segunda-feira, 2 de maio de 2011

A arte de desenvolver armas

written by Larissa Rainey at 20:55 3 comentários.
       Acredito que um indivíduo é tão perfeito e tão falho em sua própria individualidade que ele perde no meio do caminho. Nós, seres humanos, somos demais e não somos nada ao mesmo tempo. Na primeira oportunidade, na primeira brecha entre o espaço e o tempo, caímos e morremos. Mas, se quisermos, conseguimos conquistar e nos desenvolver de maneira soberana e perfeita. 
       Eu sou um ser humano. Eu sou alguém que sofre pelas coisas pequenas, pelos detalhes minúsculos, por um tom de voz mais elevado, por um comentário mais ácido, por uma expectativa não concretizada. Eu sou vulnerável ao ponto de me machucar com as minhas próprias palavras. Odeio minhas lembranças e odeio minha personalidade. Não nasci para me misturar com qualquer um, não nasci para ser amiga de todos, não nasci para ser mais uma. Eu sou tão perfeita e tão falha que sofro justamente por isso. A parte falha tenta de qualquer modo ser perfeita, e a parte perfeita não se mostra. A minha perfeição se esconde que sempre que procuro por ela, nunca a encontro. Talvez por isso ela seja tão perfeita. Ela quer que eu a rastreie, a cace, e vá até o inferno para buscá-la.
      E minha parte falha resolveu que quer entrar em equilíbrio com minha perfeição. "As duas têm que se complementar", ela me diz. "Ah claro, e como você pretende fazer isso sendo tão... falha?" eu respondo.
      Sozinha, não consigo. E por mais independente que eu seja, por mais acostumada que eu esteja com a solidão, eu sei que não conseguirei o meu equilíbrio dependendo apenas de mim. Eu me traio, eu me saboto. Então, a solidão não é uma opção. Mas eu tenho um pouco de sorte, e tenho um pequeno exército - pelo menos é assim que eu os chamo, secretamente. Eles percebem quando eu preciso deles, eles sabem quando eu preciso ser carregada para longe do lago, eles sabem quando eu estou prestes a afogar. E eles me carregam e me dizem o que eu preciso ouvir. Veja bem, eles dizem o que eu preciso ouvir. O que é muito diferente do que eu quero ouvir. Eles não me enganam. Eles acreditam em  mim e eu cada vez mais dou motivos para eles acreditarem. Já que são meu exército, tenho que fazer com que meu exército confie em mim. E não posso fazer isso se eu continuar caindo a toda hora. Eles me ajudam a lutar, me inspiram, e eu os amo com a intensidade de mil sóis.
     Mas na hora da batalha, meu exército não pode entrar na arena comigo. É a minha guerra, e não a deles. A batalha é minha e o sangue que deve escorrer é o meu. Mas, novamente, não consigo lutar de mãos vazias. Acredite em mim, eu já tentei. E os resultados foram tão desastrosos e inúteis que não repeti o erro. E então eu criei algo que gosto de chamar de: "A arte de desenvolver armas". Alimenta o ego. 
      Desenvolver armas é tão difícil quanto batalhar. Chega a ser até mais difícil. Porque de nada adianta você desenvolver uma arma de qualquer jeito e depois ela ser destruída. Desenvolver uma arma leva tempo, paciência, e muito da sua bagagem emocional. Você tem que estar emocionalmente forte para desenvolver a arma que você mais precisa. Qualquer sentimento de luta e superação tem que estar concentrada naquela arma. As decepções e depressões precisam estar de fora, caso contrário sua arma estará fraca. Acredite em mim, eu venho criando armas desde os doze anos. As primeiras não duraram no primeiro segundo de batalha. Leva tempo até descobrir o que você precisa, do que elas devem ser feitas, e qual arma deve ser usada em qual batalha. É uma arte, como eu disse anteriormente, e toda arte leva tempo para ser desenvolvida em plenitude. 
     Hoje, enquanto eu estava em uma batalha, eu parei para pensar. E minhas armas estão tão mais fortes, e tão mais poderosas, que elas quebram o inimigo em vinte mil partes. Concluí duas coisas. A primeira, é que eu finalmente virei uma mulher. E a segunda, é que foi com sangue escorrendo das minhas mãos que eu descobri minha perfeição.
     Não sou perfeita quando estou equilibrada.
     Só sou perfeita e plena com sangue escorrendo das minhas mãos, durante uma batalha.
     Se eu nasci perfeita, nasci lutando. E só morrerei quando eu quiser perder a batalha.

 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos