segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Top 10 - Músicas Natalinas

written by Larissa Rainey at 21:52 0 comentários.
Em 2011 eu escrevi aquele que seria um dos marcos deste blog: o Top 10 - Momentos Natalinos Deselegantes. Mas dois anos depois, achei que estava na hora de dar uma atualizada no tema. Aí você pensa, "porra, Larissa? Música Natalina? Sério que você vai fazer uma merda dessas?"
Minha resposta é: cala a boca e vem comigo.

Eu só queria um motivo pra postar essa foto.



Eu gosto do clima de derrota dessa música. O cachorro não está nem aí pro Natal, ele só quer saber de deitar perto da lareira e ficar de boa. Inclusive tá rolando uma identificação. Queria ficar deitada mastigando alguma coisa sem ninguém pra me encher o saco, mas infelizmente eu não sou um cão.


Você precisa da voz rouca do Tom Waits pro seu Natal ficar com aquele gostinho de amargura, fracasso e decadência. Pra escutar essa música, sugiro que antes você feche os olhos, finja que está num quarto escuro e sujo de hotel, fumando cigarro ruim e bebendo uísque barato. Você está sozinho no mundo, e é Natal. Sua família te odeia, você não tem emprego, nem companhia pra esquecer os problemas. Mas você recebe um cartão de Natal - de uma prostituta de Minneapolis. Aí aperta o play. De nada.


Eu choro de rir com essa música. Apenas CHORO. É a descrição detalhada e musical de uma vovó que exagerou na birita natalina e foi atropelada por uma rena. É pura poesia e magia. O clipe é mais sensacional ainda. 


ATENÇÃO: ESTA MÚSICA CONTEM O BOY GEORGE E O GEORGE MICHAEL.
ATENÇÃO: talvez você não saiba lidar com a fabulosidade desses Georges juntos.


O que dizer dos vocais afinados de Karen Gillan? Da cara de espirro iminente do Matt Smith? Da precisão musical de Arthur Darvill? A BBC nos trouxe o que há de melhor em músicas natalinas, com toda essa malemolência, essa facilidade em aprender as letras, a emoção que eles passam a cada nota cantada... Pega  meu lencinho, produção.


A Eartha Kitt é a rainha do mundo e se você não gosta dela cantando essa música eu também não gosto de você. Linda, fierce, sem precisar de muito cenário para ser totalmente chique e diva.


Cansou dos clássicos? Cansou daquela frescura toda de "eu quero amor pro Natal", "tudo o que eu quero pro Natal é você"? Ludacris é a solução perfeita para você! Uma batida hip hop, uma árvore de Natal decorada com papel higiênico (tá na letra, nem estou inventando), o que mais você quer de uma música natalina?


O que seria do Natal sem tradição? É uma lenda das músicas natalinas. Até fico emocionada quando escuto, ela realmente evoca todo o espírito natalino dentro do meu coração, me sinto aquecida por dentro até que começo a cantar esse refrão tão maravilhoso... Se o SEU Natal não tem essa música, ele é uma mentira.


Fico #CHATEADÍSSIMA quando peço sapatos feitos de pele de menina, um chapéu feito de pele de menino, o novo álbum do Slayer, uns ratinhos e uma serra elétrica e o Papai Noel me dá, sei lá, uma porra de um Game Boy.
Que eu vou fazer com essa merda, sabe.
Me dá uma caixa com um monte de pedras que dá no mesmo.


Eu não sei explicar o quanto eu amo essa música, o quanto ela reflete o meu espírito natalino, o quão genial é a letra. Liiiight me up put me on top let's f..lalalala, ho ho ho, under the mistletoe, yes everybody knows, we will take off our clothes...
Precisa de mais alguma coisa? Achei simples, achei direta, achei espírito do Natal.

Um Feliz Natal pra vocês <3




domingo, 24 de novembro de 2013

#30 - A Lista

written by Larissa Rainey at 23:17 0 comentários.

Se eu fizesse uma lista com todas as coisas que eu mudaria em mim, 
passaria o resto da vida escrevendo.
Eu queria ser mais cabeça fria, mexer no meu cabelo, suspirar e prosseguir com a vida. Tudo eventualmente se arranja. Idiotas continuarão sendo idiotas, não importa o quanto eu tente mudá-los. Eles não querem, e não vão mudar. Não é um conceito tão difícil de entender.
Eu queria ser mais impulsiva. Pensar menos. Refletir menos. Me pouparia muita dor de cabeça, muito desconforto e dores no coração. Eu dormiria bem melhor, teria a pele mais bonita, e olhos mais brilhantes - e não os olhos exaustos e sem vida que mostro por aí. 
Eu queria ser otimista. Olhar para a chuva e pensar "bem, pelo menos as plantinhas estão sendo regadas!". Observar o sol e amá-lo por brilhar tanto. Encarar uma situação ruim e pensar "bom, esta é a chance perfeita para eu me superar e aprender ainda mais a viver!".
Eu queria saber comuicar meus sentimentos e meus interesses. "Oi, olá, te acho uma gracinha, poderíamos ir ao cinema qualquer dia desses". Eu seria menos ansiosa e talvez não ficasse tão preocupada com os meus defeitos o tempo inteiro. Eu aprenderia a ser sociável e agradável.
Mas eu não sou assim. 
Se eu fizesse tudo o que está na lista com todas as coisas que eu mudaria em mim,
eu não seria mais eu.
Eu seria uma outra entidade, uma cópia perfeita - mas mecânica e falsa. 
Já que ser é preciso, que eu não seja uma cópia.
Eu sou o fogo incômodo que tento apagar a todo instante desde que nasci.

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Eu finalmente terminei as tais 30-crônicas-em-30-dias que acabou levando MESES pra terminar. Mas não me arrependo.
O blog está se tornando um conglomerado de textos pessoais. Esse ano li pouca ficção e vi poucos filmes, tudo por conta de vida acadêmica/trabalho. E pra ser sincera, cansei de escrever sobre filmes. Existem milhares de sites que falam sobre isso perfeitamente bem, e nos últimos tempos ando priorizando mais a minha escrita e a minha produção enquanto escritora. Talvez eu volte a escrever sobre filmes se algo realmente me animar, mas não  esperem muito de mim.
Porém, logo terei notícias pra vocês. Notícias boas. Quem curte mininamente o que eu escrevo vai gostar, acho. 
Não, não é sobre The Wandering Children... ainda.
;)

domingo, 10 de novembro de 2013

#29 - o insano monstro intergalático da cafeína

written by Larissa Rainey at 20:51 0 comentários.

eu deveria estar terminando minhas análises, mas não sai mais nada. eu não sobrevivo sendo forçada a fazer nada, eu preciso estar disposta. 
para não perder o pique das palavras e para dar um tempo pro meu cérebro respirar, decidi esquecer as minhas responsabilidades por um segundo e aproveitar a visita do Insano Monstro Intergalático da Cafeína.
veja bem, eu nunca tomo café. eu simplesmente odeio café. mas a cafeína se mostrou necessária nos últimos dias, e dei uma chance à essa bebida tão... tão... nojenta.
e foi assim que eu conheci o Insano Monstro Intergalático da Cafeína.
primeiro, ele colocou eletricidade em cada fibra do meu corpo.
comecei a digitar cada vez mais rápido, a ter ideias mais intensas. o sono e o cansaço ficaram pra depois. eu mal piscava. me senti o coelhinho da duracell, versão acadêmica. 
mas tudo que é bom não dura.
logo, o monstrinho (me recuso a escrever o nome dele completo de novo) subiu nos meus ombros. êta monstrinho pesado.
não dá pra fazer nada quando tem um monstrinho pulando em cima de você, puxando seu cabelo, enfiando o dedo no seu olho, te chutando, lambendo a sua orelha, rasgando a sua meia-calça.
engraçado como eu sempre tenho monstros ao meu redor.
será que isso significa que eu também sou um monstro?







domingo, 3 de novembro de 2013

#28 - histérica e racional.

written by Larissa Rainey at 23:08 1 comentários.

Ornette, por Leslie David


O mundo é uma lata de lixo azul e verde.
Vivemos numa sociedade que deixa à margem da miséria milhões de pessoas. Sem comida, sem água, sem saneamento básico e sem educação. Dizem-nos que faz parte do sistema. E para a parte da população que pode se alimentar, inventamos padrões estéticos impossíveis de serem seguidos. Dizemos a essas pessoas que elas não devem comer, que elas não merecem comer. Que a comida é o grande vilão. Deixamos essas pessoas desconfortáveis ao ponto do ódio pelo próprio corpo. Viva a base de sucos e tenha o corpo dos seus sonhos! No final das contas, ninguém merece comer - nem o miséravel, nem as celebridades milionárias.
Vivo entre pessoas que forçam laços familiares sem entenderem o conceito verdadeiro de "família". São obrigações e acusações e humilhações. Não existe respeito nem solidariedade. Cresci cercada de fofocas e mentiras. Mas eu deveria agradecer a tudo isso. Tudo isso serve a um bem maior. Mesmo que me façam acreditar que eu não sou merecedora da cama em que eu durmo. Mesmo que o meu corpo seja motivo de chacota. Pena que eles ainda não aprenderam que eu sou diferente da mulher que eles queriam que eu me tornasse. Eu queimei as caixas, e continuo queimando tudo ao meu redor. Não me interesso por falsidade nem por obrigações. Eu acompanho quem eu quero, o meu caminho me pertence. Eu reivindico o sangue que corre nas minhas veias. Ele é meu. De mais ninguém. Não force a sua mente tóxica tentando criar laços que jamais existirão.
Vivo entre a histeria total e a racionalização sistemática. Meu coração explode de sentimentos enquanto meu cérebro prepara as estratégias de guerra.
A guerra é contra o mundo, contra todas as amarras, contra mim mesma. 
Minhas armas são as cores que coloco nas minhas palavras.



sábado, 19 de outubro de 2013

#27 - Sobre Exaustão

written by Larissa Rainey at 23:25 0 comentários.

Ou fogem de mim, ou correm pelas minhas veias e contaminam o meu sistema.
Esse é o meu relacionamento mais sério, o meu amor mais profundo, a minha luxúria lancinante.
Nada me incomoda mais do que me sentir incapaz de escrever.
Tenho mil amores dentro de mim - mas prefiro morrer do que dizê-los em voz alta, a quem esses amores interessam.
Tenho mil berros presos na minha garganta que jamais verão a luz do sol.
Acumulo tristezas, cansaços e solidões. Mas também acumulo gargalhadas e um punhando de coisas boas.
Eu preciso rearranjar as letras do alfabeto para me sentir alguém. Eu preciso soltar as amarras da minha imaginação para conviver com a realidade.
Minha mente trava, se fecha, não consegue fazer mais nada. Faço conexões com personagens que nunca abandonaram meu imaginário - eles  precisam ser escritos. Minhas crianças precisam ver a luz  do dia. Eu tenho histórias, e devo contá-las.
A obrigação sempre mata a imaginação.

domingo, 15 de setembro de 2013

#26 - A Mansão dos Ecos

written by Larissa Rainey at 16:22 0 comentários.
Leaving the past

O espaço está preenchido com estruturas firmes. Tudo está em seu devido lugar, funcionando perfeitamente. As paredes não desabarão em cima de mim, o chão não quebrará, eu não cairei. As escadas me levam aos andares certos, sem hesitação. Não existem degraus falsos nem algum corrimão frouxo. O necessário para eu sobreviver sem me machucar está bem na minha frente. 
Mas enquanto eu subo as escadas, o que era tão certo se perde na eletricidade dos gritos que escuto. Olho para os lados, deixo uma mecha de cabelo atrás da orelha para nada atrapalhar minha visão. Continuo andando, desconfiada. Tem algo errado, eu sei que tem. Eu ainda não enlouqueci. Isso não é paranoia.
Abro a única  porta do segundo andar. Não está trancada - e isso me deixa em estado de alerta. O chão  está coberto de areia suja, e o ar está tão quente e úmido que qualquer passo torna-se uma caminhada árdua. Reencontro todos os brinquedos que perdi em mares distantes. Esqueço o meu cansaço e começo a fazer esculturas de areia, com minhas mãozinhas rechonchudas e desastrada - e pela primeira vez, consigo construir um castelo aceitável. Eufórica com minha nova construção, mal noto os pingos d'água que começam a cair em meu rosto. Só percebo algo quando o quarto inteiro está tão alagado. Na minha ânsia de sobreviver, nadei para fora do meu pequeno paraíso de areia. A porta se fecha, sem muito barulho. Tento abir a porta novamente para construir outro castelo - o quarto está trancado. Só me resta subir as escadas.
Não fico por muito tempo no  terceiro andar. O corredor treme com o som da rejeição. A firmeza das minhas estruturas me enganou novamente. Para alguém como eu, não existe lugar seguro na Terra.
Finalmente subo até o quarto andar. Revejo rostos familiares, e por meio segundo fico aliviada. Mas lágrimas e vozes trêmulas compõem a cena. Minha única vontade era sumir daqui.
"A única vontade dela era sumir daqui", escuto alguém dizer. Candelabros de bronze pendurados na parede iluminam o caminho - meus passos hesitam em seguir em frente, mas seguem. 
Uma onda de pânico absoluto me toma por inteira quando vejo que estou em um funeral. Aquela era eu. 
Aquela era eu. 
Corro até onde consigo. Aquela não sou eu. Aquela não sou eu. Perco-me num labirinto escuro de mágoas até encontrar mais uma escada.
Os cupins estão roendo a madeira do corrimão. Um degrau firme, para tantos outros falsos. Quando olho para o chão, vejo que o  abismo está me esperando - um abismo pronto para me devorar e me transformar em gelo puro. Mas eu não tenho pra onde ir. Nunca tive. Sempre com os olhos no horizonte, agarrada à promessa de Um Futuro Melhor. Apaixonada pela improbabilidade de algo dar certo. Só visto os fiapos que a esperança me deu. 
Eu não sei o que o sexto andar me espera. Mas não posso voltar a bater nas portas que se fecharam para mim. 

domingo, 8 de setembro de 2013

Reverberações pt. 1

written by Larissa Rainey at 01:15 0 comentários.


Primeira Reverberação:
Tomaram o que eu mais queria amar e cuidar. Rasgaram em alguns pedaços e jogaram fora bem na minha frente. Hoje estamos bem, obrigada.  Mas eu ainda tenho raiva, quando paro pra pensar.

Segunda Reverberação:
Inferno de homem! Inferno de filha! Inferno de família! Inferno, inferno, inferno! Se o inferno é aqui, você é Satanás.

Terceira Reverberação:
Não sei o que prefiro: a doçura de conversas contínuas e intensas ou a intensidade continuamente imaginada da minha sexualidade em fúria.

Quarta Reverberação:
Quero trocar pensamentos desconexos e respiração acelerada. Risadas de ensurdecer,  de doer o estômago. Risadas tão histéricas quanto a minha. Por uma vez na vida, quero segurança.

Quinta Reverberação:
Eu prefiro a escuridão, porque assim minhas chamas formam a luz que eu preciso. Não preciso de holofotes escancarados. Deixe que eu tome as rédeas da minha iluminação. Eu sou a rainha do meu tempo, e dele eu sei lidar.

Sexta Reverberação:
O mundo me cansa, o mundo me deprime, ah! se eu tivesse um dragão...

Sétima Reverberação:
"Você não devia ter cortado o seu cabelo, era tão lindo!"
Hm... eu também não devia cortar a sua garganta, ela é tão linda... mas acho que vou.

domingo, 1 de setembro de 2013

#25 - Bonecas Infláveis

written by Larissa Rainey at 21:32 1 comentários.

Não pode ser santa, mas também não pode ser puta. Se for iniciante não tem graça, mas se formos experientes  vão tirar o máximo proveito até jogarem nosso passado na nossa cara. Damos mais prazer, mas valemos menos. Vão gritar de prazer e vão gritar seu menosprezo por nós.
Não podemos ser burras nem fúteis - mas se falarmos com propriedade sobre algo, querem desqualificar nosso estudo. O nosso vocabulário tem que ser bom o suficiente para poderem nos exibir para os amigos. Esqueça controvérsias, não aponte os erros deles. Nossa inteligência deve ter o mesmo rumo que o deles - mas sempre um tiquinho inferior. Falsa modéstia é essencial.
Somos objetos de decoração e portanto devemos estar sempre impecáveis - unhas feitas (mas clarinhas, nada de vermelho-puta, preto-gótico e verde-vômito), cabelo alisado, corpo em dia, maquiagem natural. Caso contrário, o homem que temos pode procurar outra. Você não é humana, seus humores e vontades não são levados em consideração. Não ouse ser gorda, não ouse ter cabelo curto - se a sua aparência não tem o potencial de agradá-lo, melhor procurar outro caminho.
Amigo, quer uma sugestão?
Compre uma boneca inflável. Ela ficará quieta, estará sempre bonita e disposta a atender todos os seus desejos. Ela não ficará doente, não terá ciúmes e você não precisará se preocupar com o passado dela.
Não procure bonecas infláveis no corpo e na alma das mulheres.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

#24 - O amor é o que é

written by Larissa Rainey at 01:16 0 comentários.

Escrevo porque tento catalogar meus sentimentos e meus pensamentos. 
Falho miseravelmente.
Sensível demais. Sensível de menos.
Por que o amor importa tanto?
Por que existe a necessidade de amar e ser amado?
Por que vidas são decicadas à procura da "pessoa certa"?
Meus questionamentos são interrogações eternas.
Não tenho a resposta pronta, porque pessoas não são prontas.
Achamos que somos sólidos e enraizados, mas somos voláteis.
Transformação em forma de bípede inteligente.
(Só em forma, porque a inteligência ainda está para debate).
Do que somos feitos, para procurarmos tanto o amor?
Talvez a culpa possa ser colocada nos elementos.
Esse fogo que aquece, conforta, queima, arde e mata,
A água que acalma, refresca, enregela e afoga,
A terra que solidifica, nos deixa andar, nos deixa deitar e enterra 
E o ar para respirar, recobrar o fôlego, deixar tudo viver e sufocar.
Será que o fogo procura sua água? E a terra, seu ar?
Então talvez seja por isso que o amor importa.
Mesmo que seja amizade. Mesmo que seja físico. 
O amor é que o é.
(E que seja, mas longe de mim.)

domingo, 18 de agosto de 2013

#23 - O que ninguém quer ouvir

written by Larissa Rainey at 20:47 1 comentários.

(Não vou me esconder em metáforas porque essa não é a hora de ser poética).
O ruim de viver na minha bolha é que, por mais que ela seja um lugar terrível, ainda é melhor que esse tal de mundo real.
Se você não sofre de nenhum problema mental, se você nunca chegou ao lugar mais horrível e escuro do seu ser, parabéns. Cola aqui essa estrelinha dourada na testa e fique quieto.
Quando você tem câncer, ninguém diz que é frescura. Ninguém diz "isso é uma fase" para um paciente terminal. Ninguém diz "sorria e saia de casa que a vida vai melhorar". Ninguém diz que isso é "falta de pica". Eu sei disso porque meu avô lutou contra o câncer durante uns 20 anos - entre tumores que iam e voltavam. Ninguém nunca disse essas coisas para ele. Pelo contrário. Sempre o apoiaram nas tantas quimioterapias, radioterapias, cirurgias, etc. 
Mas vai falar da depressão da minha vó. Vai falar da minha depressão, para você ver como a situação muda.
Sim, câncer e depressão são doenças bem diferentes e você não precisa apontar esse dedo pra mim. São duas doenças bem diferentes, com tratamentos diferentes - e o estigma social que as acompanha são totalmente diferentes.
Se eu começar a falar extensivamente sobre minhas crises depressivas e todos os problemas que uma doença dessas acarreta, não vai demorar para falarem que eu sou uma mimada procurando atenção. Honestamente?
Sim, eu quero que você preste atenção em mim - porque é graças a pensamentos como o seu que trocentos outros depressivos não procuram tratamento.
É essa mania maldita de achar que é tudo frescura, fase, que "vai-passar", que a sua família é igual aos comerciais de margarina que muitas pessoas que sofrem com doenças mentais não querem procurar ajuda.
A quantidade de vezes que me olharam feio quando eu digo que faço terapia e que já tomei remédios é absurda.
"Ah, mas você não precisa de remédios."
Você é médico? Psiquiatra? Você sabe quais são as minhas necessidades? Você está dentro da minha cabeça e sabe o que eu me sinto? Você conhece as substâncias que correm pelo meu cérebro que fazem eu me sentir desse jeito? Não, né? Ok. 
"Terapia? Isso é coisa de quem não tem Deus no coração nem amigos."
Se eu precisar de gente como você para entender a minha cabeça, estou fodida.
"Isso não é depressão, você só está meio solitária."
Até quando você vai achar que convívio social é a melhor coisa para uma pessoa com qualquer tipo de distúrbio mental? Cada crise é uma crise, cara pessoa abelhuda.
"Você devia pegar todo esse dinheiro que gasta com terapia pra ir viajar". (Sem brincadeira, eu realmente já ouvi isso.
Imagina que louca essa viagem, hein.
Agora, vamos falar de fatos e de gente que é mais respeitada que uma mera ruiva no mundo:
  • "Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão afeta cerca de 340 milhões de pessoas e causa 850 mil suicídios por ano em todo o mundo. No Brasil, são cerca de 13 milhões de depressivos." Ah, mas é tudo um bando de frescurento né, pra quê  se preocupar? (fonte)
  • "Quem já teve um episódio de depressão no passado corre 50% de risco de repeti-lo. Caso tenha tido dois casos, a probabilidade de voltar a ter a doença pode chegar a 90%, sendo essa percentagem superior em caso de três episódios." Ah, mas é só uma fase. Vai passar logo. (fonte)
  • "A Depressão é apontada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como a quinta maior questão de saúde pública e até 2020 deverá estar em segundo lugar." (fonte)
  • "Muitas vezes, não é diagnosticada nem tratada de maneira adequada. Hoje a doença é a quarta causa global de incapacidade e deve se tornar a segunda até o ano de 2021. Além disso, a Organização Mundial da Saúde estima que cerca de 75% das pessoas com depressão não recebem tratamento adequado." E você ainda trata feito bosta quem procura tratamento, Valeu aí, campeão. (fonte)
  • "De acordo com um estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior prevalência da doença no último ano, com 10,8% da população apresentando o distúrbio mental. " (fonte)
  • "Por que quando qualquer outro órgão do seu corpo para de funcionar você ganha simpatia, mas quando o seu cérebro para de funcionar você ganha sigilo e vergonha?" -  frase de Rick Warren, cujo filho sofria de depressão e que publicou um livro para ajudar a diminuir a estimagtização de doenças mentais. (fonte)

