uma apologia desnecessária a violência. Vendo o ardor que as pessoas têm em apoiar a violência - de qualquer maneira - faz com que eu tenha medo de como as coisas serão no futuro.

E eu me pergunto: e se esa confusão toda estivesse acontecendo numa faculdade particular? Como a mídia se comportaria?
 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos