sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Crônica número 1

written by Larissa Rainey at 12:56 1 comentários.
É de conhecimento geral que o ato de sentir é o combustível do coração. Então, como eu recarrego meu coração quase morto, considerando o fato de que eu mal sinto alguma coisa?
Parece que meu coração afogou -se em si mesmo e nada mais importa. Eu nem consigo me sentir entorpecida - não sou mais capaz disso ultimamente. Qual é o próximo passo, então? Meu coração vai morrer de uma vez e pronto? Posso retirá-lo do meu corpo, enterrá-lo e finalmente ser livre? Porque eu sempre fui uma escrava do meu coração. Sem ele, serei livre para sempre?
Mas, novamente eu me pergunto: o que é liberdade? Sentir-se seguro? Fazer o que eu quiser? Eu ainda tenho a minha mente doentia e essa maldita consciência. Me livrarei disso também? Se eu faço algo, automaticamente minha mente me julga e me mata pelos meus atos errados. Mesmo se me libertar do meu coração, nunca estarei completamente livre - então porque continuo vivendo se nem posso encontrar a liberdade?
What the hell am I doing here?
I don't belong here
Às vezes, eu quero chorar até me desidratar inteira. Mas não consigo mais. Onde estão minhas lágrimas quando mais preciso delas? Normalmente, elas chegam até mim sem convite. Entretanto, nesse momento em particular, eu necessito delas. Eu grito por elas. Eu preciso sentir que sou capaz de sentir algo - qualquer coisa, mesmo que seja uma lágrima quente caindo pelo meu rosto igualmente ardente. 
- o resto do texto foi censurado pela própria autora-

De trás para frente

written by Larissa Rainey at 00:18 0 comentários.
Minha vida estava na trilha certa. Indo do começo, vivendo o meio e querendo que o fim não chegasse.
Mas hoje eu percebi que eu misturei as trilhas e os caminhos. Estou entre as pedras, sem espaço para respirar, entre as pedras e o lago. Quase afogando, sem ar, esmagada entre as pedras pesadas. O meu corpo virou uma massa quase etérea mas que ainda é real, e por isso dói tanto. Respirar dói, pensar dói. Olhar a paisagem dói, pedir por ajuda dói. A dor é o único sentimento que eu conheço.
Eu quero que o fim chegue. Quem sabe assim eu conheça alguma paz, alguma serenidade. Mas ao mesmo tempo tenho medo que nada disso aconteça e que seja tão doloroso quanto continuar vivendo. Será que é por isso que eu não me lancei ao mar ainda? Perguntas, reflexões, pensamentos, não saem da minha cabeça vinte e quatro horas de cada dia e sinto que um dia meu cérebro irá dizer: "Hey, moça, vá se foder. Estou tirando umas férias e só volto quando você deixar de ser toda fodida mentalmente."
As pessoas que eu sempre amei andam despertando minha raiva, e elas não fizeram nada pra merecer isso. Eu tenho vontade de me estraçalhar, mas antes torturar qualquer um na minha frente para que eles sofram uma morte lenta e dolorosa. Não que as pessoas ao meu redor mereçam isso (algumas, talvez) mas eu preciso que alguém sinta a mesma dor que eu sinto diariamente. Para ver se eles aguentariam, para ver se eles então achariam o meu sofrimento desnecessário. Obviamente essa dor é desnecessária, ou você acha que eu curto ficar aqui na merda? Masoquismo tem limites. 
Eu quero que o fim chegue, foda-se o meio, e que o inicio seja anulado.
Tem como?

domingo, 28 de novembro de 2010

Número 2

written by Larissa Rainey at 22:34 0 comentários.
Eu sempre estive ali para você. Nos momentos bons, nos ruins, ouvindo pacientemente tudo o que você tinha para desabafar. E nunca o fiz de malgrado. Fiz porque eu queria te ver feliz e sorrindo. Porque você merece sorrir, no final das contas.
Mas agora eu entendo perfeitamente que eu sou a pessoa mais babaca da face desse planeta.
Tem sempre alguém que vai ser a sua prioridade, alguém que vai fazer você chorar e se preocupar. Tem sempre alguém que vai fazer com que você sofra como uma maluca, mas mesmo assim você vai dirigir todos os seus pensamentos naquela pessoa, e não em quem sempre tentou te ajudar da melhor maneira possível e que precisa de alguém nesse momento.
Eu realmente sou muito babaca, de esperar que um dia você note que tem uma pessoa morrendo aqui.
Porque não, a minha vida não é perfeita.
Não, o meu problema não é apenas com os meus pais e se você tivesse o mínimo de noção, saberia disso.
E eu não curto ficar em segundo lugar, de novo.