Espero que depois desse pequeno texto, você se eduque e seja uma pessoa a menos que estigmatiza doenças mentais. A gente não precisa de mais vozes falando que somos incapazes e que nossos sentimentos não são válidos.
Beijos no seu cérebro perfeitamente funcional.


sábado, 17 de agosto de 2013

#22 - Vai dormir, menina

written by Larissa Rainey at 02:06 0 comentários.

Pensei num amor extraordinário, que ultrapasse os limites do meu vocabulário. Logo orquestrei você em minha mente, um amontoado de palavras familiares e anacrônicas. Mas aí eu comecei a escrever sobre chutes e sobre sangue e tudo se perdeu.
Comecei a falar da minha fúria desengonçada e sobre lugares longínquos. Senti o gosto da poeira dos meus chutes enquanto eu  arrasava a terra. Então, eu senti a ventania irritando cortando o meu rosto com seus toques gélidos e por um segundo me vi como um iceberg flutuando no deserto. Eu não sei qual é a dessa metáfora, francamente. 
Meus pensamentos se voltaram para a minha escrita e tudo ficou muito confuso. Qualquer um escreve. Junta palavra ali, palavra acolá, e pronto. Eu não deveria levar minha escrita a sério. Se eu pudesse catalogar toda a minha produção literária, colocaria tudo com um M de "mimimi" em letras garrafais cor-de-rosa.
Lembrei do meu portfólio. O passado do aprendizado organizado em fundos rosados. Desde quando eu gosto tanto de rosa? Não me lembro de ter deixado essa cor entrar na minha vida - não me lembro de ter deixado nada entrar na minha vida, eu nem sei porque EU entrei na minha vida.
"Você nasceu porque seus pais te fizeram" - não, não quero seguir essa linha de pensamento.
Mistura de DNA, A-T-C-G e tem mais alguma letra que eu não lembro. Como os ATCG's dos meus pais se misturaram e deram nisso aqui? Qual é a lógica inabalável da genética que juntou nuvem com nuvem e criou um pato?
Sim, eu sou um pato. O patinho feio que na real nem era um pato, era um cisne. Que família burra é essa que nunca percebeu que aquilo não era um pato? Será que eles desconheciam a própria anatomia? Acho que os pais desse pato-que-era-cisne tinham problemas com drogas e viviam alterados, por isso achavam que o cisne-que-era-pato era um pato, não um cisne.
Eu vomito palavras e vomito ideais e meus sentimentos são as toras de madeira da minha lareira.
Agora você entende o nome dessa crônica?

domingo, 11 de agosto de 2013

A Liberdade Sexual de Sookie Stackhouse

written by Larissa Rainey at 00:14 0 comentários.

Já aviso: se você não curte True Blood, esse post não é pra você. E tem spoilers. E ~fotos picantes~.

domingo, 4 de agosto de 2013

#21 - A Ponta da Faca

written by Larissa Rainey at 20:00 0 comentários.
lovelycontusions

Como conformar o inconformado?
Os argumentos imbatíveis são corrompidos pela imaginação do ouvinte desinteressado. A lógica e a racionalidade são atropeladas pelo "homem-de-ação" que não se importa com as teorias. O amor e o carinho são substituídos pelo desejo de ter poder e pela luxúria da rigidez. O respeito sai da prateleira, e agora só vendem sapos - prontos para engolir.
Eu preciso sobreviver... preciso?
Por mais que uma pessoa tente ignorar, existem sentimentos envolvidos. Existe aquela vontade de pertencer a algum lugar, mesmo que este lugar seja a definição do inferno da classe média. Existe a procura pelo afago, pelo calor, pela esperança de que o mundo não seja tão execrável assim.
Eu procuro pelo paraíso inexistente. Nunca existiu. Não existe. Jamais existirá.
Procura-se soluções, e não razões. Por mais que sejam compreendidas as razões, de nada adianta esse conhecimento sem um plano prático para acabar com tudo.
"Acabar com tudo"... não importa para onde eu corra, essas são as três palavras que chovem no meu jardim semântico.
O aço gelado perfura a pele e machuca a carne, enquanto o sangue corre solto.
A cada vez que eu converso com você, é mais um murro que dou na ponta da faca. Ela nunca perde o corte. Você sempre tem razão. Eu sempre enlouqueço.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

#20 - O Manifesto da Introvertida

written by Larissa Rainey at 21:55 0 comentários.

