sábado, 16 de março de 2013

Os dias de crianças errantes acabaram.

written by Larissa Rainey at 01:19 0 comentários.

Já mencionei aqui no blog que eu estava escrevendo um livro. Se chama "The Wandering Children", e comecei a postar alguns capítulos no tumblr. Mas todo mundo que me acompanha sabe das dificuldades que eu tive pra continuar com o projeto, e... ele vai ficar de molho. Por um ano. 
Definitivamente, não é a minha vontade. Entretanto, 2013 é um ano completamente voltado para o meu lado profissional e acadêmico. Me formo esse ano, comecei a trabalhar (coros de anjos cantam aleluia de roupinha rosa) e simplesmente não dá tempo para pensar em The Wandering Children. Tá, pensar até dá, mas não vou ter tempo de colocar no papel, consistentemente. Se eu focar em TWC da maneira que estou me focando na faculdade e no trabalho, eu morro de exaustão. Por enquanto o tcc não tá muito apertado... mas vai ficar. E eu quero um tcc no mínimo excelente, então eu preciso dar meu sangue e estudar. muito.
Como eu só postei até o sétimo capítulo no tumblr, decidi upar o pdf com tudo o que eu escrevi até agora. São onze capítulos, com muitas alterações, possíveis erros de gramática e partes sem noção... mas tá aí. Clique aqui pra ver o tal do pdf.
Podem ter certeza que um dia ele vai ser publicado - eu preciso contar a história das minhas crianças.
Beijo no coração de vocês, e mil agradecimentos a todos que me deram força pra escrever essas meras 59 páginas. Um dia eu chego nas trezentas.

Trilha sonora do momento: Belle & Sebastian - My Wandering Days Are Over



sexta-feira, 8 de março de 2013

#15 - Linda, libre y loca

written by Larissa Rainey at 18:04 0 comentários.
O que é 'ser mulher'?
O que é e o que significa ser 'feminina'?
Ser mulher é ter uma vagina? Ser mulher é ter cabelo comprido e usar salto alto? Ser mulher é ser "complicada e perfeitinha", cheia de paradoxos? Ser mulher é gostar de flores? O que define uma "mulher de verdade"?
Quem decide essas regras? São regras? E por que se definem essas regas? Quem se beneficia delas?
E por que me dão parabéns pelo dia das mulheres sendo que eu ainda preciso "me dar ao respeito"? Por que me parabenizam sendo que vão contra um salário igualitário? Por que me parabenizam por ser mulher sendo que uma das piores ofensas para um homem é ter características femininas? Por que me parabenizam por ser mulher insultando o meu corpo e as minhas barreiras num espaço físico comum? Por que parabenizam todas nós, mesmo quando existe tanta desigualdade e tanta injustiça acontecendo contra as mulheres? 
De que adianta me presentear com flores se tantos não me veem como humana e como igual? De que adianta separar um dia no ano para mim se o meu corpo aparentemente não é meu, e deve pertencer à sociedade? De que adianta ressaltar nossas qualidades se nos outros dias do ano somos criticadas todo santo dia? De que adianta ter um dia "só para as mulheres" se ainda tem gente que questiona "porque não fazem um dia para os homens"?
Será que algum dia poderei olhar para trás e ver que as coisas melhoraram? Será que um dia homens e mulheres serão iguais e poderão ditar o que acontece com seus próprios corpos? Será que um dia homens não se sentirão emasculados ao chorar, ao usar rosa, ao gostar de algo 'tipicamente' feminino? Será que esses papéis irão mudar? Será que meus amigos transgêneros e transsexuais  terão o respeito que lhes é de direito?
Não sei a resposta para nenhuma dessas perguntas... ou até sei, mas isso é coisa pra outra crônica. Só sei de uma coisa.
Com meu fogo característico, derreti os moldes que tanto me prendiam. Não trocaria o que sou, mesmo se eu pudesse ganhar o mundo sendo outra pessoa. E vou continuar buscando o que é meu, tendo meus sonhos e ambições e particularidades.
Sou linda, livre e louca.




sábado, 2 de março de 2013

#14 - E de tanto ficar bolada, virou uma bola

written by Larissa Rainey at 01:46 1 comentários.
She upset the weather by sameoddstory

Raíssa era uma menina bonitinha. Não saía de casa sem corretivo, delineador e rímel - pra "não ficar com cara de morta". Não gostava de colares porque eles incomodavam no calor. Gostava de rosa, de renda e de  brilho. Mas também gostava de preto, couro e meia-calça. Não que isso seja importante para a construção do caráter dela. São apenas informações pequenas, dessas que a gente guarda no coração pra quando precisar.
A Raíssa tinha só um problema - ela se preocupava demais. Com o cabelo, com as olheiras, com as unhas, com o trabalho, com a faculdade, com os pais, com os amigos, com a falta de amor, com o fato de ela achar que falta amor, com o futuro, com a sociedade, com o universo. Pense em qualquer coisa que tece esse mundo e provavelmente a Raíssa já se preocupou com essa coisa. Nem ela entendia porque vivia tão preocupada, tão alerta, tão desconfiada. Ela mal se lembra dos dias despreocupados. Não tem um dia que ela respira fundo antes de dormir e se deixa levar pelo sono. 
Mas a Raíssa sabe esconder bem essas preocupações. Vive distraída, caindo pelos cantos - literalmente, lutando para sobreviver no próprio mar. Dá uma risadinha ali, outra aqui, tá tudo bem. Vê um filme, um episódio, ouve  algumas músicas,  conversa um pouco. Tá tudo bem agora, tá tudo sob controle. Se nada der certo, vai ler algum livro. 
A Raíssa não é uma lindinha? Olha só, que menina bonita. Quer dizer,  ela nem é essa coca-cola toda. Ela se acha bem superestimada, pra falar a verdade. Taí outra coisa que a preocupa constantemente: alguém achar que ela é só bonita. Se alguém achar que ela é incapaz de fazer alguma coisa ou que não é inteligente o suficiente, aí ela pira. "Me chama de gorda, de feia e de ridícula mas não me chama de burra", ela me disse uma  vez. Mas ela não se acha tão inteligente assim, e ela morre por dentro sempre que se lembra disso.
A Raíssa tá sempre morrendo. Sempre bolada, sempre pensativa. Todo dia trocam a ervilha dos colchões dela. E de tanto ficar assim bolada, preocupada e quieta, a Raíssa virou uma bola. Ela vai rolando pelo gramado, incerta e confusa. De cá pra lá, ali e aqui, em todos os lugares e em lugar nenhum. Quanto mais ela rola, mais bolada ela fica.
Mas a Raíssa continua rolando, porque é o que tem pra hoje.





 

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