Eu já tinha lido recentemente que os Estados Unidos estavam propondo uma lei para favorecer os direitos autorais, mas não sabia até que ponto essa proteção ia. Quando descobri, fiquei boquiaberta.
São dois projetos, na verdade: um no Senado, chamado Protect IP e outro na Câmara, a E-Parasites. Essas leis foram escritas se baseando apenas na indústria cultural sem pensar na indústria tecnológica e seus trâmites. E como ninguém é bobo, estão querendo aprovar essas leis o quanto antes.
O objetivo principal é: combater a pirataria online. Só que, com serviços como o Netflix e Spotify - streaming de áudio e vídeo de excelente qualidade por um bom preço - a pirataria diminuiu consideravelmente. Não seria mais vantajoso - para as indústrias e para o espectador - que novas alternativas continuem sendo criadas? Talvez não para quem está interessado em aprovar essas leis. Se elas forem aprovadas, o governo norte-americano terá o poder de:
- Ordenar que servidores de internet bloqueiem sites que contenham quaisquer links que cometam infração, postados por qualquer usuário;
- Prender e exigir fiança de qualquer pessoa que utilize esse material de maneira ilegal gratuitamente - ou seja, se você postar um vídeo seu cantando uma música, você corre esse risco.
Para mais informações, leia os seguintes links - que explicam de maneira muito mais correta a Protect IP:
Ainda não sei qual é o problema das indústrias em simplesmente tentar cortar esses websites. Eu entendo as reclamações sobre direitos autorais e estou de pleno acordo que artistas merecem - e devem - ganhar dinheiro. Entendo que as indústrias se sentem cada vez mais ameaçadas pela internet, e que não sabem ainda lidar com ela. Só que bloquear websites e IPs passam longe de serem medidas protetoras de conteúdo, pelo contrário. Dá a impressão de que "se você não pode comprar, não pode ter acesso". E isso só vai fazer com que as pessoas tentem outras maneiras de burlar a lei, de disponibilizar esse conteúdo de graça. A internet, como muitos já disseram, é uma hidra: corte uma cabeça... e nascem outras três.
Com essa abordagem bruta, creio que pouquíssimas pessoas vão concordar a lei - e com razão. Ao invés de tentarem construir alternativas e dar espaço para os jovens programadores e empreendedores de criar novas soluções, não: estamos querendo censurar absolutamente tudo que não dá lucro para as grandes empresas. Ao invés de construir novos caminhos, estamos destruindo as poucas pontes existentes entre o modelo antigo de indústria cultural com o novo.
Também, não posso dizer que sou contra a pirataria. Não posso chegar a este nível de hipocrisia, mas posso dar vários exemplos de como a pirataria pode dar lucro a um artista. Se qualquer site que disponibilizasse músicas de Emilie Autumn, The Strokes, The Dresden Dolls, eu jamais conheceria e compraria seus discos. Exceção feita aos Strokes, que são mais mainstream. Se eu nunca tivesse baixado a trilogia de Hunger Games, eu não teria comprado os livros. Existem muitos filmes que, apesar de já terem sido baixados no meu computador, eu comprei o DVD original quando pude. E existe também aquele problema básico do dinheiro. Como por enquanto eu dependo dos meus pais para sobreviver - e acredite em mim, eu não gosto dessa situação - eu simplesmente não posso gastar rios de dinheiro com entretenimento. E eu ainda tenho a sorte de ter uma família com condição financeira confortável... e quem não tem? É obrigado a ver televisão o dia inteiro e só escutar rádio? A internet fez com que nossos horizontes se expandissem, e não é uma lei que vai fazer com que a indústria cultural tenha o poder soberano que um dia teve.