I guess I should have reacted the way most of the other girls were, but I couldn’t get myself to react. I felt very still and very empty, the way the eye of a tornado must feel, moving dully along in the middle of the surrounding hullabaloo.” - Sylvia Plath

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Again and again

written by Larissa Rainey at 12:15 1 comentários.
Já perdi a conta de quantas vezes eu já adotei essa atitude, quantas vezes já postei esse tipo de coisa depois de estar na fossa. Eu me sinto como se eu fosse uma alcoólatra, sabe? Depois de beber a garrafa inteirinha de vodka, o alcóolatra promete a si mesmo: "é a última garrafa... o último gole...". Aí ele fica cinco minutos com a garganta seca e depois abre o armário enlouquecido a procura de outra garrafa. Eu sou exatamente assim, mas sem o álcool. A comparação é péssima, mas é verdade. Só que eu não sou viciada em álcool... e sim na minha própria tristeza.
Mais uma vez, eu vou me reerguer. Mas dessa vez, com mais calma. Cair eu sei que eu vou. Sozinha eu sei que não estou. Perfeita eu sei que eu não sou. Mas isso não me impede de voar com minhas asas recém-conquistadas...

(Originalmente escrito em 25 de novembro de 2009; ainda relevante.)

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Desconstruindo uma Rainey

written by Larissa Rainey at 00:31 0 comentários.
Andar em círculos cegamente, sem pensar em porque anda em círculos. Me perdi há tanto tempo atrás, que mal sei o que é andar em linha reta. Todos os dias, os mesmos ciclos e círculos que se contorcem e se convergem em outros ciclos e círculos mas que no final das contas são iguais, sempre. O que senti ontem, sinto hoje e sentirei amanhã. A lógica não muda, jamais. Ano passado, nesta mesma época, recordo de ter sentido as mesmas coisas.
Uma perda de espaço. Um desperdício de tempo. As palavras cansaram-se de mim, mas e eu que não me cansei delas? Eu as procuro, para que desafiem a minha rotina. Mas elas fugiram, sumiram, e aqui estou perdida entre mil lágrimas e o silêncio que cai.
E eu ainda me pergunto, por que eu me importo em escrever. Ou fazer qualquer outra coisa. Existe algo dentro de mim que me anula. O meu coração é gigantesco, e lá cabem todos os sonhos do mundo. (Frase bem Fernando Pessoa, essa) Mas por que a realidade que eu pinto com a minha imaginação parece tão impossível e fora de alcance? Então encontro-me frustrada, pois a minha imaginação é mil vezes melhor do que essa realidade sem cores. Eu fiquei tão viciada em imaginar, que nem o nome com o qual me apresento aqui ou em qualquer outro lugar da internet é verdadeiro. Larissa sim - Rainey não. 
Morton Rainey... eu gosto de pensar em você. Muitas vezes ao dia. Mas você é só um personagem de filme, não existe na vida real. Também é personagem de conto, mas eu prefiro você no filme - estranhamente. Por que eu escolhi o seu sobrenome, Morton? Eu e você somos muito parecidos. A vida bateu na nossa cara e a gente teve que se virar. E nos viramos. Da melhor maneira? Obviamente, não. E a nossa maneira foi bem parecida. Claro que as nossas histórias terminaram de jeitos diferentes - e a minha não terminou, veja bem. Mas foram caminhos tão parecidos, que muitas vezes me sinto... como se você fosse a representação do que poderia acontecer. Ou sei lá, como se você existisse dentro de mim. Ou que eu existo dentro de você, como se o Stephen King no momento que te criou tivesse resolvido representar todas as pessoas como eu. Ou será que eu deveria mandar tudo ir pra puta que pariu?
Acontece que, Morton meu querido (vou te chamar assim e ponto), eu não sou só uma garota que roubou seu sobrenome porque você foi interpretado pelo Johnny Depp. Te conheci através do Johnny, claro, mas você se tornou tão singular que raramente lembro dele quando te vejo. Gosto de pensar que o Johnny te personificou, e muito bem aliás. Melhor do que o final medíocre que te deram no conto. Respeito muito o Stephen, mas ele poderia ter sido mais genial ao fechar a sua história. Mas voltando ao fato de eu ser uma garota que roubou seu sobrenome... Uma vez, fui assinar um papel importante e quase escrevi Larissa Rainey. Esse sobrenome, esse Rainey, essa couraça, essa armadura, me protege de uma certa maneira que sou mais Rainey do que qualquer coisa. 
Eu só queria que você realmente existisse. Para me ajudar numa hora como esta. Ninguém entende. As pessoas se tornam felizes com o tempo, arranjam uma vida. E eu continuo presa aqui, chorando, mas ninguém entende o porquê e pra ser sincera, nem eu entendo. Eu não entendo essa onda de tristeza que me invade todo santo dia, batendo nas minhas costas, como se elas fossem o mar. Todo dia, uma pequena tempestade. 
Essa sou quase eu, quase desconstruída. Porque pra eu me revelar inteiramente e me desconstruir inteiramente... haja silêncio.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Descansar

