domingo, 29 de janeiro de 2012

Os Homens que Não Amavam as Mulheres

written by Larissa Rainey at 18:20
 Acho que já deu pra entender sobre o que é o post, né?

O livro

Os Homens que Não Amavam as Mulheres é a primeira parte da trilogia Millennium,  escrita pelo jornalista sueco Stieg Larsson. Em vida, Larsson foi um dos principais ativistas e jornalistas políticos da Suécia, tendo denunciado organizações neofascistas e racistas. Além de seus trabalhos em revistas como a Expo (do qual ele era editor em 1995), ele também fazia pesquisas independentes sobre a ala extremista de direita dos partidos suecos. Essa pesquisa resultou num livro chamado Extremhögern, lançado em 1991.  
Quando Larsson morreu de um infarto em 2004, descobriu-se que ele havia deixado manuscritos terminados de uma série de livros que ele escrevia após o trabalho, como distração, sem intenção de publicá-los até pouco antes de sua morte. Em 2005, foi lançado na Suécia a primeira parte, com o título Män som hatar kvinnor (Homens que odeiam mulheres). Mas no mercado britânico, foi lançado como The Girl with the Dragon Tattoo - e eu agradeço aos editores brasileiros por terem sido quase fiéis ao título original. Em 2006, foi lançada a segunda parte - Flickan som lekte med elden (A garota que brincava com fogo) e em 2007, a parte final - Luftslottet som sprängdes (literalmente, O castelo de nuvens que foi explodido. No Brasil, foi lançado como A Rainha do Castelo de Ar). Larsson já havia começado a escrever a quarta parte, e pretendia lançar 10 livros. Dá uma dor no coração em saber que deveriam ter mais livros...
Os Homens que não Amavam as Mulheres conta a história de Mikael Blomkvist, um jornalista que acaba confiando na fonte errada e ao escrever um artigo falso sobre o megaempresário Wennerström,  é condenado à prisão, a pagar uma multa enorme e vê sua credibilidade escorrendo pelo ralo. Então, ele é contatado por Dirch Frode - advogado das indústrias Vanger - que pede que Mikael visite Henrik Vanger, pois este tem uma proposta a fazer. 
Harriet Vanger, sobrinha de Henrik, desapareceu sem deixar vestígio algum 36 anos atrás. Henrik passou boa parte de sua vida procurando pela menina, e acredita firmemente que alguém da desgradável família Vanger a assassinou. E todo ano, no aniversário dele, manda flores emolduradas - como a própria Harriet fazia. Então, ele resolve contratar Mikael - enquanto este escreveria uma biografia dos Vanger, deveria investigar todos e descobrir o que aconteceu a Harriet. 
Quando Mikael percebe que a família Vanger é mais complicada do que imaginava, ele conclui que não conseguirá investigar tudo sozinho e precisaria de um assistente. É aí que a vida dele cruza com a de Lisbeth Salander. 
Lisbeth Salander é uma jovem incomum - uma hacker silenciosa e que sabe se proteger. Mesmo tendo 23 anos, ela está sob tutela do estado - e quando seu novo tutor a abusa sexualmente, ela dá um jeito de se vingar e conseguir o que quer. Lisbeth é uma das personagens mais interessantes que eu já li, e sua história fica cada vez mais complicada e interessante nos outros dois livros da trilogia. E o resto é spoiler, e eu não vou contar o que acontece porque quero que vocês leiam!
A maneira com que Larsson criou cada personagem é fantástica. Os personagens são completamente críveis, com defeitos e várias facetas. Blomkvist é um sedutor (que eu carinhosamente apelidei de José Mayer sueco), um péssimo pai, um péssimo marido, que não consegue viver sem Erika Berger - que também trabalha com ele na Millennium e mesmo sendo casada, relaciona-se com Blomkvist. Vamos conhecendo cada personagem aos poucos, a narrativa de Blomkvist e Salander se mistura, por assim dizer.
A cada descoberta de Blomkvist, ficamos mais curiosos para saber o que houve com Harriet Vanger. O realismo e a ousadia de Larsson - de narrar acontecimentos traumáticos sem papas na língua e sem eufemismos deixam evidente o talento dele como romancista e também como jornalista. É um daqueles livros que não dá pra não devorar - quando você percebe, já terminou o livro e não vê a hora de botar as mãos nos outros volumes da trilogia... E quando você termina a trilogia, sai com um vazio no peito.
E é claro que se tornou bestseller internacional, e é claro que seria adaptado para o cinema.

