quinta-feira, 26 de julho de 2012

"Sou mais eu"... Será?

written by Larissa Rainey at 19:08
Cliquem na foto, não reparem nas minhas unhas e leiam as chamadas para as matérias.

Pois bem, lá estava eu e minha mãe na fila do caixa do supermercado quando parei para observar as revistas. E essa revista em particular me chamou a atenção, talvez pela quantidade de matérias absurdas que ela proporciona. Comentei com a minha mãe o quanto me chateava que a maioria das revistas direcionadas ao público feminino voltava-se a dicas para emagrecer, novelas e sexo. Ela, sempre fofa, disse que eu não gostava porque eu "não era vaidosa". Respondi que ver um belo editorial de moda, bem feito e bem fotografado me interessava muito mais do que dicas absurdas para emagrecer, como se a felicidade só pudesse ser possível com mil quilos a menos. E então, ela me disse algo que me fez refletir. Algo bem óbvio, até. "Existem vários tipos de revista, você lê o que você quer". Ela está certa, afinal de contas eu seleciono o que eu leio. Ao invés de escolher essa revista, preferi comprar a Veja  - não porque eu gosto dela, e sim porque a Veja de São Paulo fez uma matéria sobre cursos de dança em São Paulo e como eu pretendo me matricular em um, me interessava.

Muito bem, cada um lê o que lhe interessa, nada mais justo. Mas ainda sim, me preocupa o tipo de mensagem que revistas assim divulgam. Me preocupa o fato de existir uma boa parte da população que acredita nessas mensagens o suficiente para continuarem comprando esse tipo de conteúdo. Me preocupa o fato de que a mulher que está na capa é ressaltada por ter perdido 50 kg, e não a mulher que consegue ganhar 5 mil por mês como cabelereira, mulher essa que teve um pingo de tino para os negócios e conseguiu sair de uma situação financeira complicada. Ela ganha apenas uma minúscula foto no meio da matéria.


E não, eu não considero dinheiro a coisa mais importante. Se sentir bem consigo mesma e deixar de lado hábitos ruins para a saúde também é importantíssimo. As duas mulheres são bem sucedidas, se pensarmos nisso. Mas a que emagreceu e ficou  "mais bonita" é a que ganha destaque - destaque esse que a matéria que ela mandou para a revista contando como ela perdeu os 50 kg valeu 1.000 reais, enquanto a das cabelereiras valeu 300 reais.

Fora as mil matérias sobre "como ficar igual a fulaninha da novela". Use a maquiagem não para se expressar, para realçar o rosto e se sentir bem: use pra brilhar igual as protagonistas da novela. Uma matéria que me deu vontade de rir foi a que ensina a usar a alça do sutiã aparecendo igual a Débora, de Avenida Brasil sem parecer vulgar. Mas peraí, sutiã aparecendo não era ridículo e vulgar de qualquer jeito? Então só porque faz parte da caracterização de uma personagem passa a ser considerado legal e passível de imitação? E mais uma coisa: uma mulher realmente precisa que ensinem a ela como usar uma roupa mostrando a alça do sutiã?? Não é uma coisa meio óbvia? Se não for, iluminem minha cabeça.

Uma matéria que é realmente interessante e que não tem chamada nenhuma na capa é a de uma mulher que nasceu sem útero nem canal vaginal por causa de uma síndrome rara, a Síndrome de Rokitansky. Por ser uma situação que muito dificilmente se vê, saber disso e saber como reverter é o tipo de coisa pertinente sobre a saúde feminina. Além disso, existem várias outras portadoras dessa síndrome que fazem parte de uma comunidade virtual e elas se apoiam. 