written by Larissa Rainey at 21:16 1 comentários.
Fechar os olhos, fechá-los para o mundo de novidades
Nada enxergar, contemplar o escuro
A luz domina meus sentidos, quero mais é me deixar entorpecer
Quero sentir o calor do cobertor
E a maciez do travesseiro
Porque já desisti do calor humano
Quero me afundar num mundo de sonhos, pois a realidade não me satisfaz
Quero sonhar com um amor imperfeito
Quero sonhar com as risadas que não dei
Com os beijos que nunca receberei
Quero o escuro confortador
Pois tenho mais medo do que me espera quando o sol está no céu
Do que quando estou em minha cama, imersa em sonhos
Contemplando nada mais do que a escuridão do meu quarto
Quero fechar os olhos e dormir
E senhor, quando for me abandonar,
Coloque o relógio para despertar apenas quando o mundo valer a pena.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Jeudi

written by Larissa Rainey at 17:06 0 comentários.
O momento se perde, se fragmenta em mil pedaços pelo chão. O coração chora, estremece com a visão dos pedacinhos espalhados. Eles não deveriam estar espalhados - é contra a ordem. Aqueles gritos são contra a ordem do mundo. Do seu mundo. Aqueles gritos, aquelas palavras duras que saem daqueles lábios. As palavras poderiam ser um pouco mais suaves, mas não são. Nunca são. Se o coração pedir por delicadeza, por um momento de compreensão, recebe exatamente o contrário. Recebe gritos. Recebe falta de tato. E o coração não vive sem tato. Mas ele tem que continuar. Precisa continuar pulsando, caso contrário ela morre. A pessoa que tem o coração não pode morrer. Não que ela não queira, de vez em quando. Mas a necessidade é maior. Então, ela recolhe cada pedaço do momento que se perdeu. Aproveita a viagem e recolhe os pedaços do coração que se partiu com cada grito, invariavelmente. Consegue colar tudo de volta, no lugar certo. Sente-se orgulhosa. Ama a si própria, não precisa mais do amor daquela que lhe deu a vida. É livre, é poderosa, finalmente livre! Não precisa mais ser amada - o amor que sente por si mesma basta.

O dia termina, e outro começa. 

Com o outro dia, exibe seu bom humor. Seu amor próprio. Faz as coisas que lhe apraz, tendo apenas pensamentos leves. Pensa que alguém ficaria orgulhoso, ou ao menos, feliz com sua mais nova conquista. Mas não. Não ouve nada, além de gritos. A felicidade se perde, se transforma num mero momento, num mero segundo num dia de 24 horas. As coisas que ama são subjugadas pela outra, que crê ser melhor. E ela vê os fragmentos no chão... e se odeia. Maldito ciclo!

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Ao mundo, minha última carta

written by Larissa Rainey at 18:43 2 comentários.


