quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

#12 - A Diferença Entre as Cordas

written by Larissa Rainey at 00:04
Rope Walker by ~smokepaint

O canto que une uma parede a outra é o corpo que me abraça. O chão frio decorado por fios de cabelo é a única coisa que meus olhos assimilam. Não há luz que ilumine meu caminho nem calor que me aqueça. O que um dia foi tão familiar se torna desconhecido e não sei por quanto tempo permanecerei aqui. Imagino que as paredes que se fecham ao meu redor sejam apenas os restos das ruínas de alguém que já fui. Meu mundo é o das especulações, das teorias, dos incontáveis "mas e se...", do dia-a-dia cretino embelezado com algumas camadas de gramática correta. 
Existem várias cordas que me puxam para lugares onde não quero estar. Não quero estar aqui - quero estar lá, mesmo que eu saiba que lá não é perfeito. Mas sou puxada para o lugar onde estou e as cordas sussurram numa língua obscura que eu deveria estar contente. Minha missão enquanto pessoa-que-vive-no-meio-das-outras é a de estar sempre contente,  agradável aos olhos e ser imensamente grata. Ser mais uma - eis meu pesadelo.
Não gosto das cordas ásperas e grossas. A cada milímetro delas, estão escritos todos os meus defeitos e minhas fraquezas. Olhar para os meus pulsos pálidos envoltos por elas só faz com que algum canto de mim se machuque ainda mais. E a cada tentativa de me libertar, só me prendo ainda mais.
As cordas finas e fracas, entretanto, não são melhores. Toda vez que me liberto, tropeço-me em mim mesma e tomo a decisão errada. Volto para o meu posto anterior, com culpa e receio. Como uma pessoa que não confia em si mesma poderia querer confiar em outro alguém? Como amar e tolerar quem está de fora da fogueira? E como esperar esse amor e tolerância dos outros? 
São perguntas demais, e nenhuma resposta. Pergunto-me como me prendi tanto assim. Teria eu nascido prisioneira num corpo e numa vida que nunca pedi? Ou fui presa depois de ser tão horrível? Talvez nada disso importa. Suas origens não anulam o fato de que continuam aqui, perversas e más. Dizem que essas cordas são imaginárias. Válvule de escape, caverna para todos os meus medos. Não posso contradizer essa afirmação, mas novas perguntas surgem. Se estou apenas no campo abstrato e imaginário, por que o meu corpo de carne e sangue sofre?
Mas eu sei que um dia eu terei toda a liberdade que eu quiser. É essa a única corda que eu gosto - a da esperança. E veja só, aparentemente ela está um pouco mais forte hoje...


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