O filme - versão sueca, 2009


Em 2009, o diretor Niels Arden Oplev fez a primeira adaptação do romance, com Michael Nyqvist como Mikael Blomkvist (pois é, nomes parecidíssimos) e Noomi Rapace como Lisbeth Salander. Foi aclamado pela crítica e extremamente bem aceito pelos fãs da trilogia. Aliás, a produtora sueca Yellow Bird filmou a trilogia inteira, mas vou focar no primeiro (já que é o que será comparado no post). 
A versão sueca é fiel ao livro em alguns pontos: principalmente pela ousadia e pela falta de medo ao mostrar cenas explicitamente violentas - como a cena da vingança de Lisbeth contra seu tutor. Todos os atores estão completamente seguros em seu papel, e Noomi Rapace simplesmente arrasa como Lisbeth. A maneira com que ela absorveu Lisbeth é maravilhosa - Lisbeth não é apenas uma hacker de computador cheia de tatuagens e piercings. Ela é uma mulher que sofreu inúmeros traumas durante sua vida, tentou se defender de várias maneiras e nunca foi escutada. Por isso as roupas pretas, o couro, o cabelo curto, a tatuagem de dragão nas costas. E isso fica mais do que evidente na interpretação de Noomi - segura, confiante, e ao mesmo tempo frágil e silenciosa. Os gestos, os olhares... pura Lisbeth Salander.
Entretanto, a versão sueca peca pela falta de detalhes essenciais da história - por exemplo, pouco se vê da relação entre Mikael e Erika, Mikael e Cecilia Vanger, Mikael e a própria Lisbeth, Mikael e sua filha. O roteiro dá alguns "saltos" na história, o que é completamente compreensível para uma adaptação. Em algumas cenas, falta o dinamismo tão presente na obra de Larsson. Mas apesar de seus pequenos erros, é uma adaptação memorável e é prova de que é possível fazer uma boa adaptação sem um orçamento hollywoodiano.

O filme - versão americana, 2011


Quando fiquei sabendo que fariam uma adaptação americana de Os Homens que não Amavam as Mulheres, fiquei bem estressada. Eu não tinha assistido o sueco ainda, Daniel Craig não era o Mikael Blomkvist que eu imaginava, pensei que seria mais um daqueles remakes terríveis de Hollywood. Mas quando colocam o nome de David Fincher na história, a coisa fica bem mais interessante. Assisti a versão sueca ontem, e hoje terminei de ver a americana.
Não vou dizer que a americana é superior à sueca - até porque ele se baseia no romance, e não no filme. 
Com duas horas e meia de duração, o filme de Fincher é bem mais fiel ao livro e tem um roteiro fantástico. Os vários relacionamentos de Mikael são explorados, a investigação é mais profunda, não existe tanta pressa em narrar os acontecimentos. Na verdade, a versão americana já me ganhou pela sequência inicial, que é deliciosa e impecável - afinal de contas, a trilha sonora ficou por conta de Trent Reznor. Aliás, trilha sonora impecável e que combina extremamente bem com cada momento.
O Mikael de Craig é bem diferente do Mikael sueco - ele é mais sedutor, mais misterioso, bem Daniel Craig mesmo. São duas interpretações diferentes, mas que funcionaram bem em seus ambientes. Entretanto, não posso dizer que gostei tanto assim da Lisbeth de Rooney Mara. Tenho a impressão que utilizaram muita maquiagem para caracterizá-la, mas faltou experiência para Rooney. Senti que a Lisbeth era um pouco mais rasa, um pouco mais superficial. Não foi uma interpretação ruim - mas ainda prefiro a versão de Noomi.
Acho que Fincher - por mérito próprio ou mérito de um orçamento maior - conseguiu explorar mais as facetas do livro que nos fazem ficar presos nele. Mas ao mesmo tempo, faltou a ousadia da versão sueca. As cenas que deveriam ser mais violentas e explícitas são mais comportadas e recatadas - o que acaba sendo um defeito, principalmente no que se refere à relação de Lisbeth com seu novo tutor. 
Entendo porque está sendo um sucesso de crítica e inclusive indicado ao Oscar - é, realmente, um filme maravilhoso.  

Balanço Final

Não importa se você vai ler o livro, ou assistir o filme sueco ou o americano: histórias bem contadas serão bem contadas em qualquer linguagem. O livro tem uma narrativa bem jornalística; o filme sueco é ousado e sem embelezamentos e o filme americano é mais fiel ao livro - entretanto, peca pela pouca fidelidade ao "espírito" de certos momentos. Gosto dos dois filmes com suas peculiaridades e diferenças, e o livro é maravilhoso. Stieg Larsson, queria que você estivesse vivo para ver as belezas que fizeram com a sua história. 

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