Muitos dizem que o amor é a fonte de inspiração dos poetas e escritores pelo mundo afora. Que se não fosse por esse sentimento, as pérolas da literatura não existiriam. Eu discordo violentamente dessa suposição. Quando percebem que eu escrevo demais e me perguntam se eu estou apaixonada, eu automaticamente tomo uma posição hostil. Não, eu não estou apaixonada. O amor não é o meu combustível para a literatura, ou para qualquer outra coisa.
A dor. Se eu não estivesse com algum tipo de dor (psicológica, obviamente) talvez eu nunca teria parado para escrever. Se eu não estivesse me afogando em mim mesma, eu nunca teria parado de fazer o que fosse para escrever. Para colocar no papel os meus monstros particulares. Tudo isso, porque no papel eles ficam mais bonitos. Mais poéticos. Mais fáceis de enfrentar. É como se, no momento que eu escrevo sobre o que me incomoda, o papel também ficasse incomodado. Compartilhando a dor com um anônimo que não te julga, nem te aconselha a viver o lado bom da vida.
Não que eu seja uma masoquista. Eu preferiria nunca ter me afogado. Eu preferiria escrever sobre o amor, sobre como apreciar as coisas simples da vida. Escrever sobre felicidade, sobre o êxtase. Mas cada vez que eu tento falar sobre o céu azul, na mesma hora eu começo a dizer como aquele céu azul me afetaria – ou como já afetou. É de fato estranho, e muitas vezes eu me questiono porque as coisas são assim, mas é tarde demais. Se não fosse a minha escuridão portátil, muita coisa teria mudado. Mas um dia, eu tenho certeza de que o meu nível do mar – sempre mais alto do que eu – vai me levar para algum lugar maravilhoso e inesperado. Por isso eu escrevo sobre a dor, e não sobre o amor.
(Escrito em 24 de maio de 2010)
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