introversion II por ezorenier
Você não dirá que eu devo sorrir.
Você não dirá que eu devo sair de casa.
Você não dirá que o palpitar trêmulo dentro de mim é frescura.
Você não dirá que se eu arranjar um emprego, deixarei de ser assim.
Eu sou introvertida - lide com isso.
Eu não vou abraçar qualquer pessoa. 
Eu não vou puxar assunto com qualquer pessoa em qualquer lugar.
Eu não vou te dizer algo engraçado se eu não me sentir confortável antes.
Minhas mãos estão no meu bolso, meus olhos para baixo.
Eu sou introvertida e você não deve tentar mudar quem eu sou.
Eu sou introvertida e você não deve me criticar por isso.
Eu me abro com quem eu quiser, na hora que quiser,  SE eu quiser.
Não sou melhor por causa disso.
Não sou pior por causa disso.
Comigo as coisas podem ser mais demoradas, mais lentas, mais doloridas.
Mas eu vou melhorar isso se eu quiser - se eu não aguentar mais.
Não tente me mudar. Não tente me diminuir. Não tente me pressionar a ser igual a você, extrovertido.
Você não é melhor que eu só porque consegue fazer amigos mais rápido.
Você não é melhor que eu só porque consegue arranjar empregos mais rápido.
Você não é melhor que eu só porque consegue falar em público com mais facilidade.
Estou em contato comigo mesma, estou dentro do meu mundo.
Não me tire dele a não ser que eu queira.
Eu não preciso mudar o meu interior para caber no formato que você prefere.
Eu não preciso mudar o meu coração para falar mais alto.
Se você não me respeita falando pouco, falando baixo ou não falando, por que eu deveria te respeitar para ser mais cômoda ao seu molde?
Se eu quiser sair de casa para conhecer gente nova, eu saio.
Se eu não quiser, eu não saio.
Eu sou introvertida e me tranco - melhor do que sair à força.
Eu sou introvertida e falo baixo, mas se você tentar me convencer de que isso é falha de personalidade, eu vou gritar bem alto para você ir se foder, seu merda.



terça-feira, 30 de julho de 2013

Hannibal

written by Larissa Rainey at 22:54 1 comentários.
O seu amor é canibal, comeu meu coração mas agora eu sou feliz

Percebi que ultimamente o blog anda muito focado em crônicas e textos sentimentais em geral, e bateu um nojinho tive vontade de mudar um pouco isso. Resolvi então escrever sobre uma série que vi recentemente e me apaixonei - Hannibal.

A série, idealizada por Bryan Fuller (que também fez Pushing Daisies e Dead Like Me), é uma prequel aos filmes. Ou seja, é antes de Dragão Vermelho. De acordo com Bryan, os eventos de Dragão Vermelho aconteceriam lá pela quarta  temporada. Mas veja bem, uma série como Hannibal dispensa maiores explicações e apresentações - principalmente por carregar o nome de um dos serial killers mais icônicos da ficção. Mas como convencer as pessoas a assistir um Hannibal que não é o Anthony Hopkins?


Mads Mikkelsen é incrível como Hannibal. Ele não tenta imitar o Hannibal de Hopkins - mas percebe-se claramente que é ele a figura que mais tarde conhece Clarice em Silêncio dos Inocentes. Ele é sofisticado, reservado, e manipula a mente das pessoas ao seu redor com muita, mas muita classe. A cada vez que ele entra em cena, eu sinto um misto de admiração, nojo e fascinação. O Hannibal de Mads é completamente crível - o que dá MUITO medo. Achei um absurdo ele não ter sido indicado ao Emmy desse ano.

por delacores, no tumblr.
Aí temos Hugh Dancy como Will Graham. Não sei nem por onde começar a descrever o Will.
Se tem alguém que se ferra nessa série, é ele. A imaginação e genialidade dele (junto com outros probleminhas) fazem com que ele tenha o talento de reconstruir o pensamento de serial killers. Lógico que uma habilidade dessas fode a cabeça de qualquer um, e quanto mais o Jack Crawford
(Laurence Fishburne <3)  quer que ele "salve" vidas, mais o Will se perde dentro da própria cabeça. Pra piorar, ele ainda confia no Hannibal para cuidar da sua saúde mental.
A receita para um colapso mental é essa aí, anotem. 
Hugh Dancy está excepcional como Will Graham - ele consegue passar as alterações do estado mental de Will de uma maneira realista e angustiante. Não tem como morrer de dó dele e de querer ajudá-lo de alguma maneira. O relacionamento dele com Hannibal é o ponto mais importante da série - e é muito bem explorado, com dois atores incríveis e um roteiro maravilhoso.

E eu tenho três coadjuvantes favoritos:

Beverly Katz, também investiga crimes e é especializada na análise de fibras e cabelos. É inteligentíssima, tem um senso de humor seco e incrível, e adoro o jeito como ela admira as habilidades do Will e até se preocupa com ele. 1 linda. <3




Eu gosto da profundidade que existe na Alana Bloom. Ela se preocupa com o Will, briga com o Jack por causa dele, não tem medo de expressar suas opiniões e seus desejos e é muito madura. <3









Lógico que eu não deixaria de falar da cota ruiva de Hannibal, né. Freddie Lounds mistura muitas coisas que eu amo num personagem: inteligência, ambição, determinação, moral questionável, dicotomia e cabelos ruivos cheios e cacheados. <3
Ela não deixa nada escapar e não se preocupa em ter que passar por cima de alguém para cobrir uma matéria. O relacionamento dela com o Will é cheio de tensão e sarcasmo e raiva, e pra mim ela é uma das melhores mulheres da série. 











Por fim, quero dizer que: se você quer sofrer por uma série bem escrita, assista Hannibal neste exato momento. 



sábado, 29 de junho de 2013

#19 - O não dito

written by Larissa Rainey at 22:57 0 comentários.
Insanity by ~starg691

O pedestal que te colocam é falso. As construções sociais que elevam a sua importância são decrépitas e fracas. A sua voz clama pela atenção que recusam a te dar. Os seus berros assustam o coração que está cansado de bater no ritmo da ansiedade. As suas lágrimas denunciam o medo de enfrentar a escuridão. O brilho verde dos seus olhos ecoa o nada da sua alma.
O que você vê quando está em frente ao espelho? Você perde tanto tempo dissecando os defeitos da sua carne que esquece dos pontos mofados do seu interior. Conta cada prato de comida, atribui pontos a cada um deles. Engole qualquer pílula que deixe seu corpo bonito. Mede cada centímetro da sua pele, esfrega qualquer loção para tentar camuflar os sinais do tempo e da vida. 
Mas mãe, você sempre foi bonita. 
Pena que esqueceu de alimentar o que está aí dentro, escondido, esperando. A raiva cava buracos profundos na pele sangrenta e macia do seu coração. As palavras afiadas distanciam quem você carregou no útero. O  medo da escuridão fez com que você repousasse sua cabeça em qualquer luz. Expectativas exageradas esfolam a suavidade da sua voz e te deixa áspera, violenta e insalubre. Desgastou tanto a si mesma que seus ouvidos querem parar de ouvir o mundo ao seu redor.
E se as coisas tivessem sido diferentes?
E se naquele 30 de novembro, tudo tivesse acabado? Talvez você seria obrigada a encarar a escuridão profunda que te cerca. Teria que anunciar para o mundo que você errou, e que não havia mais conserto dali em diante. O quarto que você tanto odeia ficaria vazio para sempre, com memórias fantasmagóricas da pessoa que um dia você chamou de maldita.
Não adianta pensar no que poderia ser. Suas palavras nunca vão se abrandar, e eu ainda estou aqui. A escuridão que você tanto teme é minha amante. Eu conheço cada toque e cada sussurro dela. Sei bem como é segurar cada curva de seu corpo frio e rígido. Estive em  lugares que não ouso voltar novamente - os mesmos lugares que você tenta preencher com fotos falsas.
Mas eu estou me libertando. Por que você ainda se prende?

