Ornette, por Leslie David
O mundo é uma lata de lixo azul e verde.
Vivemos numa sociedade que deixa à margem da miséria milhões de pessoas. Sem comida, sem água, sem saneamento básico e sem educação. Dizem-nos que faz parte do sistema. E para a parte da população que pode se alimentar, inventamos padrões estéticos impossíveis de serem seguidos. Dizemos a essas pessoas que elas não devem comer, que elas não merecem comer. Que a comida é o grande vilão. Deixamos essas pessoas desconfortáveis ao ponto do ódio pelo próprio corpo. Viva a base de sucos e tenha o corpo dos seus sonhos! No final das contas, ninguém merece comer - nem o miséravel, nem as celebridades milionárias.
Vivo entre pessoas que forçam laços familiares sem entenderem o conceito verdadeiro de "família". São obrigações e acusações e humilhações. Não existe respeito nem solidariedade. Cresci cercada de fofocas e mentiras. Mas eu deveria agradecer a tudo isso. Tudo isso serve a um bem maior. Mesmo que me façam acreditar que eu não sou merecedora da cama em que eu durmo. Mesmo que o meu corpo seja motivo de chacota. Pena que eles ainda não aprenderam que eu sou diferente da mulher que eles queriam que eu me tornasse. Eu queimei as caixas, e continuo queimando tudo ao meu redor. Não me interesso por falsidade nem por obrigações. Eu acompanho quem eu quero, o meu caminho me pertence. Eu reivindico o sangue que corre nas minhas veias. Ele é meu. De mais ninguém. Não force a sua mente tóxica tentando criar laços que jamais existirão.
Vivo entre a histeria total e a racionalização sistemática. Meu coração explode de sentimentos enquanto meu cérebro prepara as estratégias de guerra.
A guerra é contra o mundo, contra todas as amarras, contra mim mesma.
Minhas armas são as cores que coloco nas minhas palavras.
1 comentários.:
Seus textos, sempre incríveis.
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