sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

E aí, gostosa?

written by Larissa Rainey at 14:03 2 comentários.
Qual mulher nunca ouviu essas palavras enquanto andava na rua?
Se você nunca ouviu, de duas uma: ou você está mentindo, ou você tem muita sorte.
Eu já ouvi. Mais do que deveria, afinal de contas eu não faço parte do estereótipo 'gostosa'. Talvez seja o cabelo que chame atenção. E antes que você venha falar algo para mim, eu não saio de casa com roupas provocativas à la Geisy Arruda - pergunte a quem me conhece e sai comigo.
Outro dia, eu estava voltando do psicólogo. E tem um prédio branco que às vezes eu ouço o porteiro - veja bem, porteiro - me elogiar pelo interfone. Simplesmente usando um instrumento de trabalho para me cantar. Detalhe: eu sempre verifico se têm outra mulher passando, e raramente têm. 
Não, eu não estou me gabando. Pelo contrário. Se tem uma coisa que eu odeio nessa vida é passar na rua e um completo estranho falar que eu sou linda, gostosa, branquela, ou perguntar onde é que eu estou indo para estar tão linda. Não, eu não considero isso uma massagem no meu ego. Eu não gosto desse tipo de atenção, acho nojento, vulgar.
Pois bem, voltando ao porteiro do prédio branco. Aquele dia eu fui pro psicólogo com um vestido preto, um pouco acima do joelho. E quando eu digo "um pouco acima do joelho", é um pouco mesmo. Não era um vestido colado, era bem soltinho. Um vestido completamente normal para se usar no calor maldito que somos agraciados neste país tropical. E eu estava chegando em casa quando ouço o porteiro: 'Nossa, hoje você está muito linda hoje'. 
Me chamem de dramática, de criança, de problemática, mas eu não gosto desse tipo de comentário vindo de um completo estranho. Ele me conhece? Não. Ele tem intimidade o suficiente para comentar sobre o meu visual? Não. Fora dizer que ele está em horário de trabalho e a última coisa que ele deveria fazer é ficar cantando mulheres na rua. Moral da história: eu não passo mais por aquele prédio e atravesso a rua só depois.
E não me venha falando que "homem é homem", porque a história não é desse jeito. Tem muito homem por aí que tem a decência de não cantar mulheres no meio da rua. É que nem quando falam que o traje da mulher contribui para o estupro. Contribui sim, se o homem é um filho da puta que não sabe controlar o próprio corpo. O cara que não sabe se controlar e ter discernimento de que é errado estuprar uma estranha na rua e a culpa é nossa? Então ótimo, vou sair por aí agarrando o primeiro cara sem camisa que eu ver na rua e drogá-lo e forçá-lo a me comer e se reclamarem eu digo que as roupas dele estavam reveladoras e eu não pude me controlar. 
Estamos no século 21, não na idade das cavernas. Um homem não pode simplesmente pegar a mulher pelo cabelo só porque achou bonita e falar que "é dele".
Homens que ficam cantando mulheres no meio da rua não são homens. São meros espelhos do que um homem realmente deveria ser. Não estou falando para um homem ser completamente cavalheiro e perfeito e pedir permissão para as autoridades antes de falar qualquer coisa para você. Só que tem a diferença de você virar para alguém que você conhece e falar que essa pessoa é bonita do que gritar um "GOSTOSA" para uma mulher qualquer na rua. É preciso apenas uma boa dose de educação e bom senso.
Não é legal, não é galantedor. É nojento, horrível, ridículo, idiota. O homem que faz umas coisas dessas nunca tem noção do impacto que pode causar na mulher. Algumas gostam, acham bonito e fazem de tudo para esse tipo de reação. Eu não julgo (muito), cada um sabe o que quer. Só que nem sempre elas gostam, e a parte da população feminina que não gosta (eu) gostaria de mandar ir tomar no cu todos os filhos da puta que fazem isso.
Obrigada.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Montanha russa

written by Larissa Rainey at 22:27 0 comentários.
É como uma montanha russa. Quando eu me sento no carrinho, espero uma avalanche de adrenalina e de emoções positivas. A subida começa, e subitamente eu me arrependo de ter pensando em subir naquilo. Sentimento atrás de sentimento, aquele frio na barriga e a ansiedade. Ah, a ansiedade. A amiga traiçoeira de toda pessoa que duvida da própria sanidade diariamente. A ansiedade faz o meu estômago se contorcer, retorcer, para voltar ao formato original e continuar se retorcendo. A cada centímetro que me separa do chão, a ansiedade me mata mais um pouquinho. E eu me odeio por alguns bons minutos, revendo em minha mente os motivos para eu ter resolvido entrar no carrinho. Olho para todos os lados, querendo uma resposta que nunca chega. E eu continuo subindo, subindo, e estou cada vez mais longe do chão. Por que eu insisto em fazer isso comigo mesma? Por que a necessidade diária de me jogar, de ficar exausta de tanto esperar pelas coisas e pelas pessoas? O ódio que sinto por mim mesma é tanto que preciso me torturar com as ferramentas mais meticulosas existentes? Talvez.
E finalmente, o carrinho pára. Eu olho para baixo, e nunca estive tão longe do chão quanto estou agora. A pressão para descer me sufoca até que eu não consiga mais pensar. E é nesse único segundo, que antecede a descida, que eu sou realmente feliz. Livre de todos os meus medos e das minhas expectativas, completamente fora deste mundo. Meu estômago pára de se contorcer, e ao invés disso, é delicadamente invadido por borboletas. 
A corrida acaba e eu volto para o chão, passo a observar a montanha russa e todas as emoções que ela me desperta. E quando eu dou por mim mesma, estou sentada no carrinho novamente. Pronta para uma subida tortuosa e difícil, para apenas um segundo de felicidade.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O que se perdeu

written by Larissa Rainey at 23:21 1 comentários.
Eu nunca tive certeza de muita coisa, mas de uma eu sempre tive: tudo acaba. A nossa vida acaba, então porque devo esperar que algo dure para sempre? 
As pessoas mudam. Diariamente convivemos em sociedade e com pessoas que pouco a pouco vão nos modelando - querendo ou não. Por mais que a gente tente permanecer igual, é em vão. Para melhor, ou para pior - não importa. E como sofrendo todas essas mudanças e influências, dia após dia, esperemos que tudo fique igual? É impossível. Nós amadurecemos, nos interessamos por coisas e pessoas diferentes. Cada filme, cada música, nos altera. A pessoa que eu fui ontem é diferente da pessoa que eu sou hoje e da pessoa que serei amanhã. A Larissa de ontem era triste, deprimida e desanimada. A Larissa de hoje é triste, deprimida, desanimada, estressada, magoada e à beira de um ataque de nervosa. A Larissa de amanhã... vai saber.
Com todas essas mudanças, nós perdemos coisas. Perdemos pessoas, situações e oportunidades. E se eu sinto falta dessas coisas? Algumas sim. As mais importantes. Eu gostaria de poder contar com uma única pessoa, e ficar assim para sempre. Mas novamente, nada é pra sempre. Chega uma hora que não dá mais pra apoiar todo o peso da minha existência nas costas de uma pessoa só. É maldade, se for parar para pensar. O que se perdeu, às vezes dá pra recuperar. Às vezes não. O que se perdeu se perdeu para sempre no fundo do meu mar.
Talvez eu tenha me perdido no fundo do mar e eu esteja lutando para sair. É a única explicação lógica para essa dor. Deve ser a dor da luta constante. Deve ser. Tem que ser...
 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos