domingo, 15 de setembro de 2013

#26 - A Mansão dos Ecos

written by Larissa Rainey at 16:22
Leaving the past

O espaço está preenchido com estruturas firmes. Tudo está em seu devido lugar, funcionando perfeitamente. As paredes não desabarão em cima de mim, o chão não quebrará, eu não cairei. As escadas me levam aos andares certos, sem hesitação. Não existem degraus falsos nem algum corrimão frouxo. O necessário para eu sobreviver sem me machucar está bem na minha frente. 
Mas enquanto eu subo as escadas, o que era tão certo se perde na eletricidade dos gritos que escuto. Olho para os lados, deixo uma mecha de cabelo atrás da orelha para nada atrapalhar minha visão. Continuo andando, desconfiada. Tem algo errado, eu sei que tem. Eu ainda não enlouqueci. Isso não é paranoia.
Abro a única  porta do segundo andar. Não está trancada - e isso me deixa em estado de alerta. O chão  está coberto de areia suja, e o ar está tão quente e úmido que qualquer passo torna-se uma caminhada árdua. Reencontro todos os brinquedos que perdi em mares distantes. Esqueço o meu cansaço e começo a fazer esculturas de areia, com minhas mãozinhas rechonchudas e desastrada - e pela primeira vez, consigo construir um castelo aceitável. Eufórica com minha nova construção, mal noto os pingos d'água que começam a cair em meu rosto. Só percebo algo quando o quarto inteiro está tão alagado. Na minha ânsia de sobreviver, nadei para fora do meu pequeno paraíso de areia. A porta se fecha, sem muito barulho. Tento abir a porta novamente para construir outro castelo - o quarto está trancado. Só me resta subir as escadas.
Não fico por muito tempo no  terceiro andar. O corredor treme com o som da rejeição. A firmeza das minhas estruturas me enganou novamente. Para alguém como eu, não existe lugar seguro na Terra.
Finalmente subo até o quarto andar. Revejo rostos familiares, e por meio segundo fico aliviada. Mas lágrimas e vozes trêmulas compõem a cena. Minha única vontade era sumir daqui.
"A única vontade dela era sumir daqui", escuto alguém dizer. Candelabros de bronze pendurados na parede iluminam o caminho - meus passos hesitam em seguir em frente, mas seguem. 
Uma onda de pânico absoluto me toma por inteira quando vejo que estou em um funeral. Aquela era eu. 
Aquela era eu. 
Corro até onde consigo. Aquela não sou eu. Aquela não sou eu. Perco-me num labirinto escuro de mágoas até encontrar mais uma escada.
Os cupins estão roendo a madeira do corrimão. Um degrau firme, para tantos outros falsos. Quando olho para o chão, vejo que o  abismo está me esperando - um abismo pronto para me devorar e me transformar em gelo puro. Mas eu não tenho pra onde ir. Nunca tive. Sempre com os olhos no horizonte, agarrada à promessa de Um Futuro Melhor. Apaixonada pela improbabilidade de algo dar certo. Só visto os fiapos que a esperança me deu. 
Eu não sei o que o sexto andar me espera. Mas não posso voltar a bater nas portas que se fecharam para mim. 

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