E aqui estou, presa entre essas quatro paredes acinzentadas. O contato com o mundo exterior já deixou de ser realidade há muito tempo. A carcerária colocou uma mesa, uma cadeira, papéis em branco e uma caneta na cela. Pediu que eu escrevesse minhas últimas palavras a um ente querido. Sim, possuo entes - queridos, nem tanto.
Resolvo então escrever para o mundo, pois foi ele que me criou e me moldou. A criatura obscura que hoje sou, foram vocês que criaram. Eu fui a vítima infeliz de uma combinação cruel do destino. Mas pararei de acusá-los e contarei minha história do modo que realmente aconteceu.
Feliz eu era, com uma vida simples e sem muita agitação. Casei-me com um contador comum, que tinha um emprego estável numa empresa estável. Eu ocupava minhas horas dando aulas de matemática para jovens que não se importavam. Não tínhamos filhos, mas estes estavam sempre em nossos planos.
Como vocês podem imaginar, algo ocorreu para que esta paz fosse perturbada. O casarão ao lado da minha casa fora posto a venda, e logo compradores apareceram e se tornaram os novos proprietários. O que eu nunca poderia imaginar era que Vivian tinha comprado a casa e se tornado minha vizinha.
Para não voltar mais ainda no tempo, darei-lhes uma simples definição de quem Vivian era: uma mentirosa mesquinha e sem escrúpulos, que arruinara a minha infância. Ela era a típica menina malvada, que inventava histórias sobre outras meninas e jogava uma amiga contra a outra. E ela se divertia. O que ela não esperava é que um menino apaixonado por ela, o infeliz Edmund, fosse acatar a sua ordem macabra. Vivian era a luz dos olhos de Edmund, e ele faria tudo para tê-la: inclusive romper a pureza de uma inocente e triste colega de classe. Obviamente, essa colega era eu, e fui obrigada a sentir as mãos sujas de Edmund me empurrando em um beco escura e invadindo cada pedaço do meu corpo.
Tê-la como vizinha agora que a escuridão tinha finalmente se dissipado era algo que eu não poderia tolerar. E Vivian bater em minha porta como se fossemos amigas, eu não toleraria. Ela havia se casado com um belíssimo advogado, e eles viviam elegantemente. Eles tinham três lindos filhos, todos loiros e de olhos azuis. A família perfeita, a família que seria utilizada para uma propaganda de margarina.
Virei-me para meu marido, um belo dia, e anunciei que faria um jantar para Vivian e sua linda família. Ele, como se pressentisse algo errado e psicótico em minha idéia, perguntou se eu realmente queria aquilo. Ele sabia de toda a história, naturalmente. Eu afirmei, dizendo que o que estava no passado morrera no passado.
Essa é a mentira mais velha do mundo. A memória e o meu corpo nunca poderia fazer com que eu esquecesse o que Vivian e Edmund fizeram. E se ela tivesse esquecido do que fizera, eu a lembraria do modo mais doloroso que eu conseguiria.
Fiz uma deliciosa torta de frango com catupiry para minhas visitas queridas. A sobremesa, um maravilhoso creme de abacaxi. Vivian dissera que nunca esqueceria daquele jantar supremo. Eu ri comigo mesma. Não, ela nunca esqueceria. Levei Vivian e sua família para conhecer a casa. Levei-os até o meu quarto e lá os tranquei. Meu marido olhou para mim, exasperado, e tentou a todo custo pegar as chaves do quarto de mim. Mas eu colocara algo especial na bebida dele, de modo que logo ele caiu no sono eterno. Aliás, fazia parte da minha estratégia eliminar os maridos primeiros, pois eles poderiam me deter com sua força natural. Logo, quando voltei ao quarto, o marido de Vivian também encontrava-se morto.
Vivian olhou para meus olhos, implorando por perdão e misericórdia. Ela teve alguma misericórdia minha? Resposta negativa. Retribui aquele olhar desesperado, e me senti o ser mais poderoso que já habitou esta terra. Eu reduziria aquela família a poeira, do mesmo jeito que ela havia feito com minha infância. Eu queria a minha inocência de volta, e eu a teria.
Queimei um pouco a pele do mais velho. Depois atirei nele, para que parasse de gemer feito como uma menininha. A menina do meio era muito mais valente, e tentou tirar a arma da minha mão. Mas não conseguiu, e novamente eu usei a arma para calá-la. É necessário destacar que eu havia amarrado todos. A mais nova, eu queimei. Lentamente. O meu ódio caiu sobre ela, terrivelmente. Quando percebi que ela havia morrido, fiquei assustada com a minha própria monstruosidade. Vivian não mais gritava, e a cena mais aterrorizante que vi foi ela roubando a arma de minha mão e atirando em si mesma. Suas últimas palavras foram: "A menina destruiu a vida da mulher... irônico, não?"
Preparei então minha fuga. Levei o corpo de meu marido até o fatídico quarto, e a seu lado coloquei uma carta, na qual ele assumia toda a culpa pelo acontecido e depois teria se matado, com veneno. Eu iria até a polícia, em desespero. E fui. Cortei uma cebola, para que seu cheiro forte me levasse as lágrimas, despenteei meu cabelo e infligi-me algumas queimaduras, e corri ao encontro da polícia.
Mas eu fora traída. A menina mais nova levava consigo um inútil, desprezível, tolo e odiável coelho de pelúcia... Um daqueles que, quando você aperta sua barriga, ele grava uma mensagem, e ao apertá-lo novamente, ele repete a mensagem. O policial apertou a barriga daquele coelho infeliz uma única vez... O que foi o suficiente para me incriminar. Ria a vontade, eu fora denunciada por um coelho de pelúcia. Eu fui para a cadeira rindo, já me despedindo de qualquer sanidade.
Esta é a minha carta para o mundo. E o meu conselho, a minha prova de arrependimento, resume-se em uma única frase: Se você estiver cometendo um assassinato, livre-se do coelho.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O dia mais feliz da vida de uma mulher

