segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

#13 - Abandono

written by Larissa Rainey at 23:02 2 comentários.
Physical Abandonment. by ~HONEYandSALIVA

Me abandona, por favor.
Me deixa viver, me deixa respirar com dificuldade até eu reencontrar meu fôlego.  Deixa eu dar esses passos pesados em qualquer direção. 
Não me abrace com esses braços que mais machucam que afagam. Não me cubra com o seu amor que só faz humilhar e cansar esse coração que vive de mágoa e esperança. Não fale mais comigo, não me mande cartas nem recados. Esse trem já partiu - o mesmo trem que você desprezou tanto uma vez.
Eu não quero esquecer tudo o que já passou e nem fingir que o futuro vai ser melhor perto de você. Não quero, não quero. Bato o pé e faço birra, mas eu me recuso a acreditar que tudo isso é amor.
Amor não prende... amor deixa a gente respirar. E perto de você eu faço qualquer coisa, menos respirar com calma. Amor só multiplica, e o meu amor próprio só encolhe quando a gente divide o mesmo ar.
É o sangue que não deixa você me abandonar? Porque se for, eu não me importo. Já derramei tanto sangue que não deve ter sobrado muito. Sangue não conta. Carinho sim.
Me deixa crescer, me deixa receber amor de outras pessoas sem achar que eu não mereço. Me deixa caminhar de cabeça erguida, com um sorriso no rosto, olhos brilhantes de liberdade. Me deixa num canto bem escuro e frio, com a porta aberta. Deixa eu sair rastejando bem fraquinha, até eu conseguir andar melhor.
Se você realmente me ama... me abandona.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

#12 - A Diferença Entre as Cordas

written by Larissa Rainey at 00:04 0 comentários.
Rope Walker by ~smokepaint

O canto que une uma parede a outra é o corpo que me abraça. O chão frio decorado por fios de cabelo é a única coisa que meus olhos assimilam. Não há luz que ilumine meu caminho nem calor que me aqueça. O que um dia foi tão familiar se torna desconhecido e não sei por quanto tempo permanecerei aqui. Imagino que as paredes que se fecham ao meu redor sejam apenas os restos das ruínas de alguém que já fui. Meu mundo é o das especulações, das teorias, dos incontáveis "mas e se...", do dia-a-dia cretino embelezado com algumas camadas de gramática correta. 
Existem várias cordas que me puxam para lugares onde não quero estar. Não quero estar aqui - quero estar lá, mesmo que eu saiba que lá não é perfeito. Mas sou puxada para o lugar onde estou e as cordas sussurram numa língua obscura que eu deveria estar contente. Minha missão enquanto pessoa-que-vive-no-meio-das-outras é a de estar sempre contente,  agradável aos olhos e ser imensamente grata. Ser mais uma - eis meu pesadelo.
Não gosto das cordas ásperas e grossas. A cada milímetro delas, estão escritos todos os meus defeitos e minhas fraquezas. Olhar para os meus pulsos pálidos envoltos por elas só faz com que algum canto de mim se machuque ainda mais. E a cada tentativa de me libertar, só me prendo ainda mais.
As cordas finas e fracas, entretanto, não são melhores. Toda vez que me liberto, tropeço-me em mim mesma e tomo a decisão errada. Volto para o meu posto anterior, com culpa e receio. Como uma pessoa que não confia em si mesma poderia querer confiar em outro alguém? Como amar e tolerar quem está de fora da fogueira? E como esperar esse amor e tolerância dos outros? 
São perguntas demais, e nenhuma resposta. Pergunto-me como me prendi tanto assim. Teria eu nascido prisioneira num corpo e numa vida que nunca pedi? Ou fui presa depois de ser tão horrível? Talvez nada disso importa. Suas origens não anulam o fato de que continuam aqui, perversas e más. Dizem que essas cordas são imaginárias. Válvule de escape, caverna para todos os meus medos. Não posso contradizer essa afirmação, mas novas perguntas surgem. Se estou apenas no campo abstrato e imaginário, por que o meu corpo de carne e sangue sofre?
Mas eu sei que um dia eu terei toda a liberdade que eu quiser. É essa a única corda que eu gosto - a da esperança. E veja só, aparentemente ela está um pouco mais forte hoje...


