sábado, 17 de agosto de 2013

#22 - Vai dormir, menina

written by Larissa Rainey at 02:06

Pensei num amor extraordinário, que ultrapasse os limites do meu vocabulário. Logo orquestrei você em minha mente, um amontoado de palavras familiares e anacrônicas. Mas aí eu comecei a escrever sobre chutes e sobre sangue e tudo se perdeu.
Comecei a falar da minha fúria desengonçada e sobre lugares longínquos. Senti o gosto da poeira dos meus chutes enquanto eu  arrasava a terra. Então, eu senti a ventania irritando cortando o meu rosto com seus toques gélidos e por um segundo me vi como um iceberg flutuando no deserto. Eu não sei qual é a dessa metáfora, francamente. 
Meus pensamentos se voltaram para a minha escrita e tudo ficou muito confuso. Qualquer um escreve. Junta palavra ali, palavra acolá, e pronto. Eu não deveria levar minha escrita a sério. Se eu pudesse catalogar toda a minha produção literária, colocaria tudo com um M de "mimimi" em letras garrafais cor-de-rosa.
Lembrei do meu portfólio. O passado do aprendizado organizado em fundos rosados. Desde quando eu gosto tanto de rosa? Não me lembro de ter deixado essa cor entrar na minha vida - não me lembro de ter deixado nada entrar na minha vida, eu nem sei porque EU entrei na minha vida.
"Você nasceu porque seus pais te fizeram" - não, não quero seguir essa linha de pensamento.
Mistura de DNA, A-T-C-G e tem mais alguma letra que eu não lembro. Como os ATCG's dos meus pais se misturaram e deram nisso aqui? Qual é a lógica inabalável da genética que juntou nuvem com nuvem e criou um pato?
Sim, eu sou um pato. O patinho feio que na real nem era um pato, era um cisne. Que família burra é essa que nunca percebeu que aquilo não era um pato? Será que eles desconheciam a própria anatomia? Acho que os pais desse pato-que-era-cisne tinham problemas com drogas e viviam alterados, por isso achavam que o cisne-que-era-pato era um pato, não um cisne.
Eu vomito palavras e vomito ideais e meus sentimentos são as toras de madeira da minha lareira.
Agora você entende o nome dessa crônica?

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