sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Internet, Indústria Cultural e Francis Ford Coppola

written by Larissa Rainey at 11:06
Eu não ia escrever sobre isso, tinha até começado um post e desistido. Mas me mandaram um link interessantíssimo, e não consegui me conter. Francis Ford Coppola - diretor de clássicos como Apocalipse Now e a trilogia O Poderoso Chefão - disse ao The 99 Percent coisas bem pertinentes sobre o assunto da pirataria:


"Nós precisamos ser espertos nesses assuntos. É preciso lembrar que há míseros cem anos, e olhe lá, os artistas trabalham com dinheiro. Artistas nunca tiveram dinheiro. Artistas tinham um patrono, seja ele o líder do estado ou o duque de algum lugar, ou a igreja, ou o papa. Ou eles tinham outro emprego. Eu tenho outro emprego. Eu faço filmes. Ninguém me diz o que eu tenho que fazer. Mas eu faço meu dinheiro na indústria do vinho. É ter um outro emprego e acordar às cinco da manhã para escrever seu roteiro. Essa ideia de que o Metallica ou qualquer outro cantor de rock tem de ser rico é algo que não necessariamente vai acontecer daqui para frente. Porque, como estamos entrando em uma nova era, talvez a arte seja gratuita. Talvez os estudantes estejam certos. Eles devem ter o direito de baixar músicas e filmes. Eu vou levar um tiro por dizer isso. Mas quem disse que a arte custa dinheiro? E, portanto, quem disse que os artistas têm que ganhar dinheiro? Nos velhos tempos, há 200 anos, se você fosse um compositor, o único jeito de ganhar dinheiro era viajando com a orquestra e sendo o condutor, para assim ser pago como um músico. Não havia registros. Não existiam royalties de registros. Então eu diria: “tente desconectar a ideia de cinema com a ideia de ganhar a vida e dinheiro”. Porque há soluções ao redor disso." - trecho traduzido aqui.

Na minha posição de aspirante a escritora que pretende um dia lançar um livro, eu discordo de certos aspectos do Coppola. Eu acho que artistas merecem sim, ser pagos. Afinal de contas, todo mundo merece uma vida digna e merece ter conforto e ter o que comer. O custo para fazer um filme é enorme, são milhares de pessoas envolvidas - desde os primeiros esboços do roteiro até o momento em que ele está em DVD, para ser alugado ou comprado. Essas pessoas deveriam ser pagas sim, por que não?
Mas sabe qual é o maior problema com a indústria cultural? Colocam um preço que nem todo mundo pode pagar - eu pelo menos não tenho condições para comprar todos os dvds de todos os filmes que eu gosto. Fora as distribuidoras fail que trazem produtos importados a preços abusivos para cá, fora a tonelada de conteúdo cultural que não chega até todos por meios "legais", por assim dizer. Aí vem a internet, deixa tudo disponível para todos, faz com que os horizontes de todos sejam ampliados... e agora querem cortar tudo isso? Existem mil bandas, mil filmes e mil séries que eu jamais conheceria se não fosse a internet - principalmente por eu ser brasileira. Devo ficar sem esse conteúdo e ser obrigada a assistir aquele lixo de novela das 8? E nem é esse o problema - a partir do momento que você conhece algo e realmente gosta, você invariavelmente vai procurar mais informação sobre essa coisa e vai fazer questão de comprar e apoiar o artista. E mesmo assim, acho que na maior parte das vezes que você procura um cd de um artista menos conhecido e encara preços idiotas, duvido que esse dinheiro vá mesmo para o artista. A Amanda Palmer disse há um tempo atrás no Twitter que se uma pessoa compra um cd físico de Dresden Dolls ou o primeiro da carreira solo, dificilmente ela ou o Brian veriam a cor do dinheiro - fica tudo para a gravadora. Mas se eu comprei um cd pra ajudar o artista... na verdade eu estou ajudando algum empresário que tá pouco se lixando pra Amanda ou pro Brian? 
Como o Coppola disse, existem soluções. O Bandcamp é uma ótima ferramenta em que o artista pode colocar o preço de seus discos ou ainda deixar livre para que o consumidor decida o preço. Isso começou com o In Rainbows, do Radiohead, e existem várias outras bandas que usam o mesmo sistema - principalmente bandas mais alternativas que não têm apoio de grandes gravadoras. Se a indústria cultural deixasse de ser burra e se unisse com os consumidores para chegar a uma solução criativa, seria um win-win imenso. Até porque, eles fecharam o Megaupload, mas quais outros milhares de servidores existem? Será uma guerra exaustiva, infantil e sem fim. Uma vez eu ouvi alguém dizer que a internet era uma hidra - corte uma cabeça, surgem mais três.
Mais uma coisa: eu ainda tenho uma situação mais privilegiada financeiramente - mas e quem não tem nem metade do que eu tenho? Essas pessoas devem ficar sem acesso à cultura porque os empresários querem ter carros e mansões de luxo? Até que ponto utilizar de outros meios para acessar à cultura é crime?

E agora vocês me dêem licença, vou terminar de ver Sherlock - que graças a Internet, eu posso ver.

1 comentários.:

Anônimo disse...

olha que legal, acabou citando até o texto que te mandei!

sobre os preços abusivos principalmente de coisas que vem de fora, eu posso dizer que parte é culpa do nosso governo, parte é culpa do cidadão. uma vez inclusive vi um artigo sobre o quão abusivos os preços de carros são aqui no brasil. e um dos grandes nomes da indústria automobilística disse que, além de grande parte disso ser imposto (como tudo nessa vida), o produto fica com o preço lá em cima porque sempre há quem compre. não é só o brasileiro, mas as pessoas com maior 'alcance' financeiro tem essa mania estranha de se vangloriar por ter pagado caro, por estar se ferrando pra pagar algo que, muitas vezes, não é tão necessário.

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