(Texto inspirado pela música Mother, do Yann Tiersen.)

sexta-feira, 28 de junho de 2013

O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman

written by Larissa Rainey at 23:29 3 comentários.

Eu observei o lançamento do livro novo do Neil Gaiman com um pouco de indiferença. Talvez seja porque minha cabeça anda muito cheia ou porque eu parei de comprar livros constantemente por causa das mil leituras do tcc. O último livro de ficção que eu li foi Entrevista com o Vampiro em março... por causa do tcc.  Por prazer mesmo, só O Senhor dos Anéis - que ainda preciso terminar. 
Mas eu estava com duas horas pra gastar numa tarde de sábado... tem um shopping com uma livraria perto da minha psicóloga... eu tinha dinheiro... "Olha, o livro novo do Gaiman... hm,está barato... COMPRADO!". 
O narrador, após um funeral, acaba voltando para a vizinhança onde cresceu. Andando por lá, ele se encontra num lago que fazia parte da propriedade das Hempstock - e então, toda a narrativa acontece através de flashbacks de uma determinada parte de sua infância.
Quando ele tinha sete anos, um dos inquilinos se suicidou dentro de um carro da família.  Esse suicídio acaba perturbando forças mágicas e misteriosas - e que, aparentemente, só as mulheres Hempstock conseguem lidar com essas forças. A velha sra. Hempstock afirma que viu o Big Bang - e Lettie, a mais nova, diz que o lago é seu oceano. E o resto... são spoilers.  
O Oceano no Fim do Caminho me conquistou bem lentamente. É daqueles livros que vai te conquistando aos poucos, e quando você vê já está completamente imersa no mundo proposto pelo Neil. Percebe-se que em alguns momentos, ele escreveu sobre coisas bastante pessoais (o narrador é um leitor ávido, entre outros detalhes). É, acho que se pode dizer que é um livro cativante. Vai de mansinho, como quem não quer nada, e te arrebata quando você menos espera. 
Recomendo, e muito. E agora preciso ler Deuses Americanos! 

PS: Sim, troquei de layout de novo. Espero que tenham gostado :)

terça-feira, 30 de abril de 2013

#18 - Pequenas Coisas Ofensivas

written by Larissa Rainey at 21:50 3 comentários.


Veja bem, eu sou uma pessoa chata. Esse fato nem precisa de justificação - se eu fosse uma pessoa legal, tranquila e de bem com a vida eu não escreveria. Estaria por aí distribuindo amor, flores e unicórnios. Porém, eu sou chata e muita coisa me ofende. Não estou falando de coisas sérias e que teoricamente deveriam ofender qualquer pessoa com consciência. Estou me referindo àquelas coisas pequenas, insignificantes, mas que só de existirem já fazem com que eu queira fazer cosplay de Ned Stark pós-sentença do Joffrey.
Sopa me ofende. Sopa me deixa doente. Qual é o propósito de uma comida líquida e quente com coisas flutuando? Quem inventou a sopa não gosta de comida. 
Miojo me ofende. Macarrão é uma coisa tão preciosa e linda, e miojo tem gosto de complexo de inferioridade. Parece que ao comer miojo você está declarando para o mundo que não é bom o suficiente pra fazer macarrão e jogar um molho em cima dele feito uma pessoa decente. É contentar-se com pouco.
Gente que cospe na rua me ofende. Me ofende e me dá nojinho. A rua não é a pia da sua casa e ninguém é obrigado a ver o seu cuspe fazendo competição de distância. 
Caras que fazem questão de contarem para o mundo o quão legais eles são me ofendem. Quem é legal de verdade não precisa colocar no jornal. A partir do momento que você tenta fazer com que eu acredite que você é a pessoa mais sensível e gentil do mundo sem realmente ter nenhuma atitude que justifique tudo isso, eu só vou desconfiar. 
Gente bonita me ofende. Não sou obrigada a lidar com a sua bela cara existindo por aí.
Macacão de oncinha me ofende. A não ser que você esteja indo para uma festa à fantasia, não entendo o porquê de sair de casa fazendo cosplay de onça. 
Chocolate branco me ofende. Não tem cacau, então por quê chamam de chocolate? 
Refrigerante de laranja me ofende em níveis estratosféricos - principalmente porque sempre tem um gênio pra relacionar essa bebida infeliz com cabelo ruivo. 
Telefone me ofende. É incômodo e chato. Tem tanta opção melhor pra se conversar hoje em dia e você quer mesmo que eu use o telefone?
Reclamar que  "ai, isso é velho" me ofende e me irrita. A senhora sua mãe também é velha e você ainda chora por causa dela, então recolha-se à sua insignificância e me deixe curtir as coisas quando eu bem quiser.
Eu me ofendo. Sou irritante, incômoda, cheia de extremos, contradições, sou pequena e chamo a atenção mesmo não querendo. Mas ainda não encontrei uma cura para mim mesma, então permaneço nessa situação desconfortável.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

#17 - Brincando

written by Larissa Rainey at 16:44 1 comentários.

Não gosto de algumas piadas. Considero-as desnecessárias, ofensivas, baixas, ridículas. Considero-as fruto de uma mente fechada com consciência torta. O uso de uma palavra modifica todo um discurso, e eu esperaria que todos nós soubéssemos disso. Somos seres falantes (tenho minhas dúvidas quanto ao 'pensantes'). Mas é o que é - uma piada, certo? Não há necessidade de levar tudo muito a sério. Talvez eu seja muito formal - ou muito atrasada intelectualmente. O humor, pra ser engraçado, tem que tirar sarro de absolutamente tudo, de qualquer maneira. Não se precisa pensar no humor para fazê-lo. Estão apenas brincando.
Não gosto quando um apresentador faz uma coletânea de todas as mulheres que expuseram os seios em filmes. E antes que digam que eu sou pudica, meu problema não é com o corpo desnudo. O meu problema é que até quando a cena é de estupro ou demonstra alguma violência, o que importa para algumas pessoas é ver mulher nua. Porque realmente, vivemos numa sociedade muito conservadora e é muito difícil ver corpos femininos sem roupa. A nossa sociedade resume-se a garotos de 13 anos com testosterona borbulhante. Mas no final de contas, é mais uma piada, certo? Que horror, eu sou muito séria. Talvez eu precise levar minha vida com mais leveza, com mais senso de humor.
Quando tiravam sarro do meu cabelo ruivo na escola, sempre me diziam que eu deveria rir junto. Que era apenas uma forma de me notarem. Que quando garotos se comportam dessa forma com você, é porque eles estão interessados em você. Mas eu nunca acreditei nisso... acho que sempre fui muito fechada, muito irritadinha. Coitada de mim que perdi a oportunidade de viver a adolescência ao lado de gênios do humor galanteadores.
Quando assediam alguém pela internet - por ser gay, gordo, ou simplesmente por ser - é normal. É tudo pela zoeira. É só brincadeira, gente, não precisa levar nada disso a sério. E se essas brincadeiras acabam com a vida de alguém, é porque a pessoa era fraca e não sabia entender uma piada... será que esse é o meu fim?
Quando um homem faz questão de assediar e abusar de uma moça num programa de televisão, é transgressão artística. Não é abuso, imaginem só! Afinal de contas, a culpa é do vestido dela. Dos saltos que ela usa. Da persona dela. Porque independentemente da roupa que usamos, não somos importantes o suficiente para sermos respeitados. Precisamos seguir o código para ser merecedor de um mínimo respeito. Mas eu não devia ficar com tanto nojo disso, devia? É uma brincadeira, não é?

segunda-feira, 1 de abril de 2013

#16 - Mais um

written by Larissa Rainey at 23:45 0 comentários.
Heaven is watching, por celle coelho.

