segunda-feira, 26 de julho de 2010

A desgraça dos outros é sempre mais verde

written by Larissa Rainey at 20:08 4 comentários.
Hoje, o primeiro paciente que teve transplante facial total recebeu alta. (Leia mais aqui .) Aí, minha mãe me chama, aponta para ele, olha para mim e diz, "Olha esse moço. Você ainda acha que tem motivos para chorar?"
Primeiro que eu não consigo enxergar o caso dele como uma desgraça de fato, motivo de choro. Choro sim - mas choro de felicidade. Ele conseguiu passar por várias coisas e hoje está bem. Ele sofreu duas rejeições agudas, fora o tanto que ele sofria antes desse transplante. Então eu realmente espero que ele fique bem, e que consiga lembrar dessa fase da vida dele com orgulho de ter superado os obstáculos.
Mas agora, porque ele passou por tudo isso eu devo simplesmente ignorar os motivos que eu sofro só porque eles não são tão graves assim? Até porque, pra mim eles são graves. Podem não ser caso de sair no jornal, mas dói da mesma maneira. Os meus motivos me dilaceram, me corroem. Mas eles são considerados como pirraça adolescente. Então o que eu deveria fazer? Berrar? Não. Eu tenho que ficar quieta, eu tenho que me calar, porque eu sou o elo fraco e o elo fraco não é igual aos seus superiores. Eu abaixo minha cabeça, submissa, e olhando apenas para o chão e muitas vezes desejando estar debaixo dele. Finjo um sorriso, coloco uma máscara, porque é a coisa natural a se fazer.
Eu simplesmente acho uma hipocrisia sem tamanho falar que "por que você está chorando se acontece coisa pior". Cada um sofre pela dor que tem. E assumir que outra pessoa realmente deveria sofrer e chorar porque aconteceu algo pior, é um certo tipo de maldade pra mim. É simplesmente virar pra pessoa e falar "ih, você realmente tem motivos pra chorar e sofrer e querer se matar" sendo que você deveria falar que isso acontece, é da vida sofrer mas que um dia ficaremos mais fortes e sábios para enfrentar as coisas. Mas não...
A filha dos outros é mais inteligente e bonita.
A casa dos outros é maior, mais arejada e mais limpa.
O carro dos outros é mais confortável e mais rápido.
A televisão dos outros é mais nítida.
O cachorro dos outros é mais esperto e não faz xixi no tapete.
O trabalho dos outros é mais legal e mais rentável.
E o sofrimento dos outros é mais triste. O sofrimento dos outros sim, dá vontade de chorar.

Por que não paramos de nos comparar aos outros e lutar pelo o que é nosso? Apreciar a nossa filha, a nossa casa, o nosso carro, a nossa televisão, o nosso cachorro, o nosso trabalho, e sofrer o nosso próprio sofrimento?

sábado, 24 de julho de 2010

Baixo, bem baixinho....

written by Larissa Rainey at 16:07 3 comentários.





Eu sou de Áries. 2 de abril. Primeiro signo do horóscopo. Elemento? Fogo. Tem gente que não acredita que os céus interfiram na nossa vida, mas eu acredito. Tem muitas coisas relacionadas ao signo de Áries que muitas vezes eu acho que eu sou a garota-propaganda desse signo. Teimosa, facilmente irritável. Um tornado, furacão, um incêndio. Tanto que, ao lado desse post, tem a parte de "Quem sou eu". E uma das frases pela qual eu me defino: "um incêndio preso num rosto delicado.";
Sim, porque quem me vê não acredita o quão estressada eu sou, o quanto eu odeio certas coisas e o quanto eu posso ficar nervosa diante de certas situações. Eu tenho cara de bobinha, e sei disso. Então quando eu grito, quando eu explodo, quando eu mando todo mundo ir pra puta que o pariu, as pessoas ficam chocadas. Sinceramente? Já estava na hora da humanidade perceber que não se pode confiar nas aparências.
Ultimamente, eu estava bem. Trabalhando, fazendo minhas coisinhas, me estressando de vez em quando, mas quem passa dias sem um stress. Mas parece que hoje, justo hoje, tudo desandou. Como se aquele monstrinho dentro de mim tivesse acordado com um sorriso no rosto. Vamos brincar?, ele diz...
E o motivo é o mesmo de sempre. Quanto mais você espera algo de alguém, menos elas respondem às suas expectativas. Quanto mais eu espero algum tipo de respeito e/ou compreensão de certas pessoas, menos elas me respeitam e me compreendem. Eu não sou o seu cachorrinho. Você não pode me bater, me xingar, gritar comigo e depois de quinze minutos me fazer carinho na cabeça que tudo fica bom de novo.... até você me bater, me xingar e gritar comigo novamente. Isso se tornou um círculo vicioso na minha vida que eu estou afim de quebrar, mas simplesmente não sei como. Porque eu sou o elo fraco. Se eu estou aqui, é por causa dela. Tudo o que eu fizer será - e já é - jogado contra mim. Porque ela tem mais "moral" do que eu. Os filhos são ingratos, uns monstros, egoístas. Será que as pessoas se esquecem tão facilmente dos danos que um dia causaram aos outros? Será que de repente ela se esqueceu de que quando eu estou no topo, eu posso cair na mesma hora? Será que ela se esqueceu de que até eu voltar a esse topo, eu demoro dias? Será que eles esqueceram de que eu não sou o cachorrinho deles? Nem o enfeite deles? "Ah, olhe aqui, a nossa filhinha, ela é ruiva e bonitinha, fala inglês fluente, trabalha e faz Publicidade e Propaganda e vai fazer francês ", mas quando os outros viram as costas, eu viro o monstro ingrato e egoísta. A burra que não sabe nada, a burra que é um lixo só porque não tem um namorado, a burra que é feia e gorda. 
Se fosse qualquer pessoa que falasse isso, eu não ligaria. Mas e quando esses ataques vêm das pessoas que não deveriam falar tais coisas? Tudo bem, eu não sou um buquê de rosas e ninguém é, e faz parte da tarefa deles de me educar e mostrar o que eu estou fazendo de errado. Até aí, ok. Quando eu erro, eu fico com o rabinho entre as pernas (rá) e beleza. Eu estou errada, porra. Mas e quando eu não estou? Eu realmente devo ficar com o rabinho entre as pernas quando eu não fiz NADA e esses 'ataques' são gratuitos? Será que eu sou tão inútil que eu realmente mereço as coisas que ouço?
...
Chega um ponto que não dá mais para escrever. As minhas mãos tremem e eu pareço uma louca enquanto digito isso. Enquanto eu me exponho. Eu não escrevo isso para vocês terem pena de mim e me abraçarem. Eu escrevo isso porque se eu não escrever, eu morro. Simples assim.