E a matéria com dicas sexuais simplesmente me presenteou com a pérola: "Estava tocando Eguinha Pocotó, e eu me senti a própria". Minha reação foi essa:



Mas agora é o momento no qual eu pergunto a você, leitor/a: esse tipo de conteúdo é realmente nocivo para a sociedade em geral, ou é inofensivo e eu que tô exagerando e deveria ir caçar o que fazer? Afinal de contas, se as pessoas compram revistas como essas, é porque o conteúdo é relevante de certa maneira. Entretanto, cultivar esse tipo de interesses pode impedir que a sociedade evolua? Por que a mulher empreendedora tem menos espaço que a mulher que celebra seu corpo e sua autoestima? Veja bem, não quero atacar a mulher que celebra seu corpo - pelo contrário. Se todo mundo fosse mais satisfeito com seu corpo e não tivesse vergonha dele, as coisas seriam mais bem resolvidas - e me coloco nessa categoria. Mas por que as duas mulheres não podem ficar no mesmo patamar? Não somos todas mulheres? Por que as revistas focadas no público feminino selecionam sempre os mesmos conteúdos? Pergunto isso não por acreditar que sou um floquinho de neve especial, e sim porque acredito que as mulheres em geral são muito mais complexas do que isso. Por que ao selecionar conteúdo específico para um gênero, são sempre os mesmos conteúdos?

Termino o post com um apelo: se alguém conhece uma revista feminina que tenha conteúdo diferenciado, favor mandar nos comentários ou falar comigo no twitter. Preciso de uma leve esperança no mundo.

E ah, um PS: falo especificamente sobre as mulheres porque... er... claramente eu sou uma mulher. Mas aceito a opinião dos homens sobre isso. 

4 comentários.:

mielpapillon on 7 de agosto de 2012 às 16:24 disse...

Ah cara, tinha um tempo que eu criticava quem produzia. Hoje eu critico quem compra. Não adianta, dinheiro é o único valor que importa na cabeça das pessoas e sendo o interesse dinheiro elas maqueiam todas suas intenções com: "Mas é importante a mulher se sentir bonita!" "Mas muitas se interessam por isso..." e qualquer outro argumento idiota.

Essas revistas são coorporações, eles não ligam se isso é bom ou ruim, lucra, está tudo bem.

Se o que mais vendesse no mundo fossem matérias sobre como colar a sola do seu sapato, todas as revistas produziriam formas de colar a sola do seu sapato.

Sem ofender, mas idiotas somos nós mulheres que deixamos que nos digam como devemos ser. Idiotas somos nos que aceitamos essa segregação de gêneros, como se nós fossemos mais estúpidas que homens e a única coisa importante nas nossas vidas fosse o nosso peso. Idiotas somos nós que aceitamos.

É ilusão acreditar que cada um faz o que quer, que cada um ler o que quer... Se fosse assim, porque não pode passar pornografia na tv aberta durante o dia? Porque eu não posso comprar uma arma em lojas comuns? Porque eu não posso não votar?

Então não tem essa de cada um faz o que quer... Cada um faz aquilo que fizer a sociedade funcionar... Essas revistas mantém a maioria da população estúpida e entretida. Ou seja, mantendo o pobre pobre, o rico rico, o burro burro, a inteligente inteligente. Tudo lindo e maravilhoso do jeito que é (Y) (para quem interessa que seja assim...)

Então, não tem absolutamente nada de errado em querer que todas essas revistas queimem no fogo do inferno. Não tem nada de errado em não querer viver em uma sociedade de jeito estúpida e acomodada. É ignorância acreditar que isso não acarreta sérias consequências para a nossa sociedade...

É que está todo mundo muito acomodado com tudo como está.

Mas isso tudo me deu idéias... Sempre inspirativo esses temas...

Marcia on 13 de agosto de 2012 às 15:49 disse...

Flor, estava eu passeando pela internet, cheguei até seu blog.
Concordo com você em alguns pontos.
Sou portadora da Sd. de Rokitansky e faço parte do grupo citado.
Confesso que esperava que a revista trouxesse uma chamada na capa, afinal trata-se de algo tão raro e delicado que merecia a ênfase.
Estou há 3 anos tentando divulgação da Síndrome para que outras portadoras consigam ser ajudadas através do grupo. Nesse tempo mandei e-mail para diversas revistas ( inclusive VEJA) , programas de TV que abordem temas femininos ou de saúde. E nada, nenhum retorno.
Então a repórter da revista “ sou + eu” leu sobre a Síndrome e nos contactou para que alguma moça do grupo contasse sua história de superação.
O espaço foi bastante significativo para nós . Uma grande vitória!
E somos gratas a revista.
Acho que o objetivo principal da entrevistada foi alcançado: “ Uma pessoa ( ou talvés mais) conheceu sobre a Sd. e achou interessante!” (hehe)



