Hoje na TV Cultura, o programa "Deu Paula na TV" foi ao ar com uma matéria sobre a GallifreyCon 2012. Pros desavisados, a GallifreyCon foi o primeiro evento brasileiro oficial de Doctor Who, feito pelos fãs para os fãs. Eu tenho orgulho de dizer que participei disso e fiz parte do staff (e fiz cosplay involuntário). Foi uma experiência muito divertida, e eu iria postar sobre no blog mas... não postei. Hehe. Péssima blogueira é péssima. Enfim, assista à matéria antes de conversarmos mais sobre o que realmente interessa:
meu cabelo de figurante
Foram apenas 2 minutos e meio, mas que dão espaço para bastante discussão - não apenas entre os Whovians, mas para qualquer pessoa que seja fã de qualquer coisa.
Primeiramente: eu tenho dificuldade para entender porque a imprensa tem tanta pressa para rotular algo de "nerd". Gostar de uma série não te faz "nerd". Afinal de contas, até um tempo atrás ser nerd não era algo ruim? Por que se transformou nessa palavra que deixa qualquer coisa com cara de cool e inteligente?
Daí eu fui procurar o significado da palavra "nerd" no dicionário, pra ver se eu entendia melhor o que realmente é ser nerd. A palavra "nerd" apareceu pela primeira vez no livro If I Ran the Zoo, do Dr. Seuss.
come at me bro |
De acordo com o Free Dictionary, um nerd é:
1. uma pessoa que não é atraente, que é boba e inepta;
2. uma pessoa que possui talentos em alguma área científica mas não tem habilidade para falar com as pessoas;
3. uma pessoa chata e impopular e que é obcecada por algo.
Ok, agora eu entendo um pouco mais sobre a identificação que as pessoas tem com esse rótulo. Me chamem de antiquada, mas eu ainda sou da época em que ser chamado de nerd era uma das piores coisas que uma pessoa na escola poderia ser chamado. Pelo menos ninguém nunca virou pra mim e disse, "Ai Larissa, sua nerd!" quando eu tinha uns treze anos pra me elogiar. Tudo isso por causa da péssima conotação que a palavra tem. Ao ser chamado de
Mas sabe aquela coisa "only a ginger can call another ginger a ginger?" Então. Acho que assumir as suas obsessões por livros e séries e filmes e ciência e seja lá o que, é positivo. Não ter medo de se vestir como um personagem e participar de um fandom e etc. sem ter medo de repercussões negativas é ótimo. É um grande "fuck you" para a mesmice; é a celebração da diversidade. Entretanto, o que acontece quando outra pessoa te chama de "nerd"? Ela está realmente aceitando as suas paixões ou apenas te rotulando enquanto finge tolerar uma realidade diferente? Ser chamado de nerd é elogio ou ofensa?
Eu, particularmente, não me considero nerd - apesar de ser chamada disso incontáveis vezes. Simplesmente não consigo - talvez por eu ainda estar presa na conotação negativa desse rótulo.
O que realmente me deixa desanimada nessa coisa toda de ser nerd é a maneira com que os nerds são vistos. Sabe, é óbvio que ninguém dorme fantasiado. As pessoas falam que os nerds estão sendo mais aceitos, mas matérias como essa fazem com que eu questione isso. Existe tanta coisa interessante dentro da cultura nerd para ser mostrada e os pontos que sempre são reforçados são esses: o quão "estranho" um nerd é, o quão "fora da realidade" ele é, o "você acredita no Papai Noel? Não? Então porque você acredita num personagem de ficção?"
Já que ser nerd é legal, vamos botar o cérebro pra funcionar e explorar as partes que valem a pena: o amor por algo, a perpetuação de conteúdo, o prazer que os fãs têm em organizar eventos para eles mesmos, a dedicação, a conversa interessante que rola durante os eventos, como uma série britânica se tornou tão conhecida no Brasil devido a nada além do amor dos fãs, a oportunidade de mostrar para o público conteúdo diferente, a profundidade dos debates que rolam durante eventos como esse, e como várias pessoas ""socialmente ineptas"" se conhecem através de séries/livros/filmes.
Porque quando você mostra algo para alguém rotulando-a com uma palavra tão forte, a pessoa esbarra nessa palavra e não olha além. Quando você diz que Doctor Who é uma série nerd, você exclui todo o histórico de ficção científica dela. É como se fosse uma série APENAS para nerds - assim como todas as outras coisas que erroneamente são rotuladas como nerds, e só. É como se você perguntasse a alguém sobre O Senhor dos Anéis e te respondessem "ah, é livro pra nerd" ao invés de "é uma trilogia de livros de fantasia".
Acho que me enrolei expondo meu ponto de vista, mas quero deixar registrado dois apelos:
- Você não precisa bater na tecla do "nerd" toda vez que vai falar sobre algo;
- Eu queria ter meu próprio programa de TV. Juro que eu não vou comparar o Doctor com a Carminha, juro.
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