terça-feira, 6 de janeiro de 2015

É preciso que façamos alguma coisa.

written by Larissa Rainey at 14:52
Atenção: este post falará de inúmeros tipos de violência, de forma gráfica.
 Preserve-se! Não leia o que pode te causar mal.



Eu simplesmente não sei mais o que dizer. Eu nem sei como começar esse texto, porque a situação chegou a um ponto tão absurdo que me faltam as palavras.
PRECISAMOS FALAR SOBRE A QUANTIDADE DE ADOLESCENTES QUE SE SUICIDAM NOS ÚLTIMOS TEMPOS.
Sim, em caps lock, porque eu quero que vocês prestem muita atenção nisso.
Se você vive no planeta Terra, no mínimo já ouviu falar da Leelah Alcorn, uma jovem trans que se suicidou aos 17 anos por falta de compreensão dos pais. Por sentir sua identidade negada, por lutar diariamente contra o preconceito que vem dentro de casa. Já Eylül Cansun, também uma mulher trans turca de 24 anos se suicidou, e deixou um vídeo de cortar o coração falando sobre o motivo de sua decisão. Já na Rússia, Sergei Casper, de 17 anos, foi amarrado pelos colegas de sala, teve sua cabeça afogada na privada inúmeras vezes até que ele bateu o pescoço na mesa e morreu. E o que fizeram? Deram risada. O que a professora fez? Exatamente, nada. O "crime" dele? Gostar de arte e teatro... coisas que, aparentemente, são "de viado". Mas calma, a gente não precisa ir até a Rússia encontrar casos assim. Nos últimos dez anos, a taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes cresceu em 40%. Ninguém precisa rodar a internet para procurar esses casos. A quantidade de travestis que morrem é surreal. 
O grande crime dessas pessoas?
Serem o que são. 
Eu gostaria de chegar para vocês e dizer que essa é uma tendência dos últimos anos... mas não.
Essas barbáries acontecem desde sempre. Quer alguns exemplos? Escravizamos milhões de pessoas por causa da cor da pele. Massacramos nossos índios. Judeus foram alvo do maior genocídio da história moderna - alguns historiadores dizem que esse número foi de 100 milhões. Quantos e quantas mulheres foram estupradas, espancadas, entre outras barbáries por serem mulheres?
Todo mundo sempre diz que nos diferenciamos dos animais porque somos racionais. Depois de tudo o que você leu aí, você acredita mesmo que somos racionais? 
Não somos.
Achamos que a cor da pele, um conjunto de crenças, orientação sexual e identidade de gênero são motivo o suficiente para ostracizar, espancar, violentar e matar essas pessoas. 
Isso é inadmissível. Simplesmente inadmissível. Principalmente quando temos tanto acesso à informação, tanto material que fala sobre isso, tantos relatos de pessoas que sofrem com isso diariamente...
Como é que a grande maioria das pessoas fica simplesmente de mãos atadas? Ou pior ainda, fazem parte desse grupo que oprime os outros? Como que alguém acha justificável esse tipo de violência? Como alguém olha matérias assim e não se sensibiliza?
É preciso que façamos alguma coisa. Não sei por onde começar, mas precisamos mudar alguma coisa.
As escolas precisam, urgentemente, lutar contra o bullying. Não digo chamar alguém pra fazer a porra de uma palestra. É preciso tomar medidas contra o bullying, fazer com que ele se torne inaceitável - e digo fazer, não falar da boca para fora. Porque, creio eu, é assim que podemos lutar um pouco contra as opressões. Deixando tudo isso de lado, criamos adultos horríveis que se tornam pais horríveis que oprimem e violentam os próprios filhos. Criamos uma estrutura familiar que afasta ao invés de aproximar. Criamos um ambiente cheio de ódio e opressão, de ignorância e preconceito. Criamos um mundo onde esses adultos horríveis ensinam aos filhos como ser horrível, a como zoar aquele menino "mais viadinho", ensinam que esse comportamento é errado e que os filhos devem combater isso ou não ser isso.
Se isso fosse diferente, entenderíamos que isso é errado. Zoar o coleguinha é errado sim, é um comportamento que deve ser repensado entre criança - escola - família. É preciso dar um puxão de orelha nos pais que se recusam a aceitar os filhos. Para que não aconteça como a Leelah, que mesmo depois de sua morte teve seus desejos recusados, cuja família se recusa a entender e a assumir que foderam com a vida da filha.
Se continuarmos criando crianças horríveis, o resultado jamais será bom. Enquanto acharmos que o preconceito "faz parte do mundo", as coisas continuarão assim. E repito - isso é inadmissível. Ninguém nasce com preconceito. Ele é aprendido, validado por inúmeros canais, tratado como "besteira", como "politicamente correto".
VAI SER POLITICAMENTE CORRETO SIM. 
Tem gente morrendo por causa do politicamente incorreto. Tem gente morrendo porque a sua piadinha ridícula ajuda a confirmar vários comportamentos nocivos. A sua piadinha sobre estupro valida os atos do estuprador. "Ah, estão fazendo piada sobre isso, não fiz nada de errado". Você aí que vaza as fotos íntimas da namorada: você sabe que é errado. Você sabe que isso terá um impacto enorme na vida dela - inclusive, que ela pode até se matar. Mas por que você faz? Pela "zuera". Porque você sabe que ninguém vai te questionar, que a atenção vai pra ela, porque ela é a puta, ela está errada. Sabemos o nome das meninas que tiveram a vida marcada pelo revenge porn, mas... alguém se lembra o nome dos desgraçados que vazaram as fotos? Alguém lembra de cabeça o nome dos caras que vazaram vídeos da Paris Hilton, da Kim Kardashian? Aposto que não.
Quando você alguém gordo, você ri. Você vê graça naquele corpo. Você despreza aquele corpo. Mas vem cá, o que o corpo alheio tem a ver com você? Desde quando você começou a rir desse corpo? Porque somos bombardeados com dietas, com imagens de mulheres brancas num certo padrão de beleza. Você é condicionado a acreditar que esse é o certo, e que uma pessoa que difere daquilo é uma perdedora que não merece o seu respeito.
Vocês entendem agora como precisamos cortar isso pela raiz, e isso começa com as crianças?
Se não ensinássemos essas opressão aos nossos filhos, eu tenho certeza que muita coisa mudaria.
E isso começa comigo. Com você.

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