Por Phillip Schumacher |
Caminhamos lado a lado durante uma quantidade de tempo que não sei medir. Talvez o relógio acuse que passamos apenas quinze minutos juntos, enquanto no meu tempo particular eram horas. Creio que contei a minha trajetória inteira para ele, em seus mínimos detalhes. Surpreendi-me ao perceber que vivi muito, e nada vivi. Vários marcos deixaram suas marcas em mim, entretanto todas elas superficiais. Nunca sangrei. Nunca tive acessos de raiva, de ódio. Tudo tão comedido, dentro da normalidade. Não vivi nenhum acidente extraordinário que coloriu a minha existência com as cores do caos. E para ser bem sincero, essa vida colorida não me interessava.
Lembro-me que Irisa, minha companheira de cabelos arco íris, em determinado momento de nossa caminhada sentou-se em uma mureta. Antes que pudesse perceber para qual caminho meu corpo me guiava, sentei-me ao lado dela. Percebi que seus pés balançavam-se nervosamente, como se estivesse esperando por algo.
"É a primeira vez que me sinto inútil", ela disse. Preferi não responder. Após alguns momentos, percebendo que eu não responderia ao seu comentário, resolveu continuar a falar. "Você não entende que o problema existe. Quer fechar os olhos e continuar ignorando as milhares de possibilidades que são postas na sua mesa."
"Quem está dizendo que existe um problema é você, e não eu. Não sou um inconformado", me defendi.
"Seria mais fácil se você realmente fosse um inconformado. O primeiro passo já estaria dado."
"E quem é você, para dizer se eu deveria me conformar ou não? Sempre fui senhor das minhas atitudes - eu escolhi viver assim. Talvez o problema seja em você, que quer me pintar com todas as suas cores sem se preocupar com as minhas vontades."
Ela levantou-se, furiosa, e pôs-se a andar pela rua novamente. Enquanto vi sua silhueta se movimentando, tomei uma decisão. Ao invés de segui-la, levantei-me e andei pela direção oposta.
Procurei em meu bolso meu smartphone, e vi que em minha caixa de entrada estavam alguns emails não respondidos. Novamente desvencilhando-me da realidade cotidiana da rua, comecei a digitar as respostas apropriadas e voltar ao meu caminho de sempre. Estava lá eu, atravessando uma rua qualquer, quando senti um peso enorme em cima do meu corpo, e caí no chão. Olhei para os lados e vi uma garota com cabelos da cor do arco-íris caída a meu lado.
O fim... talvez.
Não sei ainda se gostei desse final, mas acho o único pertinente ao personagem principal. A diferença dele com a vida real é que nem sempre as pessoas que podem mudar a nossa vida vão continuar a cair em cima de nós querendo nos ajudar.
1 comentários.:
kdkd posts :c
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