written by Larissa Rainey at 14:38 6 comentários.
"Nós estamos no século 21."
Grande MERDA. Ainda acho que toda essa coisa de que a mulher conseguiu se libertar é babaquice. Claro, mudanças ocorreram. Hoje mulher trabalhando não é o fim do mundo, mulheres podem usar calça, estudar e mimimi. Mas ainda tem certas coisas que eu ouço e vejo e não entendo.
Um dia, estava eu, minha mãe, a amiga dela e a filha. E a filha estava folhendo a revista Caras, e falando sobre vestidos de noiva. Que o maior sonho da vida dela era se casar, e que ela já pensava em como seria a celebração e a festa. Cada um tem o sonho que quer, quem sou eu pra julgar sonhos alheios. A amiga da minha mãe olhou pra mim, como se esperasse que eu concordasse com o que a filha dela estava falando. Eu fiquei quieta, porque obviamente eu não compartilho daquele sonho. E então ela virou pra mim e perguntou como ia ser o meu vestido de noiva. Eu respondi que não sabia (porque de repente eu tenho 18 anos e não pretendo me casar tão cedo pra pensar em vestido). Aí ela começou a falar que uma mulher já tinha que ter todas as idéias prontas na cabeça, o vestido, o bolo, a decoração, a igreja, a cor da gravata dos padrinhos e a cor do vestido das madrinhas.
Minha mãe, pra me "ajudar", fala que eu não me interessava por essas coisas. A filha da amiga responde:
Mas toda mulher TEM que se interessar por essas coisas!
Ah tá, então o fato de eu não pensar em casar agora me faz menos mulher? Ou então, pra eu me sentir uma mulher eu tenho que começar a desenhar agora o vestido de noiva? Por que se eu não pensar isso, eu sou automaticamente excluída do núcleo das mulheres e viro um homem? Eu estou no "século 21" ou na era Vitoriana? Na idade das pedras?
Eu não estou aqui detonando quem pensa nessas coisas desde o dia que nasceu - não. Se os seus olhos brilham quando você passa por uma loja de vestido de noiva, ótimo. Se é isso que você quer, que você espera, então realmente espero que você consiga realizar esse sonho. Mas agora, pensar nisso, implantar um sonho só porque é o que esperam de mim? Que eu case com um cara rico que me sustente, tenha 6266692129 filhos? Então é isso que me faz ser mais mulher: ficar escondida atrás de um homem?
Você tem que casar porque você ama a pessoa. Porque você quer assumir um compromisso, sei lá! Ou seja, se eu correr atrás do meu sucesso profissional e nunca me casar, eu vou ser menos mulher por isso? E se os meus sonhos forem outros? Correr atrás deles e não me casar me faz menos mulher?
E o festival de pérolas dessa conversa não terminou. Foi desde "TODA  mulher quer se casar e quem fala o contrário está mentindo", passando por "casamento é o dia mais feliz da vida de uma mulher" até "pra que a gente vai viver se não vamos perpetuar a espécie".
Que tal cada um fazer o que quiser da sua vida? Quer se casar e ter filhos, ótimo. Se isso te realiza, se é isso que você quer. Por isso tem muita gente que se divorcia. Se casam por obrigação, por casar, têm filhos para falar que tiveram. Coisa mais babaca.
E sabe o que é mais engraçado? Quanto mais as pessoas tentam enfiar na minha cabeça que eu só vou ser feliz quando adicionarem o sobrenome de alguém ao meu nome, mais eu tenho certeza de que não é assim que eu vou ser feliz. Mais eu tenho certeza que não é isso que vai me realizar. Mas como eu disse antes, eu ainda tenho o mundo inteiro pra conhecer e uma vida inteira pra ser vivida. Vai saber o que o destino reserva pra mim...

