Revirar memórias antigas enquanto se constrói novas é uma tarefa delicada. Reviver sentimentos que te aterrorizaram e te escravizaram por tanto tempo. Tortura esta que imponho a mim mesma cada vez que releio um poema antigo que nunca foi publicado, palavras jogadas em um caderno qualquer. Letras de músicas, desejos, apelos, pedidos de socorro. Está ali, registrado, e nunca mais será apagado.
Uns meses atrás, joguei uns cadernos fora. Rasguei folhas, rasguei palavras. Mas nada me faz esquecer do que se passou. Porque foi escrito uma vez, e mesmo que eu queime a droga do papel, me lembro do que escrevi. Daquele desespero. Daquelas palavras que jamais compreenderei - mesmo tendo sido escritas pelo meu próprio punho. Estava ali o tempo todo.
E não foi apenas escrito. Foi vivenciado. Eu senti cada palavra, cada sílaba, cada reticência, cada ponto de exclamação. Ainda preciso me decidir sobre o que é mais assustador - escrever ou sentir. Porque sentir... sentir é um martírio. Mas escrever sobre o martírio é aumentá-lo, colocar uma lente em cada canto secreto dos seus sentimentos. E pensar que o sofrimento é tanto a ponto de ter que ser escrito é algo que merece muita reflexão.
Eu costumava esconder minhas piores sensações com lindas palavras. Meus melhores poemas e contos e crônicas derivam justamente do período mais vulnerável da minha vida. Isso é meio óbvio. E hoje, cobro a mesma estética da minha escrita e me frustro ao perceber que não escrevo como antes. O que faz todo o sentido; não sou a mesma. Quando sento para escrever - como agora - não quero mascarar meus sentimentos. Quero mostrá-los, entendê-los, analisá-los. Quero que minhas palavras sejam sinceras e claras. Retumbantes e vibrantes. Não quero esconder meus humores. Quero que eles ecoem aos quatro cantos e ensurdeçam aqueles que estão escutando.
Chegou a hora de esquecer - temporariamente - os arquivos antigos e lutar para escrever novos.
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