Marina & The Diamonds - Electra Heart

Tudo bem que o álbum foi lançado no final de abril e estou escrevendo sobre ele no final de julho, mas um blog atualizado é mainstream demais... E atenção: esse post é enorme.

Lançado no dia 27 de abril desse ano, "Electra Heart" é o segundo álbum de estúdio de Marina & The Diamonds, da cantora galesa Marina Diamandis. Não, não é brincadeira, é o nome dela mesmo - seu pai é grego.

O primeiro álbum de estúdio é o The Family Jewels, lançado em fevereiro de 2010. Com ele, Marina conseguiu um considerável espaço na indústria musical, conseguindo inclusive assinar   contrato com uma gravadora americana, a Atlantic Records. 

O que me chamou a atenção no primeiro álbum da Marina foram as letras marcantes e profundas, a atmosofera pop levemente ácida e a voz dela. E o sotaque, mas até aí é uma coisa minha. A primeira música do The Family Jewels que me viciou e me fez prestar atenção na Marina foi Oh No!. Também tenho que destacar as músicas Hollywood (link da versão acústica porque é uma coisa linda), Hermit the Frog e  Shampain (a grafia é assim porque é uma junção de Shame + Pain). 

Muito bem, tudo muito bonito, parabéns Marininha. Até que, dois anos depois (e quantidades absurdas de laquê), ela lança o Electra Heart - um cd que eu literalmente não consigo parar de ouvir. Acontece que, diferentemente do The Family Jewels, Electra Heart conta uma história, que gira em torno de quatro Arquétipos:

• Su-Barbie-A

• Homewrecker

• Teen Idles

• The Primadonna 

Cada música do álbum pertence a cada um desses arquétipos, e enquanto algumas músicas são óbvias de corresponder (como Primadonna e Homewrecker), outras nem tanto. Todos esses arquétipos lidam com certas coisas, como por exemplo a busca desesperada pela fama; relacionamentos efêmeros baseados em mentiras, aparências e poder; pluralidade de personalidades e a facilidade de "trocar" de identidade apenas para agradar o outro. A estética dos vários filmes que ela lançou em seu canal do Youtube ajudam a reforçar o sentido das músicas. Electra Heart é um álbum sobre mulheres egoístas e ambiciosas, perdidas na frivolidade da sociedade e na frivolidade de seus próprios sonhos. Muito bem, vamos analisar esses diamantes mais de perto, na ordem do álbum.

1. ♡ Bubblegum Bitch ♡
Muitas pessoas julgam a faixa inicial do Electra Heart a mais fraca - talvez pela letra repetitva e que, num primeiro momento, pode ser considerada até superficial. Mas taí, não é. É a primeira música justamente porque nos conta o que esperar do resto do álbum. Logo você percebe o quão ambiciosa e superficial ela é. Destaque pros trechos: "Don't care if you think I'm dumb, I don't care at all / Candy vest, sweetie pie, wanna be adored / I'm the girl you die for (...) Oh dear diary, I met a boy / He made my dull heart light up with joy /Oh dear diary, we fell apart / Welcome to the life of Electra Heart". Essa música pertence ao arquétipo Teen Idles.

 2. ♡ Primadonna ♡

A música tema do arquétipo The Primadonna, foi o primeiro single do Electra Heart. De acordo com a própria Marina, "todo mundo conhece uma Primadonna, ou se relacionou com uma, ou é uma". A Primadonna é narcisista, quer atenção constante  - por ser justamente muito insegura consigo mesma. Ela precisa ter o mundo inteiro aos seus pés, caso contrário não é o suficiente. Ela é vazia por dentro, então prefere se enfeitar por fora. O problema nunca é com ela, e sim com os outros. Uma fofa. Destaque para os trechos: "Would you do anything for me? / Buy a big diamond ring for me? / Would you get down on your knees for me? /Pop the pretty question right now baby / Beauty queen of the silver screen / I'm living life like I'm in a dream / I know I've got a big ego, I really don't know why it's such a big deal, though. /I'm sad to the core, core, core  (...) When you give I want more, more, more, I wanna be adored!"

3. ♡ Lies ♡ (link pra versão acústica, porque sim)

Essa música é maravilhosa, e gira em torno de um dos temas centrais do álbum. Vale a pena mudar a sua personalidade e mentir apenas para agradar uma pessoa? Quantas mentiras são necessárias para construir um relacionamento? E por quanto tempo dura essa farsa? "Lies" fala exatamente sobre isso - e é um dos grandes dilemas da Su-Barbie-A: You're never gonna love me, so what's the use? / What's the point in playing a game you're gonna lose? (...)  No, I'm not the type that you like / Why don't we just pretend? / I can't let you go / I just want it to be perfect / To believe it's all been worth a fight"...

 4. ♡  Homewrecker  ♡  (link pra versão acústica, porque sim)

Obviamente, é o hino das Homewreckers - aquelas mulheres que só são felizes quando são as amantes, que pulam de relacionamento em relacionamento partindo corações. Mas ao mesmo tempo em que a Homewrecker é amada e desejada por vários, ela é solitária e sofre constantes decepções - afinal de contas, ela está sempre em segundo plano. Destaque pra um dos meus trechos favoritos: "Every boyfriend is the one until otherwise proven / The good are never easy, the easy never good / And love, it never happens like you think it really should (...) I guess you could say that my life's a mess, but I'm still looking pretty in this dress / I'm the image of deception"