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Passagem

written by Larissa Rainey at 13:56 1 comentários.
Eu me lembro da primeira vez que eu te vi. Foi há uns quatro anos atrás... Parece que faz pouco tempo, quando na verdade não faz. Foi como um incêndio. Rápido e destrutivo. E incrivelmente, foi mais destrutivo quando estávamos separados. Longe. Certas coisas você nunca entendeu, e aparentemente nunca entenderá. Eu nunca entendi a tristeza nos seus olhos, e você nunca vai entender a tristeza dos meus. Você nunca entendeu os meus motivos, nunca entendeu coisas básicas. Sempre ignorou o que eu tinha a lhe dizer, preferiu olhar suas razões inventadas numa conversa de teclados. "A gente" se resumiu em brigas, ódio, tristeza. E eu me pergunto, por que. E quando você foi pra mais longe ainda, a situação piorou ainda mais. Você misturou a com b e eu misturei c com d. Demorou tanto tempo pra eu finalmente me curar. E justamente quando eu me curo, você volta. E pra perto de mim, de novo. Mas o erro que eu cometi, sentada num banco, na entrada do meu prédio, com 14 anos, não será cometido agora, num ponto de ônibus, perto do meu trabalho, com 18 anos.

Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side
Is my timing that flawed?
Our respect runs so dry
Yet there's still this appeal
That we've kept through our lives
But love, love will tear us apart, again
Love, love will tear us apart, again

segunda-feira, 26 de julho de 2010

A desgraça dos outros é sempre mais verde

written by Larissa Rainey at 20:08 4 comentários.
Hoje, o primeiro paciente que teve transplante facial total recebeu alta. (Leia mais aqui .) Aí, minha mãe me chama, aponta para ele, olha para mim e diz, "Olha esse moço. Você ainda acha que tem motivos para chorar?"
Primeiro que eu não consigo enxergar o caso dele como uma desgraça de fato, motivo de choro. Choro sim - mas choro de felicidade. Ele conseguiu passar por várias coisas e hoje está bem. Ele sofreu duas rejeições agudas, fora o tanto que ele sofria antes desse transplante. Então eu realmente espero que ele fique bem, e que consiga lembrar dessa fase da vida dele com orgulho de ter superado os obstáculos.
Mas agora, porque ele passou por tudo isso eu devo simplesmente ignorar os motivos que eu sofro só porque eles não são tão graves assim? Até porque, pra mim eles são graves. Podem não ser caso de sair no jornal, mas dói da mesma maneira. Os meus motivos me dilaceram, me corroem. Mas eles são considerados como pirraça adolescente. Então o que eu deveria fazer? Berrar? Não. Eu tenho que ficar quieta, eu tenho que me calar, porque eu sou o elo fraco e o elo fraco não é igual aos seus superiores. Eu abaixo minha cabeça, submissa, e olhando apenas para o chão e muitas vezes desejando estar debaixo dele. Finjo um sorriso, coloco uma máscara, porque é a coisa natural a se fazer.
Eu simplesmente acho uma hipocrisia sem tamanho falar que "por que você está chorando se acontece coisa pior". Cada um sofre pela dor que tem. E assumir que outra pessoa realmente deveria sofrer e chorar porque aconteceu algo pior, é um certo tipo de maldade pra mim. É simplesmente virar pra pessoa e falar "ih, você realmente tem motivos pra chorar e sofrer e querer se matar" sendo que você deveria falar que isso acontece, é da vida sofrer mas que um dia ficaremos mais fortes e sábios para enfrentar as coisas. Mas não...
A filha dos outros é mais inteligente e bonita.
A casa dos outros é maior, mais arejada e mais limpa.
O carro dos outros é mais confortável e mais rápido.
A televisão dos outros é mais nítida.
O cachorro dos outros é mais esperto e não faz xixi no tapete.
O trabalho dos outros é mais legal e mais rentável.
E o sofrimento dos outros é mais triste. O sofrimento dos outros sim, dá vontade de chorar.

Por que não paramos de nos comparar aos outros e lutar pelo o que é nosso? Apreciar a nossa filha, a nossa casa, o nosso carro, a nossa televisão, o nosso cachorro, o nosso trabalho, e sofrer o nosso próprio sofrimento?

sábado, 24 de julho de 2010

Baixo, bem baixinho....

written by Larissa Rainey at 16:07 3 comentários.





Eu sou de Áries. 2 de abril. Primeiro signo do horóscopo. Elemento? Fogo. Tem gente que não acredita que os céus interfiram na nossa vida, mas eu acredito. Tem muitas coisas relacionadas ao signo de Áries que muitas vezes eu acho que eu sou a garota-propaganda desse signo. Teimosa, facilmente irritável. Um tornado, furacão, um incêndio. Tanto que, ao lado desse post, tem a parte de "Quem sou eu". E uma das frases pela qual eu me defino: "um incêndio preso num rosto delicado.";
Sim, porque quem me vê não acredita o quão estressada eu sou, o quanto eu odeio certas coisas e o quanto eu posso ficar nervosa diante de certas situações. Eu tenho cara de bobinha, e sei disso. Então quando eu grito, quando eu explodo, quando eu mando todo mundo ir pra puta que o pariu, as pessoas ficam chocadas. Sinceramente? Já estava na hora da humanidade perceber que não se pode confiar nas aparências.
Ultimamente, eu estava bem. Trabalhando, fazendo minhas coisinhas, me estressando de vez em quando, mas quem passa dias sem um stress. Mas parece que hoje, justo hoje, tudo desandou. Como se aquele monstrinho dentro de mim tivesse acordado com um sorriso no rosto. Vamos brincar?, ele diz...
E o motivo é o mesmo de sempre. Quanto mais você espera algo de alguém, menos elas respondem às suas expectativas. Quanto mais eu espero algum tipo de respeito e/ou compreensão de certas pessoas, menos elas me respeitam e me compreendem. Eu não sou o seu cachorrinho. Você não pode me bater, me xingar, gritar comigo e depois de quinze minutos me fazer carinho na cabeça que tudo fica bom de novo.... até você me bater, me xingar e gritar comigo novamente. Isso se tornou um círculo vicioso na minha vida que eu estou afim de quebrar, mas simplesmente não sei como. Porque eu sou o elo fraco. Se eu estou aqui, é por causa dela. Tudo o que eu fizer será - e já é - jogado contra mim. Porque ela tem mais "moral" do que eu. Os filhos são ingratos, uns monstros, egoístas. Será que as pessoas se esquecem tão facilmente dos danos que um dia causaram aos outros? Será que de repente ela se esqueceu de que quando eu estou no topo, eu posso cair na mesma hora? Será que ela se esqueceu de que até eu voltar a esse topo, eu demoro dias? Será que eles esqueceram de que eu não sou o cachorrinho deles? Nem o enfeite deles? "Ah, olhe aqui, a nossa filhinha, ela é ruiva e bonitinha, fala inglês fluente, trabalha e faz Publicidade e Propaganda e vai fazer francês ", mas quando os outros viram as costas, eu viro o monstro ingrato e egoísta. A burra que não sabe nada, a burra que é um lixo só porque não tem um namorado, a burra que é feia e gorda. 
Se fosse qualquer pessoa que falasse isso, eu não ligaria. Mas e quando esses ataques vêm das pessoas que não deveriam falar tais coisas? Tudo bem, eu não sou um buquê de rosas e ninguém é, e faz parte da tarefa deles de me educar e mostrar o que eu estou fazendo de errado. Até aí, ok. Quando eu erro, eu fico com o rabinho entre as pernas (rá) e beleza. Eu estou errada, porra. Mas e quando eu não estou? Eu realmente devo ficar com o rabinho entre as pernas quando eu não fiz NADA e esses 'ataques' são gratuitos? Será que eu sou tão inútil que eu realmente mereço as coisas que ouço?
...
Chega um ponto que não dá mais para escrever. As minhas mãos tremem e eu pareço uma louca enquanto digito isso. Enquanto eu me exponho. Eu não escrevo isso para vocês terem pena de mim e me abraçarem. Eu escrevo isso porque se eu não escrever, eu morro. Simples assim.

Deixarei vocês com um poema da Emilie Autumn (porque os rios da minha vida sempre levam a ela -q) chamado Rant II. Traduzido, claro. O original está aqui.


O que é o sentimento, que pode ser esmagado tão facilmente?


