Estou rígida e desconfortável, enquanto
encaro o espelho. E pela primeira vez em anos, percebo a real cor dos meus
olhos. O fogo presente na minha existência faz com que eles brilhem e mostrem
suas verdadeiras cores. Parecem olhos de tigre. Como se uma condessa quisesse
se desfazer seu pingente e colocado os
resquícios da pedra em meus olhos. Meus olhos fixam-se em seu próprio reflexo,
incapazes de notarem qualquer outra coisa.
São olhos brilhantes de tanta tristeza.
Eles não brilham por amor ou por felicidade. Brilham porque só conhecem a
decepção, a melancolia e o desejo. Não reconhecem em outros olhos o conforto de
serem aceitos, nem de estarem seguros. O mundo que lhes foi apresentado é um
mundo de guerras, sangue e fogo. Ignoram qualquer outra realidade, mesmo que
esta esteja nítida e acenando os braços frios em sua direção. Preferem ser
ignorantes do que degustarem algo que não lhes pertencem.
E quando o meu torpor é brutamente
interrompido, meus olhos encaram outros. São levemente parecidos, estes olhos.
São os olhos que originaram os meus. Olhos que não possuem outro propósito a
não ser julgar, criticar, interromper, exigir. Todavia, eles não são nada para mim. Enquanto os meus olhos
continuarem brilhando e enquanto o meu coração continuar se consumindo em seu
próprio fogo implacável, não temerei nada.
Apesar de tristes, eles enxergam. Apesar
de conhecerem nada além de ruínas, eles são capazes de entenderem a beleza
ardente na qual a vida se apoia. E sim, meus olhos choram... mas a cada
lágrima, minhas chamas queimam mais ainda.
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