Deixarei vocês com um poema da Emilie Autumn (porque os rios da minha vida sempre levam a ela -q) chamado Rant II. Traduzido, claro. O original está aqui.


O que é o sentimento, que pode ser esmagado tão facilmente?


Será que eu construí alguma coisa durante um dia feliz que não pode ser destruído pelas tristezas inevitáveis do amanhã? 
Eu sou tão frágil que apenas uma palavra fora do globo transparente que engloba o meu corpo físico, sendo dito, corta a cúpula invisível e me deixa totalmente indefesa contra o ataque das realidade cotidianas? E o que deverá ser dito para reconstruir essa concha? Será que ela me providenciará algo mais do que algumas poucas horas curtas de divino esquecimento? Ah, mas o que poderá ser realizado em algumas poucas horas? Muitas coisas grandes, e essas coisas, se cuidadosamente construídas, poderão talvez mobiliar uma espécie de sala de espera de um hospital que, na próxima vez que eu não estiver revestida da minha cúpula, eu poderei passar o tempo em ambientes mais confortáveis ao invés de correr diretamente para a sala de operação.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Mentiras

written by Larissa Rainey at 20:05 6 comentários.


No álbum The Opheliac Companion, que é um making of que a Emilie Autumn fez do álbum Opheliac, ela explicou de onde surgiu a letra de Liar. A letra toda, que é basicamente um amor obsessivo, foram coisas que falaram a ela. Que a pessoa ia mostrar pra ela toda a beleza que ela tinha e não sabia, porque só a pessoa seria capaz de fazer isso. Que se a pessoa estivesse machucando-a, era para o próprio bem dela. Que era para os dois misturarem o sangue e enterrassem num jardim, para quando um quisesse ir embora, tivesse que ter o trabalho de desenterrar a jarra. Assim, pensariam melhor se deveriam ir mesmo. Como se a pessoa quisesse que ela sofresse, apenas para consertá-la. Isso acendeu uma luzinha na minha cabeça, e não apenas em relação à música. E sim sobre a minha própria vida, e as mentiras que sempre a cercaram, vindas de pessoas tão diferentes.
As pessoas mentem. E muito. Eu minto. Não sou nenhum buquê de rosas. Minto quando estou mal. Não suporto que me olhem com cara de piedade, não suporto ser a garota sentada num banco e chorando no meio da rua. Eu minto, esboço o meu melhor sorriso. Uma máscara. Uma mentira. Mas eu não minto para prejudicar alguém, para enganar alguém de uma maneira maliciosa, digamos assim. As minhas mentiras servem para que as pessoas que eu amo não se preocupem comigo, e não sofram por mim. Eu nunca diria "Eu te amo" para alguém que eu não amasse, como já fizeram comigo. A oportunidade de uma mentira assim já surgiu, e eu preferi ser límpida. Talvez seja por isso que hoje eu estou sozinha. Mas eu prefiro estar assim do que aquecer o coração de alguém com frias mentiras. E eu sei que existe esperança quando alguém faz a gentileza de ser honesto comigo - porque francamente, a humanidade anda tão manipuladora que honestidade se tornou gentileza.
Sentei para escrever esse post, e de repente eu perdi todo o meu controle. Eu ia escrever uma coisa engraçada, mas aí eu comecei a ouvir certa música que desencadeou certo pensamento, e o resultado? Uma tempestade de emoções, quentes e frias. Me lembrei das mentiras que me contaram e eu acreditei. Me lembrei das máscaras que eu usei, me lembrei do que não deveria ter lembrado. Me lembrei das ilusões que criei, dos beijos que nunca recebi, das lágrimas que derramei e das lágrimas que nunca foram derramadas por excesso de orgulho. Me lembrei dos abraços que eu de fato recebi, dos sorrisos verdadeiros, das risadas descontroladas. E cheguei a conclusão que faz tempo que eu usei uma máscara. Eu me sinto confortável na minha própria pele. Eu gosto de ser pálida, ruiva, "encorpada", com óculos, cara de boneca séria. Cara de estranha, cara de perdida, cara de menininha bobinha. Gosto de fugir do estereótipo.
Eu não preciso mais de uma mentira para ser eu mesma. Essa é a liberdade, meus caros. E estou aproveitando cada minuto.

P.S. - Hoje é um dia importante. Finalmente fiz minha matrícula no curso de francês. E quem vai pagar metade sou eu, com o meu dinheiro. ;)
P.S. 2 - Dica para os homens que não tem um pingo de classe: chamar uma mulher de gostosa pra rua inteira ouvir não vai fazer com que ela durma com você. Vai fazer com que ela fuja e morra de vergonha, isso sim.

 

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