O filme “Potiche”, do diretor François Orzon, é surpreendente e inesperado. Passa-se em 1977, num bairro tipicamente burguês. Robert Pujol comanda uma fábrica de guarda chuvas – que está passando por sérias dificuldades, pois os trabalhadores estão em greve e lutando por direitos melhores. Ele é casado com Suzanne – uma mulher calma, delicada e que faz o papel de esposa-troféu perfeitamente. O casal tem dois filhos; Joelle (que passa por dificuldades no casamento) e Laurent, um aparente bon-vivant que entra e sai de faculdades e não tem interesse por nada.
A situação da família muda quando a greve dos trabalhadores atinge seu ápice e eles prendem Robert na própria sala e o tiram de seu cargo. Alguém, então, deve comandar a fábrica e controlar a greve – e então Suzanne assume o lugar do marido. Enquanto todos esperam que Suzanne seja um fiasco, ela prova que é mais do que um belo vaso (em francês, “potiche”) e faz um excelente trabalho. Com a ajuda de seu ex-amante Maurice Babin, um deputado comunista, consegue acabar com a greve. Mas quando Robert volta para a fábrica, surgem os conflitos de interesses que provam que Suzanne não é tão santa como a maioria pensa.
A fotografia de Potiche ajuda com a narrativa da história – antes de mostrarem que se passa no fim da década de 70, as luzes e as cores dão o toque de que esta não é uma história completamente contemporânea. O desenrolar dos personagens também é algo a se destacar – e não apenas o desenvolvimento de Suzanne, que é óbvio, mas também de Joelle. Conhecemos Joelle como uma mulher que não tolera mais a ausência do marido e pretende se separar e trabalhar na fábrica do pai para sustentar os filhos – mas depois ela se revela completamente leal ao marido e a família que acabara de criar. O mistério que envolve a paternidade de Laurent é contado de maneira divertida, principalmente quando Maurice suspeita que é seu pai e passa a enxergar Laurent de outra maneira.
Mas acima disso, Potiche é um filme sobre a revolução feminina – é um filme sobre como as mulheres deixaram de ser meros vasos decorativos para ter participação ativa na sociedade. O filme ilustra muito bem o desconcerto dos homens ao perceberem que as mulheres são seres pensantes que raciocinam e são capazes de conduzir negócios tão bem quanto eles. E é esse desconcerto que faz parte do humor do filme – é um humor delicado mas simultaneamente irônico e ácido. Tipicamente francês.
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