quinta-feira, 15 de março de 2012

Sobre estrelinhas douradas

written by Larissa Rainey at 12:20 2 comentários.
Em certas ocasiões, eu fico espantada com a percepção dos meus amigos sobre mim. Eu sou muito mais transparente do que eu deveria ser, e isso me incomoda. Comigo não existem meios sorrisos e nem meias palavras. Minha tristeza é explícita; minha felicidade também. Sou uma exaltada por natureza - choro de tanto rir e choro até soluçar. Então, para quem convive diariamente comigo, não é difícil perceber meus humores. O que me espanta é quando notam o que eu não digo, o que eu mantenho trancado, o que eu faço inconscientemente. 
Ontem, estava conversando com um amigo meu - sobre algo que eu escolhi deixar trancado, nessa nova fase da minha vida. É uma estrada sem volta. E depois de outras conversas com outras pessoas, esse meu amigo disse que eu sempre faço as coisas para os outros. Até escrever. Dificilmente eu escrevo para mim, sobre mim. Eu raramente rabisco as palavras, deixo que as frases se formem naturalmente, despreocupadas. A cada toque do meu dedo no teclado, eu me preocupo com o que as pessoas irão pensar. Será que vão gostar? Será que é isso que elas querem ler? 
Eu tenho inúmeros defeitos, mas creio que esse é o pior deles. Tenho uma necessidade quase irracional de ser aprovada pelos outros. Estou plenamente ciente que nem todo mundo gosta de mim - do mesmo jeito que eu não gosto de todo mundo. Mas eu procuro aprovações específicas, de certas pessoas, de certos grupos que eu valorizo. Ao mesmo tempo que eu me desespero por essas aprovações, eu não mudo quem eu sou para agradá-los. Essa tática não funciona - já tentei antes. 
Entretanto, eu me reprimo. Muitas vezes, eu fico quieta por horas simplesmente por não saber o que falar. Por acreditar que não tenho nada importante a ser dito. Eu observo o ambiente e logo percebo que não terei nada a acrescentar para os outros. Então fico quieta, andando calmamente pelos cantos. Estou sempre rodeada de gente, mas poucas vezes eu saio da minha própria cabeça. Poucas vezes eu me sinto verdadeiramente confortável em algum lugar. 
Eu quero que as pessoas me aprovem pelo o que realmente sou, mas eu nunca sou quem eu realmente sou - porque eu ainda não sei quem eu sou. Não sei se continuo na minha zona de conforto sendo a pessoa tímida e quieta ou se finalmente me liberto e me torno a pessoa que eu escondo. Afinal de contas, se sou realmente quieta, devo mesmo mudar? Mas... será que essa timidez não é fruto de um medo irracional e idiota? 
Até quando eu vou deixar que o medo de não ser aprovada atrapalhe a minha vida?Até quando me culparei por não me encaixar em certos círculos?  Até quando tentarei colecionar estrelinhas douradas para tentar preencher algum vazio? Afinal de contas, se eu nem gosto tanto assim de mim mesma, por que espero que os outros também gostem?
São perguntas assim que fazem com que eu queira queimar todos os pontos de interrogação do mundo. 


segunda-feira, 12 de março de 2012

Fast Movies #03

written by Larissa Rainey at 16:23 0 comentários.

Prometo que vou parar com essa mania de não postar! Março/abril, força total na janelinha!




Gainsbourg - O Homem que Amava as Mulheres


Não entendi a razão desse subtítulo em português, já que o título do original é "Vida Heróica". Mas como nome de filme no Brasil nunca fez muito sentido... O filme, obviamente, conta a história do cantor, compositor, ator e diretor francês Serge Gainsbourg - que casou-se com Jane Birkin e é pai da atriz Charlotte Gainsbourg. Eu não conhecia muito sobre o Serge além do básico que todo mundo conhece, e gostei bastante da abordagem da vida dele. Em alguns momentos, acredito que faltou um pouco de intensidade - em certos diálogos e cenas. Esperava um pouco mais da encenação do relacionamento de Serge com Jane - enquanto as suas cenas com Brigitte Bardot foram adoráveis. Mas o que realmente me chamou a atenção foram os bonecos. Durante o filme, Serge é acompanhado por seu alter ego -  uma caricatura de si mesmo que age como uma inspiração por vezes demoníaca. Isso faz com que aconteça um certo desprendimento da realidade, dando novas nuances à vida problemática de Gainsbourg. Vale muito a pena assistir. 

Gigi

Charmoso, fofo e irresistível. Gaston Lachaille é um bon vivant francês, que está sempre entediado com tudo. Se envolve com garotas e no momento em que elas deixam de ser novidade, ele as mandam para fora de sua vida. A única coisa que Gaston realmente gosta de fazer é passar tempo com Madame Alvarez - a quem ele chama carinhosamente de Mamita. Ela tem pouco dinheiro, e ainda toma conta de sua neta Gigi - que é irrequieta, espontânea e não se importa muito com o amor (essa cena é sensacional). Gigi recebe aulas de etiqueta com sua tia, Alicia - que, na verdade, pretende que ela se torne uma cortesã. A trama revolve em torno desses três personagens, e eu me apaixonei perdidamente. Leslie Caron é completamente fofa e Maurice Chevalier é apaixonante como Gaston. O que eu mais gostei em Gigi é o fato de tratar questões profundas de uma maneira leve: por exemplo, as diferenças entre um amor verdadeiro e o amor por interesse. E depois de rever The Parisians umas cinco vezes, preciso dizer: a risada da Gigi é a coisa mais linda desse mundo, obrigada.

Viagem a Darjeeling

Tenho uma relação de amor e ódio com o Owen Wilson. Acabo gostando bastante dos filmes dele, mas não dele necessariamente. Viagem a Darjeeling é um desses filmes. Francis (Owen Wilson), Peter (Adrien amor da minha vida Brody) e Jack (Jason Schwartzman) são irmãos que não se falam há um ano. Francis, entretanto, tem uma espécie de epifania após um grave acidente e decide levar os dois irmãos para uma viagem exotérica pela Índia. Cada irmão tem um segredo, e tem sempre um segredo que o outro irmão não pode saber. A relação deles é caótica e complicada, e a viagem toma rumos inesperados. A fotografia é absurdamente linda, o filme é todo colorido e brilhante. É um filme bom e levemente excêntrico... e tem o Owen Wilson.




sexta-feira, 2 de março de 2012

A Maldição de James Blunt

written by Larissa Rainey at 12:28 1 comentários.
você é linda, sua linda!

Eu tenho uma história de amor e ódio com a música "You're Beautiful", do James Blunt. A primeira vez que eu escutei eu até gostei (por razões que desconheço), mas pela vigésima vez eu passei a odiar essa música com a força de quatro bombas nucleares. 
"You're Beautiful" é, no mínimo, irritante. O clipe é irritante. A voz dele é irritante. A letra é irritante. Até o clipe é irritante, mesmo envolvendo um homem tirando a roupa. Mas o poder depressivo de "You're Beautiful" é tão poderoso que até o strip tease é depressivo. Afinal de contas, quem tem a idéia mágica de arrancar a roupa no meio da neve? Tudo bem que o nosso querido Blunt não está exatamente em sã consciência - afinal de contas, que tipo de pessoa cria uma música dessas com a saúde mental em dia? 
Eu lembro que quando essa música fez sucesso, minha mãe era apaixonada por ela. Ela até comprou o cd da trilha sonora da novela, e sempre repetia a faixa. Um belo dia, eu disse que não gostava da música. Sempre muito educada e respeitando o gosto alheio, ela respondeu que eu não apreciava essa belíssima composição por "não gostar de ninguém, ser egoísta e não entender o que o amor é". Mas... essa música é extremamente deprimente e não mostra exatamente o lado bom de se amar. E mesmo se mostrasse, não sou obrigada. E eu repliquei: "Mãe, esse cara está super deprimido porque ele viu uma mulher no metrô e tá apaixonado, e no clipe ele se mata.... então, quer dizer.....". Minha mãe, que não entende nem meia palavra de inglês, ficou surpresa. "Ai, sério????" e pra continuar com  a pose de bonita, disse que "Mesmo assim, continua sendo uma música de amor, você não ama ninguém, você não tem sentimentos, VOCÊ JAMAIS ENTENDERIA!!". Daí eu tirei a minha poker face da gaveta e deixei por isso mesmo.
Ontem mesmo eu estava falando a mesma coisa com um amigo meu. E então, quando saí para a faculdade, o fantasma de James Blunt pós-strip-na-neve-depressivo me acompanhou. E eu experimentei uma daquelas paixões intensas e clichês... num ônibus.
Eu, provavelmente, sou a pessoa mais desligada que você já teve o azar de conhecer. Eu dificilmente reparo nas pessoas e no que elas vestem e em sua linguagem corporal, mas dessa vez foi diferente. 
Sabe quando você olha para uma pessoa, suspira e pensa: "Eu poderia ter os seus bebês"? Então. E eu nem gosto tanto assim de bebês. Meus olhos ficaram tão fixos nele que ele começou a olhar de volta - e eu fiquei constrangida, e a timidez bateu à minha porta. Acho que ele ficou uns quinze minutos no ônibus, e desceu umas três paradas antes de mim. 

E é óbvio que eu fiquei com a música do James Blunt na cabeça, em loop infinito. Afinal de contas, ele tinha uma certa razão... mas a música continua sendo ruim. 
 

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