Será que eu construí alguma coisa durante um dia feliz que não pode ser destruído pelas tristezas inevitáveis do amanhã? 
Eu sou tão frágil que apenas uma palavra fora do globo transparente que engloba o meu corpo físico, sendo dito, corta a cúpula invisível e me deixa totalmente indefesa contra o ataque das realidade cotidianas? E o que deverá ser dito para reconstruir essa concha? Será que ela me providenciará algo mais do que algumas poucas horas curtas de divino esquecimento? Ah, mas o que poderá ser realizado em algumas poucas horas? Muitas coisas grandes, e essas coisas, se cuidadosamente construídas, poderão talvez mobiliar uma espécie de sala de espera de um hospital que, na próxima vez que eu não estiver revestida da minha cúpula, eu poderei passar o tempo em ambientes mais confortáveis ao invés de correr diretamente para a sala de operação.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Mentiras

written by Larissa Rainey at 20:05 6 comentários.


No álbum The Opheliac Companion, que é um making of que a Emilie Autumn fez do álbum Opheliac, ela explicou de onde surgiu a letra de Liar. A letra toda, que é basicamente um amor obsessivo, foram coisas que falaram a ela. Que a pessoa ia mostrar pra ela toda a beleza que ela tinha e não sabia, porque só a pessoa seria capaz de fazer isso. Que se a pessoa estivesse machucando-a, era para o próprio bem dela. Que era para os dois misturarem o sangue e enterrassem num jardim, para quando um quisesse ir embora, tivesse que ter o trabalho de desenterrar a jarra. Assim, pensariam melhor se deveriam ir mesmo. Como se a pessoa quisesse que ela sofresse, apenas para consertá-la. Isso acendeu uma luzinha na minha cabeça, e não apenas em relação à música. E sim sobre a minha própria vida, e as mentiras que sempre a cercaram, vindas de pessoas tão diferentes.
As pessoas mentem. E muito. Eu minto. Não sou nenhum buquê de rosas. Minto quando estou mal. Não suporto que me olhem com cara de piedade, não suporto ser a garota sentada num banco e chorando no meio da rua. Eu minto, esboço o meu melhor sorriso. Uma máscara. Uma mentira. Mas eu não minto para prejudicar alguém, para enganar alguém de uma maneira maliciosa, digamos assim. As minhas mentiras servem para que as pessoas que eu amo não se preocupem comigo, e não sofram por mim. Eu nunca diria "Eu te amo" para alguém que eu não amasse, como já fizeram comigo. A oportunidade de uma mentira assim já surgiu, e eu preferi ser límpida. Talvez seja por isso que hoje eu estou sozinha. Mas eu prefiro estar assim do que aquecer o coração de alguém com frias mentiras. E eu sei que existe esperança quando alguém faz a gentileza de ser honesto comigo - porque francamente, a humanidade anda tão manipuladora que honestidade se tornou gentileza.
Sentei para escrever esse post, e de repente eu perdi todo o meu controle. Eu ia escrever uma coisa engraçada, mas aí eu comecei a ouvir certa música que desencadeou certo pensamento, e o resultado? Uma tempestade de emoções, quentes e frias. Me lembrei das mentiras que me contaram e eu acreditei. Me lembrei das máscaras que eu usei, me lembrei do que não deveria ter lembrado. Me lembrei das ilusões que criei, dos beijos que nunca recebi, das lágrimas que derramei e das lágrimas que nunca foram derramadas por excesso de orgulho. Me lembrei dos abraços que eu de fato recebi, dos sorrisos verdadeiros, das risadas descontroladas. E cheguei a conclusão que faz tempo que eu usei uma máscara. Eu me sinto confortável na minha própria pele. Eu gosto de ser pálida, ruiva, "encorpada", com óculos, cara de boneca séria. Cara de estranha, cara de perdida, cara de menininha bobinha. Gosto de fugir do estereótipo.
Eu não preciso mais de uma mentira para ser eu mesma. Essa é a liberdade, meus caros. E estou aproveitando cada minuto.

P.S. - Hoje é um dia importante. Finalmente fiz minha matrícula no curso de francês. E quem vai pagar metade sou eu, com o meu dinheiro. ;)
P.S. 2 - Dica para os homens que não tem um pingo de classe: chamar uma mulher de gostosa pra rua inteira ouvir não vai fazer com que ela durma com você. Vai fazer com que ela fuja e morra de vergonha, isso sim.

 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos