terça-feira, 17 de abril de 2012

Visão

written by Larissa Rainey at 15:44


Estou rígida e desconfortável, enquanto encaro o espelho. E pela primeira vez em anos, percebo a real cor dos meus olhos. O fogo presente na minha existência faz com que eles brilhem e mostrem suas verdadeiras cores. Parecem olhos de tigre. Como se uma condessa quisesse se desfazer  seu pingente e colocado os resquícios da pedra em meus olhos. Meus olhos fixam-se em seu próprio reflexo, incapazes de notarem qualquer outra coisa.
São olhos brilhantes de tanta tristeza. Eles não brilham por amor ou por felicidade. Brilham porque só conhecem a decepção, a melancolia e o desejo. Não reconhecem em outros olhos o conforto de serem aceitos, nem de estarem seguros. O mundo que lhes foi apresentado é um mundo de guerras, sangue e fogo. Ignoram qualquer outra realidade, mesmo que esta esteja nítida e acenando os braços frios em sua direção. Preferem ser ignorantes do que degustarem algo que não lhes pertencem.
E quando o meu torpor é brutamente interrompido, meus olhos encaram outros. São levemente parecidos, estes olhos. São os olhos que originaram os meus. Olhos que não possuem outro propósito a não ser julgar, criticar, interromper, exigir. Todavia, eles  não são nada para mim. Enquanto os meus olhos continuarem brilhando e enquanto o meu coração continuar se consumindo em seu próprio fogo implacável, não temerei nada. 
Apesar de tristes, eles enxergam. Apesar de conhecerem nada além de ruínas, eles são capazes de entenderem a beleza ardente na qual a vida se apoia. E sim, meus olhos choram... mas a cada lágrima, minhas chamas queimam mais ainda. 

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