Bem... fiquei refletindo as questões levantadas no seu post... vamos a conclusão que cheguei:

Penso que no fundo no fundo o que todo mundo quer é ser feliz. E se algo aparenta felicidade então passa a ser referência, até que ela se desmanche. Então “ vambora” seguir outro conceito... vivendo feliz de pouquinho em pouquinho.
.
Alguns programas de TV ou tipos musicais para alguns também custam descer pela “ goela” e até parece ser totalmente dispensáveis e vazios. Mas eles refletem a diversidade cultural. Vivemos em um país de desigualdades e de necessidades diferentes. ( Ahh, a possibilidade de acesso a informação também é diferente, enquanto uma revista custa R1,99 outra custa R$ 8,90 rsrs).
( continua)

Marcia on 13 de agosto de 2012 às 15:51 disse...

( continuação)
Uma amiga disse uma frase que acho perfeita:

“...Afinal, existe algum ser humano completo? Não. Todos têm os seus vazios, sendo que no nosso caso, ele é físico!”

Quer seja na necessidade de gerar renda, perder peso, se tornar atraente, saber superar uma traição ou um problema físico, o ser humano é carente, busca ser acolhido por algo ou alguém. Isso explica porque coisas “aparentemente absurdas” fazem sucesso. È porque de alguma forma preenche vazios, que vão além do que nossos olhos podem ver ou nossos ouvidos ouvir. As mensagens estão ocultas.
Até mesmo uma música de letra sem nexo tem seu valor simplesmente pelo fato de seu ritmo produzir alegria.

Os meios de comunicação ditam padrões, modismos... E olha lá um tanto de gente correndo pra tentar se encaixar. Porque o ser humano além de carente é contraditório.
Ao mesmo tempo em que queremos ser especiais e únicos, queremos ser igual aos outros.
E como isso causa sofrimento!!!!

No caso especifico de mulheres Rokitansky, imagina como é para nós viver numa cultura em que o sexo passou a ter grande peso e liberdade. Como explicar impossibilidade de gestar numa época em que a medicina reprodutiva tem solução pra quase tudo. Queremos e batalhamos para sermos vistas e valorizadas como toda mulher, porque somos como toda mulher! Guerreiras , cheias de sonhos e qualidades...

Mas quem foi mesmo que disse que toda mulher precisa transar e ter filhos?

São regras... regras inconscientes .
A vida por si só já é uma regra.

- Adorei suas frases : “ Se todo mundo fosse mais satisfeito com seu corpo e não tivesse vergonha dele, as coisas seriam bem mais resolvidas”- “ Mas por que as duas mulheres não podem ficar no mesmo patamar? Não somos todas mulheres?”. -

Como seria maravilhoso se todas as pessoas fossem enxergadas cada qual com sua real beleza ao invés de precisar ter uma “beleza ideal”.

Mas afinal, qual é mesmo a beleza real e a ideal? Responda quem puder e quem souber. (A pergunta vale para beleza física e interior)

Uns vão achar lindo o sutiã aparecendo, outras acham vulgar e há quem ta nem aí pro sutiã . rsrsr E acredite, tem quem não faça a mínima idéia de como fazer ele aparecer. rsrrss

E aí vem aquela antiga frase: “ O que seria do azul, se tudo fosse amarelo?”

Concluo que o legal da vida esta aí: nada é igual e nem precisa ser.
Nem mesmo nossa opinião sobre revistas femininas rsrsrs. Ou sobre o sutiã ou eguinha pocotó rsrrs

A diferença e a semelhança caminham juntas, elas movem o mundo.

E o que vale mesmo é tentar ser feliz cada qual como é ou como quer ser. E acima de tudo aceitar o caminho onde cada um busca e encontra suas felicidades.

Nesse mundão de Deus há espaço pra tudo e para todos. Não é?!

E quem sabe numa próxima revista, tenha espaço pra Sd. de Rokitansky na capa. :P
Eu te aviso!

Grande abraço!

Marcia on 13 de agosto de 2012 às 15:52 disse...

Ahh, vc pediu dica de uma revista feminina com conteúdo diferenciado ,tem um portal ( tipo revista eletrônica) que gosto muito:

“Tempo de mulher”, sob a direção de Ana Paula Padrão

BJk.

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