Descolei-me das paredes do meu ser para moldar outro alguém. Arranhei pedaços da minha carne com raiva e desespero por falta de melhor entendimento. Revesti meu coração com metal para que ele fosse impenetrável. Enterrei com desgosto a sensibilidade que tanto me alucinava. Apenas para ouvir a pergunta seguinte: "e agora?"
E com tantas barreiras, tornei-me solitária. Ao proteger-me demais, tornei-me inexperiente. Ao tentar ser única, tornei-me quinhentas. Quem é a pessoa que te encara pedindo beijos fulminantes, esperando que um olhar seja o suficiente? Quem é a mulher insensível que brilha como a fogueira na escuridão  de sua caverna úmida? Quem é a serpente tímida que tem medo do próprio veneno e te observa de longe?
Meu valor torna proporções megalomaníacas enquanto sou metáfora. Mas aplicada ao mundo das coisas físicas e materiais, sou o que sou: uma mulher com flashbacks de menina. Apenas isso. Nada mais. A complexidade dramática, os sonhos e as ambições e as frustrações são memórias que morrerão comigo. No meu último suspiro, tudo isso irá embora. O que torna a vida inteira extremamente curta.
Uma vida tão curta não permite amarras nem falta de liberdade. Uma vida tão curta não permite que esse ano seja apenas mais um. E quando falarem sobre mim, que digam que eu desafiei a gravidade. Digam que eu tentei e continuo tentando. Digam que eu sobrevivi e que escrevi a história.
Voltei a abraçar as paredes do meu ser, porque eu sou o alguém que devo ser. Acaricei com ternura o meu corpo, pois é das minhas mãos que o carinho deve vir. Tive paciência com meus erros e meus desesperos. Revesti meu coração com diamantes, pois eu quero que ele brilhe.  Desenterrei minha sensibilidade, limpei-a e mais do que nunca confio em meus pressentimentos. E quando a pergunta seguinte vier, saberei que nem sempre devo seguir os tijolos amarelos.


I'm through accepting limits
'Cuz someone says they're so
Some things I cannot change
But till I try, I'll never know!
Too long I've been afraid of
Losing love I guess I've lost
Well, if that's love
It comes at much too high a cost!


I'd sooner buy
Defying gravity
Kiss me goodbye
I'm defying gravity
And you can't pull me down!

P.S: Espero que tenham gostado da cara nova do blog. Eu gostei. 

sábado, 16 de março de 2013

Os dias de crianças errantes acabaram.

written by Larissa Rainey at 01:19 0 comentários.

Já mencionei aqui no blog que eu estava escrevendo um livro. Se chama "The Wandering Children", e comecei a postar alguns capítulos no tumblr. Mas todo mundo que me acompanha sabe das dificuldades que eu tive pra continuar com o projeto, e... ele vai ficar de molho. Por um ano. 
Definitivamente, não é a minha vontade. Entretanto, 2013 é um ano completamente voltado para o meu lado profissional e acadêmico. Me formo esse ano, comecei a trabalhar (coros de anjos cantam aleluia de roupinha rosa) e simplesmente não dá tempo para pensar em The Wandering Children. Tá, pensar até dá, mas não vou ter tempo de colocar no papel, consistentemente. Se eu focar em TWC da maneira que estou me focando na faculdade e no trabalho, eu morro de exaustão. Por enquanto o tcc não tá muito apertado... mas vai ficar. E eu quero um tcc no mínimo excelente, então eu preciso dar meu sangue e estudar. muito.
Como eu só postei até o sétimo capítulo no tumblr, decidi upar o pdf com tudo o que eu escrevi até agora. São onze capítulos, com muitas alterações, possíveis erros de gramática e partes sem noção... mas tá aí. Clique aqui pra ver o tal do pdf.
Podem ter certeza que um dia ele vai ser publicado - eu preciso contar a história das minhas crianças.
Beijo no coração de vocês, e mil agradecimentos a todos que me deram força pra escrever essas meras 59 páginas. Um dia eu chego nas trezentas.

Trilha sonora do momento: Belle & Sebastian - My Wandering Days Are Over



sexta-feira, 8 de março de 2013

#15 - Linda, libre y loca

written by Larissa Rainey at 18:04 0 comentários.
O que é 'ser mulher'?
O que é e o que significa ser 'feminina'?
Ser mulher é ter uma vagina? Ser mulher é ter cabelo comprido e usar salto alto? Ser mulher é ser "complicada e perfeitinha", cheia de paradoxos? Ser mulher é gostar de flores? O que define uma "mulher de verdade"?
Quem decide essas regras? São regras? E por que se definem essas regas? Quem se beneficia delas?
E por que me dão parabéns pelo dia das mulheres sendo que eu ainda preciso "me dar ao respeito"? Por que me parabenizam sendo que vão contra um salário igualitário? Por que me parabenizam por ser mulher sendo que uma das piores ofensas para um homem é ter características femininas? Por que me parabenizam por ser mulher insultando o meu corpo e as minhas barreiras num espaço físico comum? Por que parabenizam todas nós, mesmo quando existe tanta desigualdade e tanta injustiça acontecendo contra as mulheres? 
De que adianta me presentear com flores se tantos não me veem como humana e como igual? De que adianta separar um dia no ano para mim se o meu corpo aparentemente não é meu, e deve pertencer à sociedade? De que adianta ressaltar nossas qualidades se nos outros dias do ano somos criticadas todo santo dia? De que adianta ter um dia "só para as mulheres" se ainda tem gente que questiona "porque não fazem um dia para os homens"?
Será que algum dia poderei olhar para trás e ver que as coisas melhoraram? Será que um dia homens e mulheres serão iguais e poderão ditar o que acontece com seus próprios corpos? Será que um dia homens não se sentirão emasculados ao chorar, ao usar rosa, ao gostar de algo 'tipicamente' feminino? Será que esses papéis irão mudar? Será que meus amigos transgêneros e transsexuais  terão o respeito que lhes é de direito?
Não sei a resposta para nenhuma dessas perguntas... ou até sei, mas isso é coisa pra outra crônica. Só sei de uma coisa.
Com meu fogo característico, derreti os moldes que tanto me prendiam. Não trocaria o que sou, mesmo se eu pudesse ganhar o mundo sendo outra pessoa. E vou continuar buscando o que é meu, tendo meus sonhos e ambições e particularidades.
Sou linda, livre e louca.




sábado, 2 de março de 2013

#14 - E de tanto ficar bolada, virou uma bola

written by Larissa Rainey at 01:46 1 comentários.
She upset the weather by sameoddstory

Raíssa era uma menina bonitinha. Não saía de casa sem corretivo, delineador e rímel - pra "não ficar com cara de morta". Não gostava de colares porque eles incomodavam no calor. Gostava de rosa, de renda e de  brilho. Mas também gostava de preto, couro e meia-calça. Não que isso seja importante para a construção do caráter dela. São apenas informações pequenas, dessas que a gente guarda no coração pra quando precisar.
A Raíssa tinha só um problema - ela se preocupava demais. Com o cabelo, com as olheiras, com as unhas, com o trabalho, com a faculdade, com os pais, com os amigos, com a falta de amor, com o fato de ela achar que falta amor, com o futuro, com a sociedade, com o universo. Pense em qualquer coisa que tece esse mundo e provavelmente a Raíssa já se preocupou com essa coisa. Nem ela entendia porque vivia tão preocupada, tão alerta, tão desconfiada. Ela mal se lembra dos dias despreocupados. Não tem um dia que ela respira fundo antes de dormir e se deixa levar pelo sono. 
Mas a Raíssa sabe esconder bem essas preocupações. Vive distraída, caindo pelos cantos - literalmente, lutando para sobreviver no próprio mar. Dá uma risadinha ali, outra aqui, tá tudo bem. Vê um filme, um episódio, ouve  algumas músicas,  conversa um pouco. Tá tudo bem agora, tá tudo sob controle. Se nada der certo, vai ler algum livro. 
A Raíssa não é uma lindinha? Olha só, que menina bonita. Quer dizer,  ela nem é essa coca-cola toda. Ela se acha bem superestimada, pra falar a verdade. Taí outra coisa que a preocupa constantemente: alguém achar que ela é só bonita. Se alguém achar que ela é incapaz de fazer alguma coisa ou que não é inteligente o suficiente, aí ela pira. "Me chama de gorda, de feia e de ridícula mas não me chama de burra", ela me disse uma  vez. Mas ela não se acha tão inteligente assim, e ela morre por dentro sempre que se lembra disso.
A Raíssa tá sempre morrendo. Sempre bolada, sempre pensativa. Todo dia trocam a ervilha dos colchões dela. E de tanto ficar assim bolada, preocupada e quieta, a Raíssa virou uma bola. Ela vai rolando pelo gramado, incerta e confusa. De cá pra lá, ali e aqui, em todos os lugares e em lugar nenhum. Quanto mais ela rola, mais bolada ela fica.
Mas a Raíssa continua rolando, porque é o que tem pra hoje.





segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

#13 - Abandono

written by Larissa Rainey at 23:02 2 comentários.
Physical Abandonment. by ~HONEYandSALIVA

Me abandona, por favor.
Me deixa viver, me deixa respirar com dificuldade até eu reencontrar meu fôlego.  Deixa eu dar esses passos pesados em qualquer direção. 
Não me abrace com esses braços que mais machucam que afagam. Não me cubra com o seu amor que só faz humilhar e cansar esse coração que vive de mágoa e esperança. Não fale mais comigo, não me mande cartas nem recados. Esse trem já partiu - o mesmo trem que você desprezou tanto uma vez.
Eu não quero esquecer tudo o que já passou e nem fingir que o futuro vai ser melhor perto de você. Não quero, não quero. Bato o pé e faço birra, mas eu me recuso a acreditar que tudo isso é amor.
Amor não prende... amor deixa a gente respirar. E perto de você eu faço qualquer coisa, menos respirar com calma. Amor só multiplica, e o meu amor próprio só encolhe quando a gente divide o mesmo ar.
É o sangue que não deixa você me abandonar? Porque se for, eu não me importo. Já derramei tanto sangue que não deve ter sobrado muito. Sangue não conta. Carinho sim.
Me deixa crescer, me deixa receber amor de outras pessoas sem achar que eu não mereço. Me deixa caminhar de cabeça erguida, com um sorriso no rosto, olhos brilhantes de liberdade. Me deixa num canto bem escuro e frio, com a porta aberta. Deixa eu sair rastejando bem fraquinha, até eu conseguir andar melhor.
Se você realmente me ama... me abandona.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

#12 - A Diferença Entre as Cordas

written by Larissa Rainey at 00:04 0 comentários.
Rope Walker by ~smokepaint

O canto que une uma parede a outra é o corpo que me abraça. O chão frio decorado por fios de cabelo é a única coisa que meus olhos assimilam. Não há luz que ilumine meu caminho nem calor que me aqueça. O que um dia foi tão familiar se torna desconhecido e não sei por quanto tempo permanecerei aqui. Imagino que as paredes que se fecham ao meu redor sejam apenas os restos das ruínas de alguém que já fui. Meu mundo é o das especulações, das teorias, dos incontáveis "mas e se...", do dia-a-dia cretino embelezado com algumas camadas de gramática correta. 
Existem várias cordas que me puxam para lugares onde não quero estar. Não quero estar aqui - quero estar lá, mesmo que eu saiba que lá não é perfeito. Mas sou puxada para o lugar onde estou e as cordas sussurram numa língua obscura que eu deveria estar contente. Minha missão enquanto pessoa-que-vive-no-meio-das-outras é a de estar sempre contente,  agradável aos olhos e ser imensamente grata. Ser mais uma - eis meu pesadelo.
Não gosto das cordas ásperas e grossas. A cada milímetro delas, estão escritos todos os meus defeitos e minhas fraquezas. Olhar para os meus pulsos pálidos envoltos por elas só faz com que algum canto de mim se machuque ainda mais. E a cada tentativa de me libertar, só me prendo ainda mais.
As cordas finas e fracas, entretanto, não são melhores. Toda vez que me liberto, tropeço-me em mim mesma e tomo a decisão errada. Volto para o meu posto anterior, com culpa e receio. Como uma pessoa que não confia em si mesma poderia querer confiar em outro alguém? Como amar e tolerar quem está de fora da fogueira? E como esperar esse amor e tolerância dos outros? 
São perguntas demais, e nenhuma resposta. Pergunto-me como me prendi tanto assim. Teria eu nascido prisioneira num corpo e numa vida que nunca pedi? Ou fui presa depois de ser tão horrível? Talvez nada disso importa. Suas origens não anulam o fato de que continuam aqui, perversas e más. Dizem que essas cordas são imaginárias. Válvule de escape, caverna para todos os meus medos. Não posso contradizer essa afirmação, mas novas perguntas surgem. Se estou apenas no campo abstrato e imaginário, por que o meu corpo de carne e sangue sofre?
Mas eu sei que um dia eu terei toda a liberdade que eu quiser. É essa a única corda que eu gosto - a da esperança. E veja só, aparentemente ela está um pouco mais forte hoje...


 

Larissa Rainey Copyright © 2012 Design by Antonia Sundrani Vinte e poucos