sábado, 16 de fevereiro de 2013

#11 - Terrível

written by Larissa Rainey at 21:19 0 comentários.
waiting room number 13 by ~melorah-violet


Eu declaro guerra. Assim, de supetão, sem metáforas nem eufemismos. Eu clamo pelo tambor que anuncia aos quatro cantos a guerra mais terrível de todas.
Reúna todas as suas armas e pinte o chão de escarlate. 
Declaro guerra contra a mediocridade. Declaro guerra contra o lugar-comum. Declaro guerra contra a calmaria que provém da falta de interesse. Declaro guerra contra a pouca vontade de   lutar e ser alguém melhor. 
Minhas imagens distorcidas muitas vezes me sabotaram - entretanto, sei bem o que quero. Eu sei onde quero chegar, como quero chegar. Sei o que devo fazer para que meus objetivos sejam alcançados e sei que ninguém nasce com confiança pronta. Adquirida depois de muitas batalhas  perdidas, creio que estou pronta.
Minha resolução é simples - a de fazer o meu melhor. Falharei? Muitas vezes. Porém aprendemos com cada falha e cada tropeço, e minha obstinação continua firme. Ser medíocre e me entregar com mínimo esforço nunca foi parte de mim - e isso não mudará agora. Não permito que apontem dedos para mim medindo minha capacidade. Ninguém sabe do que somos capazes - nem nós mesmos. 
Não nasci rainha, mas ganhei minha coroa com sangue nas mãos e brilho nos olhos. Minha voz a cada dia fica mais alta e ousada para declamar mais quinhentas guerras, se necessário. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Musique #06

written by Larissa Rainey at 00:10 1 comentários.
original aqui

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

#10 - Elétrica

written by Larissa Rainey at 00:47 0 comentários.
She moves in her own way by ~MissUnfortunate

Mas o que é este canto que se forma em minha garganta, que manipula minha voz e me faz soar como um trovão? De qual máscara vem esse olhar tão diluído em si mesmo? De quem é esse corpo que eu toco tão teimosamente, mesmo que esteja completamente fechado para mim? E desde quando fui feita de aço a modo de incomodar cada pessoa que me oferece um abraço?
Cada vez que uso o ponto de interrogação meu coração morre de tanto interrogar-se. São perguntas com respostas variadas, nenhuma chegando a lugar algum. Entretanto, devo eu  realmente chegar a lugar algum? Cheguei de não sei onde, com genética bagunçada e transtornada. Passei por alguns e alguéns e agora estou aqui. Esse aqui é mais passageiro do que o tempo que insiste em voar com suas asas de ponteiro.
Lembro-me de uns dias atrás, quando percebia todas as variações de azul que o mar e o céu podem me oferecer. Senti-me tão terrivelmente isolada do mundo mas inevitavelmente conectada comigo mesma. As chamas que crepitam ao redor de mim ficam desesperadas ao ver cada onda em seu vai e vém contínuo. A calmaria do mar faz com que cada parte do meu corpo ensandeça. Faz com que eu pondere demais sobre  meu futuro - não, não quero mais falar disso. Não quero ficar mais ensandecida ainda.
Não gosto desse entorpecimento que cresce tal qual arranha-céu que arranha o meu ser. A cada momento que encaro a parede e deixo minha mente vagar em cada arquétipo que represento, algo em mim explode. Torno-me a personificação da eletricidade e insisto em eletrocutar todos ao meu redor. Preciso, necessito, desejo que  todos provem das correntes elétricas que não permitem a minha calmaria. Eu desejo que você dance conforme a minha música e que o seu corpo se controrça com os movimentos que eu acho mais agradáveis. 
E quando tudo acaba, volto a ser quem eu realmente sou: trezentas, quatro, uma, nenhuma.




 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos