Se eu tivesse visto esse filme antes de fazer o Top 10, ele definitivamente estaria na lista.
Ruby Sparks é um filme... comum, até. Não é a primeira vez que existe o dilema "pessoa-criou-a-pessoa-perfeita-do-nada-e-agora-ela-é-real". Por isso, ao ver o escritor bem sucedido Calvin com bloqueio criativo e que acaba materializando uma menina perfeita, eu torci o nariz. Mas tinha algo na história que me prendia, e só percebi o que era no final.
O filme é cheio de clichês. O escritor esquisitinho bloqueado que se vê na sombra do próprio sucesso, a menina imaginária que se torna real e é cheia de esquisitices bonitinhas à la Zooey Deschanel, o irmão bem sucedido, o cachorro... Mas o que eu realmente gostei do filme foi o desenrolar dessas personagens.
Calvin, ao descrever sua relação com uma menina imaginária, acaba desenvolvendo a personalidade dela. E daí é que entra o famoso ditado de que toda mania, no começo de qualquer relacionamento, é perfeitamente aturável. É bonitinho, é fofo. Mas quando você conhece melhor a pessoa, o que era bonitinho vira merda. O primeiro problema de Calvin com Ruby é quando ela resolve sair com os amigos e voltar mais tarde para casa. Daí ele quebra a primeira promessa - de não escrevê-la mais. E então ele se lembra do poder que tem sobre Ruby.
Se ele quer que ela fique completamente miserável, basta ele escrever meia frase e pronto - lá está sua Ruby, que chora se ele larga da mão dela. Se ele quer que ela fique feliz, ele tem uma Ruby histericamente alegre. Ela se torna, finalmente, a boneca dele - todas as mudanças de humor são ditadas por ele. Mas e a autenticidade que ele tanto amava nela? Foi embora, porque era conveniente.
Taí uma coisa que me fez pensar... se pudéssemos fazer com que qualquer um se curvasse às nossas vontades, não existira originalidade. Passaríamos a vida controlando e manipulando, sendo controlados e manipulados. Até que ponto aturamos certos defeitos? O defeito é realmente um defeito ou algo que simplesmente não corresponde às nossas expectativas? Amamos pessoas ou as imagens que temos delas?
Talvez por isso eu tenha gostado tanto do final, e do filme em geral. Ruby Sparks não é genial, nem inovador. Mas é um daqueles filmes adoráveis e que nos enchem de uma certa melancolia... somos amados por inteiro ou apenas pelas construções que fazem em cima de nós?
0 comentários.:
Postar um comentário