Se alguém dissesse ao fotógrafo Alberto Korda que ele tiraria a foto mais reproduzida do mundo, talvez ele não acreditasse. Mas foi exatamente o que aconteceu – seu retrato do revolucionário comunista Ernesto “Che Guevara” durante uma missa fúnebre tornou-se a fotografia mais reproduzida e conhecida do mundo. E o documentário “Chevolution” vai até as origens desta foto para explicar esse fenômeno.
Fidel Castro, amigo de Che, sempre gostou de estar cercado por fotógrafos pois queria documentar a revolução cubana e ter material o suficiente para propaganda. Korda foi um desses fotógrafos escolhidos, e durante o funeral das vítimas da explosão de La Coubre conseguiu captar o momento exato da chegada de Che. Entretanto, essa foto só foi divulgada após a saída de Che de Cuba em 1965 – numa edição da Paris Match de 1967 que especulava sobre a localização de Guevara.
A foto passou a ser conhecida como “Guerrilheiro Histórico” e antes que alguém percebesse, passou a ser símbolo de justiça e igualdade. O retrato de Che foi extensivamente usado nas revoltas de estudantes franceses em 1968, que utilizavam a versão estilizada do irlandês Fitzpatrick: o rosto de Che em preto e branco e o fundo vermelho.
Mas foi quando a imagem chegou aos Estados Unidos que se tornou uma verdadeira febre. Pôsteres, camisetas, bottons, chaveiros, isqueiros, qualquer produto poderia – e era – comercializado com o rosto de Che. E o documentário ali aponta a ironia do sistema capitalista: Che era comunista e apoiava um sistema totalitário e sem liberdade de expressão, e lá estavam os jovens comprando camisetas com seus rostos num sistema totalmente contrário ao que ele apoiava. Muitas pessoas passaram a enxergar Che como um revolucionário que queria a liberdade de seu povo, como uma pessoa perfeita e íntegra – sem considerar que ele fez parte de uma revolução violenta e matara seus inimigos sem hesitar.
Outra discussão que é levantada no documentário é referente aos direitos autorais da imagem. Fidel Castro não apoiava leis referentes a direitos autorais – para ele, a arte era livre. Os filhos de Korda, entretanto, estão entrando com muitos processos na justiça para regularizar o uso da imagem de seu pai na mídia e para proteger o legado de Guevara. Seria isso o suficiente? Porque é impossível negar que a imagem se tornara, de certo modo, domínio público. Principalmente ao considerarmos o poder da internet e a facilidade com que as imagens podem ser reproduzidas, compartilhadas e editadas.
O “Guerrilheiro Heróico” perdeu seu significado geral com o tempo – e a tecnologia teve um papel importante nesse processo. O rosto de um dos expoentes do comunismo está estampando as camisetas de burgueses capitalistas. A revolução ficou pop e não precisa ser cubano para entender Guevara e ter um pedaço dele em seu guarda roupa. Uma verdadeira ironia dos dias modernos.
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