5.  ♡ Starring Role  ♡ 

Muito bem. Lembram que eu acabei de dizer que um dos problemas da Homewrecker é que ela nunca está em primeiro lugar? Então. Starring Role fala exatamente sobre isso - como é ser a coadjuvante, a "outra", aquela que serve apenas pra divertir e entreter, que alimenta fantasias - e mesmo assim ela continua se submetendo a isso, porque talvez  seja melhor ser a outra do que simplesmente não ser. É sobre amar alguém, ser constantemente deixada pra lá e não ter forças para dar um pé no querido. Tá fácil pra ninguém não. "You don't love me, big fucking deal (...) You know I'd rather walk alone than play  a supporting role if I can't get the starring role"

6.  ♡ The State of Dreaming ♡

The State of Dreaming retrata a vida plástica da Primadonna. Ela se recusa a encarar a realidade, então ela criou um mundo próprio onde cada desejo seu é realizado. Só que esse mundo só existe em seus sonhos, porque a realidade dela é cheia de receios e abandono e mentiras - por isso a insistência no trecho "My life is a play, is a play, is a play". É a última esperança da Primadonna, um mundo onde ela tenha tudo.  Só que isso acaba cobrando um preço muito caro, como sempre. No link acima, tem um comentário muito pertinente que eu acho importante ressaltar: com essa música, a tragédia de Electra Heart é muito mais palpável. (Pareço professora de literatura maluca analisando essas músicas, mas tudo bem). 

7. ♡ Power and Control ♡

E novamente, temos  mais uma música sobre a Homewrecker. Essa é um pouco menos dramática - podemos dizer que é sobre quem  manda em um relacionamento. Dificlmente duas pessoas gostam de ficar na mesma situação; alguém tem que mandar e o outro tem que ficar subordinado. Enquanto a Homewrecker se sentia vulnerável em Starring Role, agora ela retoma o seu poder e sua força. Atenção para os trechos: "Women and men, we are the same but love will always be a game (...) Think you're funny, think you're smart, yeah you may be good looking, but you're not a piece of art (...) A human vulnerability does not mean that I am weak".

8. ♡ Living Dead ♡

O foco sai da Primadonna e da Homewrecker e volta para a Teen Idle. Uma adolescente morta por dentro, que espera o início de sua vida - um início que nunca chega. Os vários arrependimentos, a sensação de vazio, a preocupação com nunca ter vivido o amor e ficar presa numa vida sem algo que realmente alimente a alma. Eu gosto de pensar que a Teen Idle é a origem de todos os outros arquétipos. "I lay back in a glittery mist and I, I think of all the men I could have kissed / I haven't lived life, I haven't lived love, just birds eye view from the sky above"

9. ♡ Teen Idle ♡ (versão maravilhosa ao vivo)

Não consigo ouvir essa música sem sentir todo o tipo de coisa. É a que mais me arrepia no álbum inteiro, e definitivamente uma das quais eu mais me identifico. É sobre uma adolescência perdida entre mentiras, tristezas e todo o tipo de confusão que ocorre  nesse período. A vontade de ser alguém diferente, "I wanna be a bottle blonde"; a vontade de se isolar completamente,"I wanna stay inside all day / I want the world to go away"; a vontade de querer viver uma vida plástica para não ser obrigada a enfrentar a realidade "I want to be a real fake / Yeah I wish I’d been, I wish I’d been a teen, teen idol / Wish I’d been a prom queen fighting for the title instead of being 16 and burning up a bible / Feeling super, super, super, suicidal"..

10. ♡ Valley of the Dolls ♡

Essa é uma das músicas mais eloquentes no que se diz à mudança de identidade. Su-Barbie-A, que já mudou tantas vezes para agradar os outros, está perdida - no tal vale das bonecas. Essa música, além de ajudar a "amarrar" os arquétipos, por assim dizer, também faz alusão a um livro que virou filme em 67, chamado "Valley of the Dolls", que conta a história de três mulheres que atingem a fama e acabam conhecendo o caminho da autodestruição. "Got a hole inside of me / Living with identities that do not belong to me (...) Pick a personality for free when you feel like nobody"

11. ♡ Hypocrates ♡ (versão maravilhosa ao vivo)

Penúltima música do álbum, Hypocrates é uma música que eu não consigo encaixar em nenhum arquétipo, simplesmente porque é uma música de libertação. É sobre retomar a própria vida e a própria identidade, apontando a hipocrisia daqueles  que a cercam. Afinal de contas, " I know you only want to own me and that's the kind of love you show me / You tell me one thing and do another / Keep all your secrets under cover /Who are you to tell me who to be?"

11. ♡ Fear and Loathing ♡

A música que encerra o álbum também encerra a história dos arquétipos, de certo modo - é uma interpretação plausível. Depois que se muda tanto pelos outros e de sofrer decepção atrás de decepção, existe a libertação. Não é mais preciso viver com medo e desgosto, as máscaras são jogadas foras - repare que no vídeo Marina não está com os cabelos loiros característicos de Electra. O curioso é que essa foi a primeira música do Electra Heart que foi lançada. Mas de qualquer modo, é uma música sensível e maravilhosa. "Don't wanna live in fear and loathing / I wanna feel like I am floating instead of constantly exploding in fear and loathing".

E é por essas razões que eu posso dizer que Electra Heart se tornou um dos meus álbuns favoritos, e a Marina uma das minhas cantoras favoritas. Se você não a conhecia, espero que escute as músicas e se apaixone como eu me apaixonei.

E ah, pra finalizar esse post gigantesco que me tomou mais tempo do que deveria: no dia 20 de julho de 2010 foi publicado o primeiro post do Inside the Secret Window. E o mais engraçado? É um post que fala sobre máscaras e mentiras, com uma frase significativa em destaque: "Eu não preciso mais de uma mentira para ser eu mesma."

Vidinha engraçada, não? 

E ah, se alguém quiser me dar o Electra Heart de aniversário de blog, de presente de aniversário atrasado, ou simplesmente porque eu sou fabulosa, tô aceitando.