terça-feira, 30 de abril de 2013

#18 - Pequenas Coisas Ofensivas

written by Larissa Rainey at 21:50 3 comentários.


Veja bem, eu sou uma pessoa chata. Esse fato nem precisa de justificação - se eu fosse uma pessoa legal, tranquila e de bem com a vida eu não escreveria. Estaria por aí distribuindo amor, flores e unicórnios. Porém, eu sou chata e muita coisa me ofende. Não estou falando de coisas sérias e que teoricamente deveriam ofender qualquer pessoa com consciência. Estou me referindo àquelas coisas pequenas, insignificantes, mas que só de existirem já fazem com que eu queira fazer cosplay de Ned Stark pós-sentença do Joffrey.
Sopa me ofende. Sopa me deixa doente. Qual é o propósito de uma comida líquida e quente com coisas flutuando? Quem inventou a sopa não gosta de comida. 
Miojo me ofende. Macarrão é uma coisa tão preciosa e linda, e miojo tem gosto de complexo de inferioridade. Parece que ao comer miojo você está declarando para o mundo que não é bom o suficiente pra fazer macarrão e jogar um molho em cima dele feito uma pessoa decente. É contentar-se com pouco.
Gente que cospe na rua me ofende. Me ofende e me dá nojinho. A rua não é a pia da sua casa e ninguém é obrigado a ver o seu cuspe fazendo competição de distância. 
Caras que fazem questão de contarem para o mundo o quão legais eles são me ofendem. Quem é legal de verdade não precisa colocar no jornal. A partir do momento que você tenta fazer com que eu acredite que você é a pessoa mais sensível e gentil do mundo sem realmente ter nenhuma atitude que justifique tudo isso, eu só vou desconfiar. 
Gente bonita me ofende. Não sou obrigada a lidar com a sua bela cara existindo por aí.
Macacão de oncinha me ofende. A não ser que você esteja indo para uma festa à fantasia, não entendo o porquê de sair de casa fazendo cosplay de onça. 
Chocolate branco me ofende. Não tem cacau, então por quê chamam de chocolate? 
Refrigerante de laranja me ofende em níveis estratosféricos - principalmente porque sempre tem um gênio pra relacionar essa bebida infeliz com cabelo ruivo. 
Telefone me ofende. É incômodo e chato. Tem tanta opção melhor pra se conversar hoje em dia e você quer mesmo que eu use o telefone?
Reclamar que  "ai, isso é velho" me ofende e me irrita. A senhora sua mãe também é velha e você ainda chora por causa dela, então recolha-se à sua insignificância e me deixe curtir as coisas quando eu bem quiser.
Eu me ofendo. Sou irritante, incômoda, cheia de extremos, contradições, sou pequena e chamo a atenção mesmo não querendo. Mas ainda não encontrei uma cura para mim mesma, então permaneço nessa situação desconfortável.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

#17 - Brincando

written by Larissa Rainey at 16:44 1 comentários.

Não gosto de algumas piadas. Considero-as desnecessárias, ofensivas, baixas, ridículas. Considero-as fruto de uma mente fechada com consciência torta. O uso de uma palavra modifica todo um discurso, e eu esperaria que todos nós soubéssemos disso. Somos seres falantes (tenho minhas dúvidas quanto ao 'pensantes'). Mas é o que é - uma piada, certo? Não há necessidade de levar tudo muito a sério. Talvez eu seja muito formal - ou muito atrasada intelectualmente. O humor, pra ser engraçado, tem que tirar sarro de absolutamente tudo, de qualquer maneira. Não se precisa pensar no humor para fazê-lo. Estão apenas brincando.
Não gosto quando um apresentador faz uma coletânea de todas as mulheres que expuseram os seios em filmes. E antes que digam que eu sou pudica, meu problema não é com o corpo desnudo. O meu problema é que até quando a cena é de estupro ou demonstra alguma violência, o que importa para algumas pessoas é ver mulher nua. Porque realmente, vivemos numa sociedade muito conservadora e é muito difícil ver corpos femininos sem roupa. A nossa sociedade resume-se a garotos de 13 anos com testosterona borbulhante. Mas no final de contas, é mais uma piada, certo? Que horror, eu sou muito séria. Talvez eu precise levar minha vida com mais leveza, com mais senso de humor.
Quando tiravam sarro do meu cabelo ruivo na escola, sempre me diziam que eu deveria rir junto. Que era apenas uma forma de me notarem. Que quando garotos se comportam dessa forma com você, é porque eles estão interessados em você. Mas eu nunca acreditei nisso... acho que sempre fui muito fechada, muito irritadinha. Coitada de mim que perdi a oportunidade de viver a adolescência ao lado de gênios do humor galanteadores.
Quando assediam alguém pela internet - por ser gay, gordo, ou simplesmente por ser - é normal. É tudo pela zoeira. É só brincadeira, gente, não precisa levar nada disso a sério. E se essas brincadeiras acabam com a vida de alguém, é porque a pessoa era fraca e não sabia entender uma piada... será que esse é o meu fim?
Quando um homem faz questão de assediar e abusar de uma moça num programa de televisão, é transgressão artística. Não é abuso, imaginem só! Afinal de contas, a culpa é do vestido dela. Dos saltos que ela usa. Da persona dela. Porque independentemente da roupa que usamos, não somos importantes o suficiente para sermos respeitados. Precisamos seguir o código para ser merecedor de um mínimo respeito. Mas eu não devia ficar com tanto nojo disso, devia? É uma brincadeira, não é?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

#16 - Mais um

written by Larissa Rainey at 23:45 0 comentários.
Heaven is watching, por celle coelho.

Descolei-me das paredes do meu ser para moldar outro alguém. Arranhei pedaços da minha carne com raiva e desespero por falta de melhor entendimento. Revesti meu coração com metal para que ele fosse impenetrável. Enterrei com desgosto a sensibilidade que tanto me alucinava. Apenas para ouvir a pergunta seguinte: "e agora?"
E com tantas barreiras, tornei-me solitária. Ao proteger-me demais, tornei-me inexperiente. Ao tentar ser única, tornei-me quinhentas. Quem é a pessoa que te encara pedindo beijos fulminantes, esperando que um olhar seja o suficiente? Quem é a mulher insensível que brilha como a fogueira na escuridão  de sua caverna úmida? Quem é a serpente tímida que tem medo do próprio veneno e te observa de longe?
Meu valor torna proporções megalomaníacas enquanto sou metáfora. Mas aplicada ao mundo das coisas físicas e materiais, sou o que sou: uma mulher com flashbacks de menina. Apenas isso. Nada mais. A complexidade dramática, os sonhos e as ambições e as frustrações são memórias que morrerão comigo. No meu último suspiro, tudo isso irá embora. O que torna a vida inteira extremamente curta.
Uma vida tão curta não permite amarras nem falta de liberdade. Uma vida tão curta não permite que esse ano seja apenas mais um. E quando falarem sobre mim, que digam que eu desafiei a gravidade. Digam que eu tentei e continuo tentando. Digam que eu sobrevivi e que escrevi a história.
Voltei a abraçar as paredes do meu ser, porque eu sou o alguém que devo ser. Acaricei com ternura o meu corpo, pois é das minhas mãos que o carinho deve vir. Tive paciência com meus erros e meus desesperos. Revesti meu coração com diamantes, pois eu quero que ele brilhe.  Desenterrei minha sensibilidade, limpei-a e mais do que nunca confio em meus pressentimentos. E quando a pergunta seguinte vier, saberei que nem sempre devo seguir os tijolos amarelos.


I'm through accepting limits
'Cuz someone says they're so
Some things I cannot change
But till I try, I'll never know!
Too long I've been afraid of
Losing love I guess I've lost
Well, if that's love
It comes at much too high a cost!


I'd sooner buy
Defying gravity
Kiss me goodbye
I'm defying gravity
And you can't pull me down!

P.S: Espero que tenham gostado da cara nova do blog. Eu gostei. 

 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos