Quando um trio dinâmico se torna um trio pé no saco

É de vocês mesmos que eu tô falando. 

Vamos voltar um pouco no tempo para analisar essa família cinematográfica (in)feliz por completo.  

 

Tim Burton, após fazer o famoso Beetlejuice  em 1988, já começava a mostrar ao mundo as características básicas de sua direção: roteiros criativos, personagens esquisitos, atmosfera sombria, blá blá blá. Em 1990 foi a primeira vez que os olhinhos gótchycos de Tim Burton encontraram os de Johnny Depp - um ator em ascensão na época. Desta primeira troca de olhares sedutores, saiu o excelente Edward Mãos de Tesoura. Eu amo esse filme, ele é visualmente maravilhoso e a história é incrível. Tanto o Tim quando o Johnny saíram bem nesse filme - foi o filme que começou a deixar os dois com maior visibilidade. E foi o inicio de uma história de amor: Depp + Burton e Depp + Pó Branco em Excesso na Cara.

 

Quatro anos depois, Burton sentiu saudades do Depp e ocorreu então o primeiro repeteco: com Ed Wood, que é outro filme queridinho do meu coração. Inteiro em preto e branco, delicioso e engraçado. Não fez tanto sucesso quanto Mãos de Tesoura, mas é um filme muito bom. 

 

E em 1999, acontece mais um repeteco: A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça. Ainda a dupla Depp-Burton estava fresca na cabeça do público, e funcionou bem. Eu gosto bastante desse filme, que ainda conta com a Christina Ricci, Miranda Richardson (que está ótima) e Christopher Walken.

Mas em 2001 entrou o terceiro elemento - Helena Bonham Carter, no filme Planeta dos Macacos. Ainda não vi esse filme, então só poderei me calar e avançar na linha temporal burtepplenística (nunca mais vou usar esse termo, não se preocupe).

 

Em 2003, houve um pequeno repeteco Burton-Carter no incrível e supremo Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas. Esse filme tem um roteiro surpreendente, comovente, mágico e sensível. Acho que ele é um dos filmes que mais mostram o verdadeiro potencial do Burton - filmes visualmente lindos, com histórias igualmente cativantes.

O trio calafrio entrou em ação, finalmente, em 2005. E aí começa a minha teoria que a carreira do Depp começou a cair lentamente. 2005 nos trouxe o belíssimo A Fantástica Fábrica de Chocolate, que é um filme muito bom. Tem gente que prefere o filme antigo de 1971, mas como eu não vi ainda (cinéfila preguiçosa, magina!)  não posso falar muito. A versão do Burton é colorida e empolgante, mas não é a melhor atuação do Depp. A quantidade de pó branco que colocaram na cara do coitado, e os chiliques exagerados demais fizeram com que Depp mais parecesse uma versão bizarra do Michael Jackson do que o Willy Wonka em si. Na época eu ficava puta quando comparavam o Wonka do Depp ao Michael mas hoje percebo que existe sim uma similaridade. E a Helena faz um papel pequeno, nada extraordinário. Aliás, esqueci de falar: 2005 teve repeteco DUPLO. Não bastou A Fantástica Fábrica de Chocolate, teve também A Noiva Cadáver - que pra mim tem mais mérito. Eu simplesmente amo a história e as músicas de A Noiva Cadáver,  e adoro a voz do Johnny e da Helena. Acho que o repeteco foi mais justificável do que na Fábrica.

Vamos olhar o resto da filmografia do Burton de 2005 até agora? Vamos!

 

2007 - Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Johnny Depp com a cara cheia de pó branco? check. Helena Bonham Carter? check. Cenário sombrio? Check.)

2010 - Alice no País das Maravilhas (Johnny Depp com a cara cheia de pó branco? Check. Helena Bonham Carter? Check. Cenário sombrio? Check. Desastre? Check.)

E agora vamos olhar o filme que o Tim Burton está fazendo, com previsão de estréia em maio desse ano? 

2012 - Dark Shadows (Johnny Depp com a cara cheia de pó branco? Check. Helena Bonham Carter? check. Cenário sombrio? check, porque é um fodendo filme de vampiros. Desastre? Semi-check).

 

Entenderam porque se tornou um trio dinâmico pé no saco? Toda vez que se fala em Tim Burton, vem os nomes do Depp e da Helena. Toda vez, na mesma atmosfera. Enche a cara do Johnny de pó, deixa ele esquisitão, deixa a Helena esquisitona, se os dois estiverem fazendo um casal melhor. Por eu ser fã do Johnny, acreditem em mim quando digo que os melhores papéis dele NÃO FORAM em filmes do Tim Burton - e foram com filmes onde ele usava bem menos maquiagem na cara. E não olhe pra mim com essa cara de capitão Jack Sparrow. Amo Piratas do Caribe e  não nego, mas pra quem fez Mort Rainey (oi), Conde Rochester, J.M. Barrie e George Jung (A Janela Secreta, O Libertino, Em Busca da Terra do Nunca e Profissão de Risco, respectivamente), o Johnny consegue papéis bem melhores e bem mais interessantes. Engraçado que depois de 2005, poucos filmes do Johnny foram tão interessantes com outros diretores - justamente quando ele se entregou ao Burton por completo. Aí o gatuxinho vai lá e me presenteia com O Turista, não mereço essa vida.

Um apelo: parem. Apenas.